Um vídeo no qual uma pastora de uma igreja evangélica quebra imagens de santos católicos – entre eles uma de Nossa Senhora Aparecida – gerou repercussões nas redes sociais nos últimos dias no Brasil. Frente a isso, Pe. José Eduardo de Oliveira, da Diocese de Osasco (SP), recordou que “não precisamos nos chocar com esse fato, que desgraçadamente é tão corriqueiro, e cujo ridículo só não supera aos ridículos que estes mesmos fazem”.

As cenas mostram uma mulher, identificada como pastora Zélia, de Botucatu (SP), quebrando a imagem com um martelo, em uma cerimônia da igreja evangélica. Enquanto ela destrói a imagem, outras pessoas pronunciam frases como “Essa obra que foi feita pelas mãos do inimigo agora está sendo quebrada em nome de Jesus”, “Não aceito outro Deus”.

Na quinta-feira, a pastoral Zélia concedeu uma entrevista à Rádio Municipalista de Botucatu e à Agência 14 News, na qual pediu desculpas apenas pelo vazamento do vídeo.

“Peço desculpa pelo vídeo porque eu sou seguidora da palavra. Em nenhum momento eu pensei em ofender o Brasil, mas você sabe como é a internet. Vocês sabem como é o povo”, declarou.

Ela reforçou o pedido de desculpas “em nome de Jesus. Como eu tenho Deus no meu coração eu peço desculpas e peço que vocês parem. Porque sou seguidora da palavra e como seguidora da palavra eu tenho que honrar a palavra do meu Deus. E ele diz no livro que nós não devemos fazer para nós imagens de fundição e nem adorá-las”, acrescentou.

Em nota, o Conselho Municipal de Pastores da Cidade de Botucatu disse não apoiar a prática e pediu perdão aos católicos. O texto, assinado pelo secretário do conselho, Paulo Cruz, afirma que “o Conselho de Pastores da Cidade de Botucatu não esteve envolvido e nem apoia uma prática de intolerância religiosa”.

“Fazendo dessa nota um pedido de perdão aos nossos irmãos e amigos católicos que se sentiram ofendidos com o vídeo de uma prática isolada que está circulando nas redes sociais”, acrescenta.

Após a repercussão do caso, Pe. José Eduardo, Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma), publicou uma reflexão em seu Facebook intitulada “A Crente quebra-santo”. No texto, indica que “qualquer padre brasileiro já está acostumado com cenas como essas”.

“Basta o fulano se ‘converter’ para qualquer desses grupos e se transforma num quebra-santo. Sim, há aqueles mais educados que deixam as imagens nas portas das Igrejas ou que as jogam num lugar mais digno. Mas, parafraseando um corinho-reteté cantado nessas garagens de fogo, ‘a ordem é pra quebrar’”, escreve.

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O sacerdote explica ainda que esta realidade não é apenas dos dias atuais. “Desde os tempos de Lutero e Calvino – afirma –, os protestantes se prodigalizaram por seu ódio iconoclasta”.

Segundo ele, “a teologia, aqui, é totalmente descartável: vai desde a pregação de que por trás de cada imagem há um demônio”, “até a acusação anti-católica de que somos idólatras”.

Para o sacerdote, “há pouco a fazer” frente a esta situação. Ele sublinha que “somos católicos” e que “nossa vocação é a unidade, é congregarmos pessoas, é criamos sinfonias com diferenças”.

Por fim, declara que “não precisamos nos chocar com esse fato, que desgraçadamente é tão corriqueiro, e cujo ridículo só não supera aos ridículos que estes mesmos fazem, ridículos que hoje não são mais ocultos sob o curioso véu do mistério, mas são exibidos publicamente, em rede nacional, em suas próprias cadeias de TV”.

“Esse fato é apenas um entre tantos que cairão no vazio, um exemplar entre muitos de uma crente quebra-santo”, conclui.

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