O Papa Francisco fez ontem uma dura condenação contra a corrupção, indicando que é a pior chaga social, escraviza o homem e o converte em adorador do “deus” dinheiro e seguidor do diabo.

Em seu discurso aos membros da Associação de Empresários Católicos, durante uma audiência no Palácio Apostólico, o Papa refletiu sobre três desafios que devem assumir: “o desafio de usar bem o dinheiro, a honestidade e a fraternidade”.

Sobre o primeiro, o Pontífice assinalou que “o dinheiro existe para ‘servir’, não para ‘governar’. O dinheiro é apenas um instrumento técnico de intermediação, de comparação de valores e direitos, de cumprimento das obrigações e de economia. Assim como toda técnica, o dinheiro não tem um valor neutro, mas adquire valor segundo a finalidade e as circunstâncias nas quais é usado”.

Para o Papa, “quando se afirma a neutralidade do dinheiro, se está caindo em seu poder. As empresas não devem existir para ganhar dinheiro, embora o dinheiro sirva para medir seu funcionamento. As empresas existem para servir”.

Neste sentido, o Santo Padre insistiu na urgência de “recuperar o sentido social da atividade financeira e bancária, com a melhor inteligência e criatividade dos empresários”. Isso “supõe o risco de complicar a vida, tendo inclusive que renunciar a certas ganâncias econômicas”.

“O crédito deve ser acessível para a moradia das famílias – explicou Francisco –, para os pequenos produtores e empresários, para os camponeses, para as atividades educativas, especialmente a nível primário, para a saúde pública, para o melhoramento e a integração dos núcleos urbanos mais pobres”.

Pelo contrário, “uma lógica crematística do mercado faz com que o crédito seja mais acessível e mais barato para quem possui mais recursos econômicos; e mais caro e difícil para quem tem menos, até o ponto de deixar as pessoas mais pobres da população nas mãos de agiotas sem escrúpulos”.

“Do mesmo modo – continuo u–, a nível internacional, o financiamento dos países mais pobres se converte facilmente em uma atividade agiota. Este é um dos grandes desafios para o setor empresarial e para os economistas em geral, que são chamados a conseguir um fluxo estável e suficiente de crédito que não exclua ninguém e que possa ser amortizável em condições justas e acessíveis”.

O Papa acrescentou que a intervenção do Estado também é necessária “para proteger certos bens comunitários e assegurar a satisfação das necessidades humanas fundamentais”.

A corrupção é a pior chaga da sociedade

A respeito do desafio da honestidade, o Santo Padre condenou a corrupção. “A corrupção é a pior chaga da sociedade. É a mentira de procurar o proveito pessoal ou do próprio grupo sob as aparências de um serviço à sociedade. É a destruição do tecido social sob as aparências do cumprimento da lei. É a lei da selva disfarçada de aparente racionalidade social. É a fraude e a exploração dos mais fracos ou menos informados. É o grande egoísmo, oculto em uma aparente generosidade”.

Francisco indicou que “a corrupção é gerada pela adoração do dinheiro e volta para o corrupto prisioneiro dessa mesma adoração. A corrupção é uma fraude da democracia e abre as portas a outros males terríveis como a droga, a prostituição e o tráfico de pessoas, a escravidão, o comércio de órgãos, o tráfico de armas etc. A corrupção é fazer-se seguidor do diabo, pai da mentira”.

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“Uma das condições necessárias para o progresso social é a ausência de corrupção”, insistiu. “Pode acontecer que os empresários se sintam tentados a ceder às tentativas de chantagem ou de extorsão, justificando-se com o pensamento de salvar a empresa e sua comunidade de trabalhadores, ou pensando que assim farão com que a empresa cresça e que um dia poderão se livrar dessa chaga”.

Além disso, “pode acontecer que caiam na tentação de pensar que se trata de algo que todos fazem e que pequenos atos de corrupção destinados a obter pequenas vantagens não são importantes. Qualquer tentativa de corrupção, ativa ou passiva, é começar a adorar o deus dinheiro”.

Responsabilidade com os refugiados e migrantes

O Pontífice sublinhou a responsabilidade que os empresários têm de ajudar as pessoas que são obrigadas a abandonar suas casas, seus países, suas famílias, a fim de buscar uma vida melhor em outro lugar ou fugir das guerras e da fome.

O Papa pediu ajuda aos empresários para que, “por uma parte, tentem convencer os governos para que renunciem qualquer tipo de atividade bélica”. Também pediu que “colaborem na criação de fontes de trabalho digno, estáveis e abundantes, tanto nos lugares de origem dos migrantes e refugiados como nos locais de chegada e, nestes, tanto para a população local como para os imigrantes. Deverão fazer com que a imigração continue sendo um fator importante de desenvolvimento”.

Por último, o Santo Padre destacou que “a atividade empresarial deve sempre incluir o elemento da gratuidade. As relações de justiça entre dirigentes e trabalhadores devem ser respeitadas e exigidas por todas as partes; mas, ao mesmo tempo, a empresa é uma comunidade de trabalho na qual todos merecem um respeito e um apreço fraternal dos superiores, colegas e subordinados”.

Francisco recordou a obrigação que os empresários têm de assegurar que as suas companhias sejam respeitosas com a comunidade em meio a qual desenvolvem as suas atividades.

“O respeito ao outro como irmão deve se estender também à comunidade local onde a empresa está localizada e, em certo modo, todas as relações jurídicas e econômicas da empresa devem estar moderadas, envolvidas em um ambiente de respeito e de fraternidade”, disse.

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