LONDRES, 22 de nov de 2016 às 07:00
O canonista Pe. James Bradley, que pertence ao Ordinariato pessoal do Reino Unido, destacou que os documentos do Concílio Vaticano II demonstram que a liturgia e a aproximação de mais fiéis anglicanos à comunhão plena com a Igreja Católica estão completamente relacionadas.
Os ordinariatos são as jurisdições eclesiásticas criadas por Bento XVI para acolher centenas de milhares de anglicanos que decidiram ingressar na comunhão plena com a Igreja Católica desde 2011.
“Em primeiro lugar está a visão ecumênica do Concílio. Como argumentei em outra ocasião, o propósito principal do Culto Divino é a manutenção do patrimônio anglicano na Igreja Católica. O missal do Culto Divino, em suas próprias palavras, ‘expressa e preserva para o culto católico o digno patrimônio litúrgico anglicano, entendido como aquilo que nutriu a fé católica ao longo da história da tradição anglicana e impulsionou aspirações para a unidade eclesiástica’”, disse o sacerdote.
Em um artigo publicado pelo ‘Catholic Herald’, o Pe. Bradley afirma que o que comenta significa “uma encarnação não de princípios litúrgicos, mas ecumênicos. E uma leitura atenta dos documentos conciliares demonstra que estas duas ideias frequentemente estão em um conjunto”.
Por exemplo, sustentou que o decreto Unitatis Redintegratio (UR), sobre o ecumenismo, faz inúmeras referências à liturgia sagrada.
Entre elas, ressalta que as comunidades eclesiais separadas da comunhão plena da Igreja Católica têm uma forma de adoração que às vezes mostra “traços notáveis da liturgia que partilharam com a Igreja de antigamente”.
Em segundo lugar, explica o Pe. Bradley, encontra-se a nova flexibilidade estrutural proposta pelo Concílio Vaticano II.
“O decreto sobre a vida e o ministério dos sacerdotes, Presbyterorum ordinis, sugere que a melhor distribuição dos sacerdotes poderia ser determinada por ‘dioceses especiais’ ou prelaturas pessoais (PO 10)”.
Durante a redação do Unitatis Redintegratio, prossegue o Pe. Bradley, “o Arcebispo de Zagreb, Franjo Šeper, que como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé supervisaria posteriormente a Disposição Pastoral para os anglicanos nos anos 1980, mencionou sobre manter a integridade estrutural das Igrejas Orientais com a condição de que aceitem a primazia: ‘Deve-se permitir conservar a estrutura que têm atualmente. Não deve haver latinização, especialmente em assuntos litúrgicos’”.
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“Não é difícil ver como este princípio foi levado primeiramente à Disposição Pastoral e, agora, aos Ordinariatos. E, deste modo, se esta vida litúrgica distintiva for essencial para o propósito dos Ordinariatos pessoais, a sua estrutura também será; uma coisa tem sentido com a outra”, assegurou o presbítero.
Finalmente, o Pe. Bradley incentivou todos os católicos a descobrirem o rico patrimônio litúrgico anglicano “que agora está felizmente em casa nas comunidades do Ordinariato”.
“Ao mesmo tempo lhes diria: incentivem os Ordinariatos a conseguirem uma articulação mais clara desta visão”.
“Alguém que veja a liturgia e as estruturas da Igreja orientadas ao mesmo fim. Desta maneira, não só enriquecerá a vida litúrgica da Igreja, mas a sua unidade se articulará mais plenamente: um sinal profético da realização do Reino de Deus”, concluiu.
A comunhão anglicana sofreu uma importante ruptura interna depois que algumas comunidades suas aprovaram a ordenação de bispos homossexuais e mulheres “bispos”. Em novembro de 2009, o então Papa Bento XVI publicou a constituição apostólica Anglicanorum coetibus, através da qual estabelece o modo como os anglicanos que quisessem pudessem entrar em comunhão plena com a Igreja Católica.
Em 15 de janeiro de 2011, a Santa Sé anunciou a criação oficial do Ordinariato Pessoal de Nossa Senhora de Walsingham para a Inglaterra e o País de Gales, como “uma estrutura canônica que permite uma reunião corporativa, de tal modo que os ex-anglicanos pudessem entrar em comunhão plena com a Igreja Católica preservando elementos do seu patrimônio anglicano".
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— ACI Digital (@acidigital) 8 de outubro de 2016