Em um encontro com os participantes da Plenária das Congregações para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, no sábado, 28 de janeiro, o Papa Francisco alertou sobre os fatores que põem em perigo a vida consagrada que atualmente sofre uma “hemorragia” e propôs algumas medidas para enfrentá-la.

O Papa assegurou que a vida religiosa está passando por um momento de “provação”, é o que demonstram as estatísticas. “Encontramo-nos diante de certa ‘hemorragia’ que enfraquece a vida consagrada e a própria vida da Igreja. Os abandonos na vida consagrada nos preocupam muito”. “É verdade que alguns a deixam por um gesto de coerência, porque reconhecem, depois de um sério discernimento, que nunca tiveram vocação; outros, com o passar do tempo, faltam fidelidade, muitas vezes a apenas alguns anos da sua profissão perpétua”.

“O que aconteceu?”, perguntou o Santo Padre diante de milhares de religiosos. “São muitos os fatores que condicionam a fidelidade nesse tempo de mudança de época, em que se torna difícil assumir compromissos sérios e definitivos”.

Em seguida, o Pontífice falou sobre diversos fatores que afetam a vida consagrada:

Contexto social

Segundo Francisco, “o contexto social e cultural em que vivemos” não ajuda “a manter a fidelidade”. “Vivemos imersos na chamada ‘cultura do fragmento’, do ‘provisório’, que pode levar a viver ‘à la carte’ e ser escravo da moda”.

O Papa denunciou que “esta cultura leva à necessidade de manter sempre abertas as ‘portas laterais’ para outras possibilidades, alimenta o consumismo e esquece a beleza de uma vida simples e austera, provocando muitas vezes um grande vazio existencial”.

Também criticou “um forte relativismo prático segundo o qual tudo vem julgado em função de uma autorrealização, muitas vezes diferentes aos valores do Evangelho”.

“Vivemos em uma sociedade onde as regras econômicas substituem as leis morais, ditam e impõem seus próprios sistemas de referência em detrimento dos valores da vida; uma sociedade onde a ditadura do dinheiro e do lucro defende sua visão de existência na qual quem não rende é descartado”.

Diante disso, “é preciso primeiro deixar-se evangelizar e, depois, comprometer-se com a evangelização”.

Os desafios do mundo juvenil

Outro fator é o “mundo da juventude”, um “mundo complexo, ao mesmo tempo rico e desafiador”. “Não faltam jovens generosos – continuou –, solidários e comprometidos em nível religioso e social; jovens que buscam uma vida espiritual, que têm fome de algo diferente do que o mundo oferece”.

Mas “também há jovens que são vítimas da lógica do mundanismo, como a busca do sucesso a qualquer preço, o dinheiro e o prazer fáceis”.

Francisco assegurou que “o nosso compromisso é estar ao lado deles para contagiá-los com a alegria do Evangelho e da pertença a Cristo. Esta cultura deve ser evangelizada se quisermos que os jovens não sucumbam”.

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Contratestemunho na vida consagrada: Algumas soluções

O Santo Padre explicou também que dentro da vida consagrada as vezes existem “situações de contratestemunho que tornam difícil a fidelidade”.

“Estas situações, entre outras, são: a rotina, o cansaço, o peso de gestão das estruturas, as divisões internas, a sede de poder, uma maneira mundana de governar os institutos, um serviço da autoridade que as vezes se converte em autoritarismo e outras vezes um ‘deixar fazer’”.

Por isso, indicou que se a vida consagrada quiser manter a “sua missão profética” e “continuar sendo uma escola de lealdade para os próximos e os distantes, deverá manter o frescor e a novidade da centralidade de Jesus, a atração pela espiritualidade e da força da missão, mostrar a beleza do seguimento de Cristo e irradiar esperança e alegria”.

Em seguida, Francisco pediu que se preste especial atenção “na vida fraterna comunitária”. “Deve ser alimentada pela oração comum, a leitura da palavra, a participação ativa nos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, o diálogo fraterno, a comunicação sincera entre os seus membros”.

Por outro lado, assinalou que “da renovação da vida fraterna comunitária depende muito o resultado da pastoral vocacional, o poder dizer ‘vem e verás’ e a perseverança dos irmãos e irmãs jovens e mais velhos. Porque quando um irmão ou uma irmã não encontra ajuda em sua vida consagrada dentro da comunidade, irá procurar do lado de fora, com tudo o que isso significa”.

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O Pontífice assegurou que “a vocação, como a própria fé, é um tesouro que trazemos em vasos de barro” e, “por isso, devemos cuidá-la, como são guardadas as coisas mais valiosas, para que ninguém roube este tesouro de nós”.

No final do seu discurso, pediu a todos que tomem cuidado em “não ceder aos critérios do mundanismo”, porque “muitas vezes as grandes infidelidades começam com pequenas separações ou distrações”.

Antes de concluir, o Papa insistiu na importância do “acompanhamento”, pois “a vida consagrada deve investir na preparação de assistentes qualificados para este ministério”.

“É difícil se manter fiéis caminhando sozinhos, ou caminhando com a orientação de irmãos e irmãs que não sejam capazes de escutar atenta e pacientemente, ou que não tenham uma experiência adequada da vida consagrada”.

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