Roma, 14 de jan de 2017 às 05:00
A progressiva libertação das aldeias nos arredores de Mossul (Iraque) ocupadas pelo Estado Islâmico podem ter levado a pensar que os cristãos poderiam voltar para as suas casas imediatamente e, embora queiram fazê-lo, isto não é tão simples como parece ser e, inclusive, é provável que efetivamente isto não ocorra.
O Grupo ACI falou a respeito deste tema em uma entrevista concedida no Iraque, com o Pe. Georges Jahola, a quem o Arcebispo de Mossul, Dom Youhanna Boutros Moshe, encarregou a missão de pensar e organizar o regresso dos cristãos à cidade de Qaraqosh.
O Pe. Jahola – natural desta cidade, que antes da chegada dos jihadistas era a maior cidade cristã do Iraque – contou que junto com um grupo de jovens voluntários está realizando uma documentação com fotografias das moradias de Qaraqosh para saber com precisão qual é a situação atual, a fim de determinar se realmente poderão voltar e indicou que “não há coisas concretas que assegurem o futuro”.
O presbítero disse que os jovens estão muito entusiasmados com este projeto, “mas também vivem a realidade, também respondem à realidade com suas famílias e outras coisas. Eu animo todos quando perguntam ‘Quando voltamos?’. Respondo: ‘Não sei’, porque na verdade é uma coisa muito complicada”.
“Eu digo às pessoas que estamos trabalhando para ter uma vida melhor. Não sei se conseguiremos, não é uma promessa, mas lhes dou uma palavra de coragem e de esperança para o futuro”, expressou o sacerdote.
Portanto, segundo explicou, a luta dos cristãos iraquianos agora será pelo futuro e pela sobrevivência.
“Alguém me dizia: ‘Mas as possibilidades são poucas’, e eu respondi que se houver 1% de probabilidade para ter um futuro e trabalhar por ele para nossa gente, eu faço. Com isto quero dizer que a responsabilidade pelo futuro terá que ser provada. Tomara que consigamos. É melhor tentar do que estar sentado sem fazer nada. É uma questão de consciência”, manifestou ao Grupo ACI.
O Pe. Jahola assinalou que no Iraque “a presença da Igreja é muito forte porque se espera tudo da Igreja. E hoje também dizem: ‘Esperamos a aprovação de vocês para poder voltar’. Nós, sacerdotes, Igreja, não podemos falhar quando digamos: ‘Hoje vamos’”.
Atualmente, o sacerdote está em Ankawa, uma cidade localizada ao norte de Erbil (Curdistão iraquiano), onde a maioria dos cristãos de Qaraqosh e da planície de Nínive vivem como refugiados, depois que o Estado Islâmico tomou as suas cidades em 2014.
“Há cerca de 50 mil cristãos aqui. É como se tivéssemos outra cidade de Qaraqosh”, disse.
Em seguida, comentou que depois do começo da ofensiva de Mossul – o reduto do Estado Islâmico no Iraque – em outubro do ano passado e a progressiva libertação das aldeias cristãs, “muitos cristãos querem voltar, mas há outros que perderam a esperança ao ver suas casas destruídas. Notamos que nas últimas semanas muitas famílias deixaram o país, embora estas aldeias fossem libertadas, porque não veem nenhum sinal positivo para o futuro”.
Em relação ao respeito pela fé dos cristãos no país, o Pe. Jahola esclareceu que sempre existiu respeito, inclusive antes da chegada do ISIS, e explicou que a fé não “se trata somente de realizar cerimônias, orações, mas deve estar na vida cotidiana” e nela têm contato com os extremistas muçulmanos e vizinhos que os traíram. “O mal, o mal da sua mentalidade, ainda existe e ninguém o impediu”, lamentou.
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“O cristão procura a convivência, que é tudo o que fizemos durante estes anos, mas ela não funcionou. Algo falhou. Então, nós procuraremos outra solução. É provável que o governo iraquiano não responda. Assim, é necessário fazer um apelo à comunidade internacional se quiserem que os cristãos permaneçam aqui”.
Acrescentou que com o estilo de vida proposto pelos jihadistas “é impossível viver com os valores cristãos e humanos, é impossível. Porque aqui vivemos um estado ou levamos uma vida descontrolada no dia a dia”.
Entretanto, em meio a esta dura realidade, o Pe. Jahola comentou que, “embora os cristãos sejam rechaçados, que a nossa fé cristã tenha sido debilitada, humanamente não encontramos uma razão para abraçar o Islã”.
“Eles não fazem essa opção porque estão convencidos da sua fé em Jesus. E isto é o que lhes dá esperança, mais do que a esperança de uma promessa de viver aqui”.
Atualmente, continua a nova fase da ofensiva de Mossul, que começou em 29 de dezembro do ano passado, e o exército iraquiano já controla aproximadamente 60% da região oriental da cidade e alguns arredores.
Nas aldeias que foram libertadas, descobriram que os jihadistas colocaram minas em vários pontos das ruas e precisam desminar estes locais.
Além disso, na região onde estão localizadas cidades como Qaraqosh, que está a 30 quilômetros de Mossul, ainda não foram asseguradas.
Nesta semana, o porta-voz do ministro de relações religiosas da região autônoma do Curdistão, Mariwan Naqshbandi, informou que durante os cerca de dois anos e meio o Estado Islâmico dominou a planície de Nínive e Mossul, foram destruídos cerca de 100 lugares de culto, a maioria eram igrejas cristãs.
Confira também:
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— ACI Digital (@acidigital) November 1, 2016