Em vários países da América Latina estão promovendo nos últimos anos a legalização do uso medicinal maconha, planta com propriedades psicoativas e com potencial viciante. Mas, na verdade, ajuda na cura? Um médico especialista em bioética responde.

Entrevistado pelo Grupo ACI, o Dr. Lenin De Janon Quevedo, médico pesquisador do Instituto de Bioética da Pontifícia Universidade Católica Argentina (UCA), explicou que “há uma realidade do ponto de vista objetivo, que é o nível de eficácia da cannabis (maconha) para combater certos sintomas” associados “às inflamações crônicas, dores, espasticidade e convulsões”.

No entanto, advertiu, “não poderíamos dizer que é um remédio, porque um remédio não serve apenas do ponto de vista da sua eficácia”, mas “deve ter outras condições que estão relacionadas à eficiência, que esteja disponível, que possa quantificar os meios, que seja a melhor opção dentro de todas as opções avaliadas”.

“Isso é o que chamamos de critério de proporcionalidade terapêutica. Nela também se ponderam os riscos e os benefícios”, assinalou.

O Dr. De Janon Quevedo, Mestre em Ética Biomédica e especialista em Medicina Crítica, indicou que “se pode dizer que a cannabis tem efeitos positivos para aliviar alguns sintomas, mas não para curar. No entanto, não atinge certos critérios de proporcionalidade terapêutica”.

Um dos pontos mais controversos acerca do uso da maconha como um remédio, disse, “é que não há nenhuma evidência científica sólida que ampare o uso de cannabis”.

“Entre os questionamentos existentes, é que os estudos – que efetivamente existem, há estudos que mencionam sobre o uso de cannabis para usos medicinais – não têm uma validade metodológica suficiente”.

O Dr. De Janon Quevedo assinalou que essas falhas metodológicas estão associadas com, entre outras razões, “o período de uso de drogas como parte do estudo”.

A agência governamental Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos EUA adverte em seu site que até agora “a maconha não foi aprovada como um remédio seguro e eficaz para algum diagnóstico” e adverte que “remédios não comprovados podem ter consequências desconhecidas”.

De acordo com o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, a FDA “requer estudos cuidadosamente realizados (ensaios clínicos) em centenas de milhares de seres humanos para determinar os benefícios e riscos de uma possível medicação”.

“Até agora, os pesquisadores não realizaram suficientes ensaios clínicos em grande escala que demostrem que os benefícios da planta de maconha (...) superem os seus riscos em pacientes que devem receber tratamentos”, indica o organismo norte-americano.

De acordo com os Centros para o Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, “cerca de 1 a cada 10 usuários de maconha se tornará dependente. Para as pessoas que começam a consumi-la antes dos 18 anos, esse número cresce de 1 a 6 usuários”.

Outros possíveis riscos do consumo de maconha, de acordo com o CDC, são os problemas respiratórios, diminuição da memória de curto prazo, da atenção e aprendizagem e aumento do risco de psicose ou esquizofrenia.

Nesse sentido, o Dr. De Janon Quevedo advertiu que as discussões a respeito da legalização da maconha para o uso medicinal “são extremamente emocionais, porque certamente existem pessoas que estão sofrendo muito por alguma doença crônica, por algum sintoma crônico”.

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Mas indicou que “o debate tem que ser feito com maturidade” e, ao mesmo tempo, devem ser considerados os testemunhos, baseados “em dados objetivos, os mais objetivos possíveis”.

O pesquisador da Pontifícia Universidade Católica Argentina sublinhou que “há estudos muito sérios, especialmente do uso medicinal de cannabis na síndrome convulsiva de crianças. Estes estudos ainda não foram concluídos. São um dos estudos que metodologicamente têm mais solidez e devemos esperar que sejam concluídos”.

“Outros estudos têm falhas metodológicas e estas levam a conclusões errôneas. Deste modo, acho que devemos esperar a conclusão dos estudos e ver qual será o resultado”, aconselhou.

Em seguida, o Dr. De Janon Quevedo pontuou que, no caso deste estudo, “estamos falando do óleo de canabidiol, produto elaborado em um laboratório farmacêutico”.

“Não é um produto elaborado em condições domésticas, como expõe no debate sobre a descriminalização da maconha para usos medicinais”, nem está relacionado “à boa vontade das pessoas que querem preparar o mesmo óleo em suas casas”.

O especialista advertiu que no debate da legalização da maconha para uso medicinal, muitas pessoas buscam o “livre consumo por inalação”.

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“Neste debate, por trás dos indivíduos que sofrem de alguma doença estão pessoas que defendem o consumo livre de maconha. Mas não só o consumo livre, porque de fato o consumo é praticamente liberado e não penalizado, mas a plantação livre, a comercialização e a distribuição de maconha”.

O médico da UCA assinalou que não é pelo fato de a maconha se tornar uma droga legal que “se resolverá o problema associado ao vício, que pode gerar o consumo livre recreativo da maconha, nem outro tipo de problemas, porque há drogas legais que também causam dependência e que fazem parte do mercado clandestino destas drogas”.

“Deste modo, o consumo livre de cigarros de maconha não tem um fundamento suficientemente sólido do ponto de vista científico para falar que se trata de um remédio”, sublinhou.

Para o especialista, um fator chave caso busquem a legalização desta substância, é que “a cannabis medicinal deve passar por todos os controles rigorosos que qualquer outro tipo de remédio. Não pode estar isento destes controles”.

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