Roma, 29 de out de 2016 às 13:00
Depois de um período de paz, supostamente pela visita do Papa Francisco à República Centro-africana há um ano, o país voltou a uma nova espiral de violência.
Em declarações ao Grupo ACI, o Bispo de Bangassou, Dom Juan José Aguirre Muñoz, denunciou que a guerrilha rebelde islamista Seleka e sua rival Antibalaka continuam violando os direitos humanos da população local.
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— CINU México (@CINUmexico) 26 de outubro de 2016
A guerrilha Seleka bloqueou “um corredor enorme na fronteira norte de Chade e na zona de Birao até Ndele, Kaga Bandoro, Bambari e Kouango. A via para Bangassou está bloqueada por centenas de barreiras, as zonas mineiras foram submetidas ao saque sistemático dos rebeldes Seleka e os não muçulmanos que vivem nestas regiões são submetidos a intimidações, raptos, saques e assassinatos”.
Sem precisar ir muito longe, disse o Bispo, “em 5 de outubro, em Kaga Bandoro, um grupo de Selekas atacou a diocese, as ONG próximas e o mercado. Morreram dezenas de pessoas e muitos ficaram feridos. A cidade ficou à beira do colapso”.
Dom Aguirre não hesitou em classificar esses recentes fatos de “crimes de guerra”. Mas, insiste que a violência não é exercida apenas pelos islamistas. Muçulmanos inocentes continuam sofrendo a violência da outra guerrilha importante do país, os Antibalaka, formada por não muçulmanos.
“Muitos muçulmanos que fugiram de várias regiões nos primeiros meses de 2014 não voltaram para a África Central. Continuam amontoados em campos de deslocados na fronteira com o Chade. Das 24 mesquitas que havia na cidade de Bangui, 23 foram totalmente demolidas”.
“É como se tivéssemos caído novamente no labirinto do qual o Papa Francisco nos ajudou a sair”, lamenta o Prelado. Trata-se de um “‘toma lá dá cá’ que desgasta as forças, debilita todos os esforços para a coesão e o diálogo e neutraliza muitas esperanças para o futuro”.
Além disso, também estão atuando no país outras forças guerrilheiras procedentes do exterior, como o Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), cujo líder, Joseph Kony, é o criminoso de guerra mais procurado de todo o continente africano, após protagonizar vários episódios de extermínio contra a população ugandesa.
“Todo o leste do país, a região da diocese de Bangassou, está nas mãos dos criminosos de Joseph Kony que nos pisoteiam a vontade”, explica Dom Aguirre.
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Há um ano, o Papa Francisco abriu a Porta Santa da catedral de Bangui. A capital da República Centro-africana, assim como todo o país, atravessava uma longa etapa de violência. Aquele gesto do Santo Padre – a Porta Santa de São Pedro de Roma foi aberta uma semana depois – durante sua viagem apostólica à África, marcou o início do Ano Santo da Misericórdia. Sua presença foi uma poderosa mensagem de paz e de concórdia, que permitiu um período de paz que durou vários meses.
O Bispo de Bangassou assinala que aquela viagem apostólica “foi como um parêntese mágico. Mas o balanço um ano após sua visita é agridoce”.
A presença do Pontífice no país “provocou 4 meses de sonho onde todos acreditávamos que, destruídas as barreiras e suprimidas as linhas vermelhas, o país começaria a mudar, a sair do labirinto no qual primeiramente islamistas radicais (Selekas) e posteriormente forças não muçulmanas cheias de raiva (Antibalaka) nos submeteram”, assegura.
“Foram 4 meses nos quais podíamos falar, raciocinar, dar comícios e canalizar eleições democráticas”.
Nessas eleições, foi eleito o presidente Faustin Archange Toadera. “Depois da euforia inicial, o fenômeno Toadera começou a entrar no nevoeiro: a sombra de governos que formam e empurram os grupos islamistas radicais com seus petrodólares chegou a todo o país”.
A República Centro-africana parece ter sofrido um abandono da comunidade internacional. Nem as forças deslocadas pela ONU (12.000 capacetes azuis) parecem capazes de canalizar a situação de desestabilidade.
“Os capacetes azuis são ineficazes, apesar dos milhões que as Nações Unidas gastam a cada dia com eles”. A situação é tão desesperada que, “em 24 de outubro, a cidade de Bangui se tornou uma ‘cidade morta’. As pessoas pediam que os 12.000 capacetes azuis saíssem do país. Houve repressões, violências e 4 vítimas mortais entre a multidão, além de 10 feridos entre as forças da ONU”, relata o Prelado.
O Bispo de Bangassou denuncia a instrumentalização da religião pelos criminosos e guerrilheiros. “O conflito centro-africano, em termos gerais, é um conflito entre muçulmanos e não muçulmanos, mas no fundo há outras razões diferentes das religiosas”, indica.
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— ACI Digital (@acidigital) 27 de outubro de 2016