O Papa Francisco escreveu o prólogo do livro “Perdoo-lhe, padre”, do francês Daniel Pittet, vítima de abusos sexuais cometidos por um sacerdote. Testemunhos como o de Daniel, assegura o Santo Padre, lançam “luz sobre uma área obscura e terrível da vida da Igreja”.

Daniel, de 57 anos e pai de seis filhos, sofreu abusos sexuais entre 1968 e 1972, quando tinha entre 9 e 13 anos. Seu abusador foi o sacerdote Joël Allaz, frade capuchinho.

Allaz havia abusado de aproximadamente 24 menores entre 1958 e 1995, tanto na Suíça como na França. O sacerdote não foi expulso do estado clerical.

Em novembro de 2016, Daniel entrevistou o seu abusador. Apesar de ter sofrido abuso sexual do sacerdote Joël Allaz, Daniel manteve firme a sua fé católica.

No prólogo, o Papa Francisco assinalou que “as pessoas que foram vítimas de um pedófilo têm dificuldade em falar daquilo por que passaram e descrever o trauma que persiste mesmo depois de vários anos. O testemunho de Daniel Pittet é, por isso, necessário, de estimado e corajoso”.

“Conheci o Daniel no Vaticano em 2015, durante o Ano da Vida Consagrada. Ele queria promover em larga escala um livro chamado ‘Amar é dar tudo’, que reunia testemunhos de religiosos e religiosas, padres e consagrados. Não poderia ter imaginado que este cristão entusiasta e apaixonado tinha sido vítima de abusos sexuais praticados por um padre”.

No entanto, indicou, “foi isso que ele me contou e o seu sofrimento tocou-me profundamente. Vi novamente os terríveis danos causados pelo abuso sexual, bem como a longa e dolorosa caminhada que as vítimas têm pela frente”.

“Fico feliz por ver que outros podem agora ler o seu testemunho e descobrir até que ponto o mal pode penetrar o coração de um servidor da Igreja”.

O Santo Padre se questionou: “Como é que um padre ao serviço de Cristo e da sua Igreja pode infligir tanto mal? Como é que alguém que dedicou toda a sua vida para conduzir as crianças até Deus acabar, ao invés, por devorá-las naquilo a que chamei um ‘sacrifício diabólico’ que destrói tanto a vítima como a vida da Igreja?”.

“Algumas das vítimas acabam por se suicidar. Estas mortes pesam no coração e na consciência, minha e de toda a Igreja. Às suas famílias ofereço os meus sentimentos de amor e de dor e peço, humildemente, perdão”.

O abuso sexual, recordou Francisco, “é uma absoluta monstruosidade, um pecado horrível, radicalmente contra tudo o que Cristo nos ensinou”.

O Santo Padre também salientou que “temos afirmado que é nosso dever ser extremamente rigorosos com os padres que traem a sua missão e com a hierarquia, bispos ou cardeais que os protejam, como já aconteceu no passado”.

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Em seguida, o Papa indicou então que “na sua adversidade, Daniel Pittet encontrou também outra face da Igreja e isso permitiu-lhe não perder a esperança nos homens e em Deus”.

“Fala-nos também do poder da oração que jamais abandonou e que o tem confortado nas horas mais escuras”, disse.

Daniel, assinalou o Papa, “optou por se encontrar com o seu atormentador 44 anos mais tarde, para olhar nos olhos daquele que o feriu até à profundeza da sua alma. Estendeu-lhe a mão”.

“A criança ferida é agora um homem erguido, frágil, mas de pé”, destacou.

“Fiquei muito impressionado pelas suas palavras: ‘Muitas pessoas não compreendem o fato de eu não o odiar. Eu perdoei-o e edifiquei a minha vida sobre esse perdão’”.

O Papa expressou a sua gratidão a Daniel, “porque os testemunhos como o dele deitam abaixo o muro de silêncio que tem coberto os escândalos e o sofrimento, lançando luz sobre uma área obscura e terrível da vida da Igreja”.

Estes testemunhos, disse, “abrem o caminho para uma cura justa e para a graça da reconciliação, ajudando os pedófilos a ganhar consciência da terrível consequência das suas ações”.

“Rezo pelo Daniel e por todos os que, como ele, viram a sua inocência ferida, que Deus os eleve e os cure, e que nos dê a todos o seu perdão e a sua misericórdia”, concluiu.

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