O motivo da longa caminhada dos magos a Belém é “adorar o Rei recém-nascido. Ver e adorar são duas ações que sobressaem na narração evangélica: vimos uma estrela e queremos adorar”, afirmou o Papa Francisco durante a sua homilia da Missa da Solenidade da Epifanía do Senhor, na qual assinalou que estes sábios vindos do Oriente expressam assim “a nostalgia de Deus” que todo homem tem.

Na Basílica de São Pedro, o Santo Padre disse que os magos “nos dão, assim, o retrato da pessoa que acredita, da pessoa que tem nostalgia de Deus; o retrato de quem sente a falta da sua casa: a pátria celeste. Refletem a imagem de todos os seres humanos que não deixaram, na sua vida, anestesiar o próprio coração”.

O Pontífice explicou que era esta nostalgia “que impelia o velho Simeão a ir ao Templo todos os dias, tendo a certeza de que a sua vida não acabaria sem ter nos braços o Salvador. Foi esta nostalgia que impeliu o filho pródigo a sair de uma conduta autodestrutiva e procurar os braços de seu pai. Era esta nostalgia que sentia no seu coração o pastor, quando deixou as noventa e nove ovelhas para ir à procura da que se extraviara, e foi também o que sentiu Maria Madalena na madrugada do Domingo de Páscoa, fazendo-a correr até ao sepulcro e encontrar o seu Mestre ressuscitado”.

“A nostalgia de Deus tira-nos para fora dos nossos recintos deterministas, que nos induzem a pensar que nada pode mudar”, sublinhou.

Francisco destacou o papel da estrela de Belém em todos os acontecimentos que iam acontecer.

“Estes homens viram uma estrela, que os pôs em movimento. A descoberta de algo fora do comum, que aconteceu no céu, desencadeou uma série inumerável de acontecimentos. Não era uma estrela que brilhou exclusivamente para eles, nem possuíam um DNA especial para a descobrir. Como justamente reconheceu um Pai da Igreja, ‘os Magos não se puseram a caminho porque tinham visto a estrela, mas viram a estrela porque se tinham posto a caminho’”, assinalou.

Estes homens, acrescentou o Papa, “mantinham o coração fixo no horizonte, podendo assim ver aquilo que lhes mostrava o céu, porque havia neles um desejo que a tal os impelia: estavam abertos a uma novidade”.

Nos reis magos, como em outros crentes, surgiu a nostalgia de Deus. “Esta nostalgia santa de Deus brota no coração que acredita, porque sabe que o Evangelho não é um acontecimento do passado, mas do presente. A nostalgia santa de Deus permite-nos manter os olhos abertos contra todas as tentativas de restringir e empobrecer a vida. A nostalgia santa de Deus é a memória fiel que se rebela contra tantos profetas de desgraça. É esta nostalgia que mantém viva a esperança da comunidade fiel que implora, semana após semana, com estas palavras: ‘Vinde, Senhor Jesus!’”.

“A nostalgia de Deus é a disposição que rompe com inertes conformismos, impelindo a empenhar-nos na mudança que anelamos e precisamos. A nostalgia de Deus tem as suas raízes no passado, mas não se detém lá: vai à procura do futuro”.

“O fiel ‘nostálgico’ vai à procura de Deus, como os Magos, nos lugares mais recônditos da história, pois está seguro, em seu coração, de que lá o espera o seu Senhor. Vai à periferia, à fronteira, aos lugares não evangelizados, para poder encontrar-se com o seu Senhor; e não o faz, seguramente, com uma atitude de superioridade, mas como um mendigo que se dirige a alguém aos olhos de quem a Boa Nova é um terreno ainda a explorar”.

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O Santo Padre colocou em contraposição a atitude aberta dos reis magos com a atitude fechada do rei Herodes, o qual, apesar de estar a pouca distância de Belém, não foi capaz de ver o que estava ocorrendo.

“Aqueles homens vieram do Oriente para adorar, decididos a fazê-lo no lugar próprio de um rei: no Palácio. Aqui chegaram eles com a sua busca; era o lugar idôneo, porque é próprio de um rei nascer em um palácio, ter a sua corte e os seus súditos”, indicou Francisco.

“E foi lá precisamente onde começou o caminho mais longo que tiveram de fazer aqueles homens vindos de longe. Lá teve início a ousadia mais difícil e complicada: descobrir que não se encontrava no Palácio aquilo que procuravam, mas estava em outro lugar: e não só geográfico, mas também existencial. Lá não veem a estrela que os levava a descobrir um Deus que quer ser amado, e isto só é possível sob o signo da liberdade e não da tirania; descobrir que o olhar deste Rei desconhecido – mas desejado – não humilha, não escraviza, não aprisiona”.

“Descobrir que o olhar de Deus levanta, perdoa, cura. Descobrir que Deus quis nascer onde não o esperávamos, onde talvez não o quiséssemos; ou onde muitas vezes o negamos. Descobrir que, no olhar de Deus, há lugar para os feridos, os cansados, os maltratados e os abandonados: que a sua força e o seu poder se chamam misericórdia. Como é distante, para alguns, Jerusalém de Belém!”.

O Papa assinalou que “Herodes não pôde adorar, porque não quis”, porque rendia culto a si mesmo e buscava que o adorassem. “Nem sequer os sacerdotes puderam adorar, porque sabiam muito, conheciam as profecias, mas não estavam dispostos a caminhar nem a mudar”, acrescentou.

Finamente, disse que em Belém “havia uma promessa de novidade” e os reis magos “puderam adorar, porque tiveram a coragem de caminhar e, prostrando-se diante do pequenino, prostrando-se diante do pobre, prostrando-se diante do inerme, prostrando-se diante do insólito e desconhecido Menino de Belém, descobriram a Glória de Deus”.

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