Sobre a volta dos lefebvristas (ou Fraternidade Sacerdotal São Pio X – FSSPX) à Igreja, falou recentemente Dom Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei e delegado vaticano neste processo, afirmando que o caminho para a constituição de uma prelatura pessoal já foi iniciado.

Em uma entrevista à revista espanhola ‘Vida Nueva’ publicada hoje, o Prelado assegura que neste momento “há uma profunda análise de alguns aspectos do texto da figura jurídica da prelatura pessoal. Depois desta fase, será apresentado um projeto de constituições ao Santo Padre”.

Entretanto, “a condição necessária para o reconhecimento canônico é a adesão aos conteúdos da Declaração Doutrinária que a Santa Sé apresentou à FSSPX”.

Ao ser perguntado sobre a adesão dos lefebvristas ao Concílio Vaticano II, Dom Pozzo assinala que “o Vaticano II deve ser compreendido e lido no contexto da tradição da Igreja e do seu constante Magistério”.

“Poderiam analisar, depois da reconciliação plena, as reservas sobre questões que não são propriamente temas de fé, mas temas relacionados à aplicação pastoral de orientações e ensinamentos conciliares, como a relação entre a Igreja e o Estado, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso ou alguns aspectos da reforma litúrgica e a sua aplicação”.

Por sua vez, explica que “é um falso problema perguntar-se se um católico poderia aceitar ou não o Concilio. Um bom católico não pode rechaçá-lo, pois é uma assembleia universal de bispos reunidos com o Papa”.

“O verdadeiro problema é a interpretação dos documentos conciliares”. Enfim, o responsável pelo processo detalha quais seriam os requisitos fundamentais para que a FSSP pudesse voltar à comunhão plena com Roma:

“Como para qualquer outro católico, a adesão à profissão de fé, o vínculo dos sacramentos e a comunhão hierárquica com o Papa. Um ponto específico teria a ver, como digo, com a correta relação entre a tradição e o magistério da Igreja e o fato de que o Concílio deve ser lido à luz da tradição perene e do magistério constante da Igreja”.

A revista também entrevistou o superior dos lefebvristas, o bispo Bernard Fellay, que assegurou que a condição para voltar à plena comunhão com a Igreja Católica é que o Vaticano “nos aceite tal como somos”.

Perguntado sobre a prelatura pessoal pela qual finalmente poderiam voltar à comunhão, Fellay afirma: “Acreditamos que as autoridades romanas consideram que a prelatura pessoal é a estrutura canônica que reflete melhor a nossa situação real. E também acreditamos que a prelatura pessoal é o regime mais adequado à Fraternidade nas circunstâncias atuais”.

Segundo afirma o bispo da FSSPX, o principal problema é “o grau de obrigação de adesão ao Concílio Vaticano II”, um tema que a instituição que preside sempre considerou em discussão.

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Mas também assegura que existem algumas “linhas vermelhas” que não estão dispostas a ser ignoradas. Entre elas, “o modo como o ecumenismo é praticado, incluindo declarações muito perigosas para a fé, que sugerem que todos têm a mesma fé, o tema litúrgico ou a relação entre a Igreja e o Estado”. “Estes são temas que não cederemos”, manifesta.

Dom Guido Pozzo assegura que, por enquanto, “não há prazos” no processo de aproximação e que, “como no ciclismo, há etapas antes de alcançar a meta”.

“Tenho confiança. Não sou otimista nem pessimista, mas realista”, afirma. “Pelo caminho que percorremos até agora, tenho confiança de que estamos na direção correta”.

“Sempre fui um tomista e acredito na capacidade da razão iluminada pela fé para alcançar a verdade objetiva das coisas. Eu não sou um subjetivista. Para mim, o mais importante é o objetivo”, indicou.

A FSSPX foi fundada pelo Arcebispo Marcel Lefebvre, em 1970, como resposta ao que descreve como os erros na Igreja depois do Concílio Vaticano II. Suas relações com a Santa Sé se tornaram mais tensas em 1988, quando Lefebvre consagrou quatro bispos sem permissão de São João Paulo II. A consagração ilícita teve como consequência a excomunhão dos cinco bispos.

Em 2009, as excomunhões foram retiradas por Bento XVI e desde então as negociações entre os lefebvristas e o Vaticano continuaram para “reencontrar a plena comunhão com a Igreja”.

Em abril, a Santa Sé e a FSSPX informaram que aconteceu um encontro informal entre o Papa Francisco e o superior geral dos lefebvristas, o bispo Bernard Fellay, no Vaticano.

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