O aborto, o casamento gay e os ataques à liberdade religiosa são realidades que o Uruguai, Chile e Argentina têm em comum e que desafiam diretamente a família e o direito inalienável à vida de toda pessoa. O Grupo ACI conversou com alguns representantes da sociedade civil para conhecer esta realidade mais de perto e propor alternativas a respeito.

Uruguai: Aborto e ausência de Deus

No Uruguai, o aborto está despenalizado até as 12 semanas de gravidez e, segundo cifras de 2015 do Ministério de Saúde Pública, são praticados aproximadamente 780 abortos por mês.

A ideologia de gênero teve mais força em 2013, quando o Uruguai se tornou o segundo país na América Latina a autorizar o casamento gay e, em 2014, com a Guia “Educação e Diversidade Sexual”, na qual incentivam a população a “sair do armário”, “desconstruir o modelo tradicional de família e favorecer a construção de novos modelos”.

Além disso, o Estado vive um profundo processo de secularização há mais de 100 anos, o qual constitui um desafio para os católicos que procuram manifestar a sua fé na esfera pública.

Um exemplo disso é a solicitação da Igreja em Montevidéu para instalar uma imagem da Virgem Maria em um lugar público, algo que causou reclamações de algumas pessoas que asseguram que afetará a laicidade do país.

Frente a este panorama, a secretária executiva da Comissão Nacional para a Pastoral Familiar e a Vida do Episcopado do Uruguai, Gabriela López, advertiu sobre as “correntes ideológicas, educativas e pressões internacionais muito fortes sobre nossos países para que tomemos determinadas formas, programas e metas, que muitas vezes são contra o que a Igreja propõe”.

“Todos estes anti-valores propostos pelo Estado evidentemente geram uma quebra e, quando a Igreja começa a dizer estas coisas, pedem para que fique calada e volta à esfera privada”, disse ao Grupo ACI.

“Hoje não há laicidade, mas laicismo. A laicidade respeitava todas as crenças, mas hoje é a absoluta ausência de religião e, além do mais, eu diria que é até anticlerical”, afirmou López.

Apesar disso, “vem sendo criado a nível social um movimento, não só católico, que vê que isto não nos convém e tentamos levar avante esta sociedade de uma maneira distinta, educando em virtudes, em valores, promovendo outros critérios, como o papel irrenunciável dos pais como os primeiros educadores”, observou.

Chile: Agenda ideológica e ataque anticatólicos

No Chile atualmente é discutido o projeto de despenalização do aborto, impulsionado pelo governo de Michelle Bachelet. Além disso, a ideologia de gênero segue avançando depois da aprovação em 2015 do Acordo de União Civil, que regula os efeitos jurídicos da convivência entre casais do mesmo sexo e heterossexuais.

Embora a Constituição defenda o direito “preferencial” dos pais de educarem os seus filhos, nos últimos anos existe uma forte pressão para suprimir esta faculdade, mediante estratégias que incluem a promoção do livro ‘Nicolás tiene dos papas’ (Nicolás tem dois pais), promovido pelo lobby gay e distribuído nas escolas infantis públicos do país.

No âmbito da liberdade religiosa, além dos constantes ataques às igrejas durante manifestações cidadãs em Santiago, onze templos católicos e um seminário foram incendiados no sul do Chile somente neste ano, na região do histórico conflito mapuche, nas mãos de alguns extremistas que consideram que a Igreja faz parte do Estado, do qual exigem a devolução das suas terras.

Para o Pe. Francisco Javier Astaburuaga, Doutor em Direito Canônico da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, “o fenômeno da secularização manifesta com todas as leis contra a família e a vida promovida especialmente por governos socialistas e liberais nos últimos 40 anos”.

“Outro aspecto, grave ao meu ver, é tentar encurralar a Igreja Católica às ‘sacristias’ dos templos, evitando deste modo que a mensagem de Cristo seja anunciada”, disse o sacerdote chileno ao Grupo ACI.

Por outro lado, “quando se priva da formação religiosa ou esta se torna muito difícil, as futuras gerações vão perdendo o sentido de Deus. E quando se perde o sentido de Deus, perdem o respeito pela dignidade da pessoa humana e promovem leis a favor do aborto, do consumo de maconha e da ideologia de gênero”.

Argentina: Ideologias por trás de um rosto populista

O aborto na Argentina é permitido nos casos de risco de vida da mulher, violação, ou por um atentado contra o pudor. Por outro lado, o país conta com a lei de “casamento igualitário”, “divórcio expresso” e outras leis sobre esterilização, procriação artificial, identidade de gênero, “morte digna” (eutanásia), entre outras.

Em relação à educação, em maio de 2010, o Ministério de Educação apresentou os “Cadernos ESI” (Educação Sexual Integral), dirigidos a todos os níveis de formação, com evidente conteúdo de ideologia de gênero e ofensas ao pudor de alunos e docentes.

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A respeito da fé, os templos católicos foram alvo de profanações e ataques durante marchas feministas.

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Além disso, em outubro deste ano, a morte suspeita do Pe. Heraldo Viroche, que denunciou em suas homilias grupos de narcotraficantes, abriu um sério debate sobre o poder da máfia no país e os perigos para aqueles que a combatem.

Para o advogado pela faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires e Doutor em Ciências Jurídicas, Jorge Nicolás Lafferriere, esta situação “expõe uma ordem legal que se separa profundamente da visão do homem e da sociedade fundada na lei natural e que também anima a cosmovisão cristã”.

Disse também que a defesa da liberdade religiosa é “um dos desafios mais atuais dos próximos tempos”, devido ao surgimento de iniciativas que procuram “impor visões únicas e silenciar quem dissente com o discurso hegemônico individualista e reducionista que muitas vezes impõe a ideologia de gênero ou o paradigma tecnocrático”.

“É necessária uma fé mais madura e disposta a ser sinal de contradição, de forma pacífica e inteligente, assumindo uma lógica pascal”, disse o advogado ao Grupo ACI.

Por sua parte, o Pe. Ruben Francisco Bellante, Delegado episcopal para a pastoral de comunicação da Arquidiocese de Rosário, explicou que nos últimos 20 anos as ideologias conseguiram entrar nos governos “por trás de um rosto populista, igualitarismo, integração e todos outros discursos e relatos vendidos, iniciaram uma corrupção, não somente a nível econômico, mas na alma dos argentinos”.

Isto causou um “desprezo a tudo o que está relacionado com o institucional, onde a Igreja também entra, e tudo o que supostamente defende, a vida, a pessoa, sem perceber tudo o que a Igreja trabalhou nos direitos humanos e na igualdade das pessoas. Isso parece ser ridicularizado e só se vê um lado escuro”, disse o sacerdote ao Grupo ACI.

Acima de tudo isto, o que um católico pode fazer?

O Pe. Sebastián Correa, Diretor do Centro de Estudos Católicos no Chile, compartilhou com o Grupo ACI 4 conselhos para que os católicos possam enfrentar a secularização.

1. Estar informados

“Hoje em dia os católicos não têm o direito de estar desinformados”, disse o Pe. Correa, acrescentando que os meios de comunicação estão para informar “o que está acontecendo e quem está impulsionando cada uma das ideologias que estão por trás, entre outros temas”.

2. Comprometer-se com a realidade

“Também comprometer-se com tantas pessoas que são vítimas destas ideologias, porque lhes causam confusão, lhes mentem diretamente e os desumaniza, pois o que a secularização está trazendo é um processo de desumanização”, sustentou o sacerdote.

“Por isso, o católico deve se comprometer com a verdade de Jesus Cristo e com os valores que desprende para a sociedade. Se isso significa defendê-los publicamente e sair em uma marcha deverá fazê-lo, se implica entrar em diferenças com pessoas próximas é necessário estar disposto”, acrescentou.

3. Não ter medo

“O que querem é que tenhamos medo e vergonha por ser católicos, por isso devemos fazer o contrário e viver com liberdade”, sublinhou.

4. Estar alegres

“É necessário viver com uma profunda liberdade a alegria de ser cristão e que isso nos leve a sair ao mundo com confiança em Deus, sabendo que Ele é quem sustenta toda a realidade e, como Ele disse, ‘não deverá temer àqueles que podem matar o corpo’”, concluiu o Pe. Correa.

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