VATICANO, 1 de mar de 2017 às 18:00
“Podemos olhar para um sem-teto como uma pessoa ou como se fosse um cachorro”, com estas palavras duras, o Papa Francisco falou da necessidade de acolher e ajudar as pessoas que vivem na rua.
A declaração foi dada em uma entrevista concedida ao jornal semanal “Scarp de’ tenis”, realizado por pessoas que vivem em situação de exclusão social em Milão e distribuído diariamente nas ruas. A entrevista foi publicada por ocasião da próxima visita do Santo Padre à cidade italiana, agendada para o dia 25 de março.
Nas suas respostas, o Pontífice revelou que a primeira coisa que diz quando encontra um sem-teto é “Bom dia, como vai?”. Explicou que “algumas vezes trocamos poucas palavras, outras vezes se cria uma relação e se ouvem histórias interessantes”.
O Santo Padre advertiu que “as pessoas que vivem pelas ruas entendem logo quando existe realmente um interesse da parte da outra pessoa ou quando existe, não um sentimento de compaixão, mas certamente de pena”.
Nesse sentido, reconheceu que o egoísmo pode causar uma barreira com as pessoas excluídas. “É muito difícil colocar-se ‘nos sapatos dos outros’, porque com frequência somos escravos do nosso egoísmo”, assinalou e indicou que “colocar-se nos sapatos dos outros significa ter grande capacidade de compreensão”.
Para explicar melhor o que queria dizer, o Bispo de Roma contou uma anedota. “No Vaticano, é famosa a história de um sem-teto, de origem polonesa, que geralmente ficava na Piazza del Risorgimento a Roma, não falava com ninguém, nem com os voluntários da Caritas que levavam para ele comida. Somente depois de muito tempo conseguiram fazer com que ele contasse a sua história a eles: ‘Sou um sacerdote, conheço bem o seu Papa, estudamos juntos no seminário’. O assunto chegou a São João Paulo II que ouvindo o nome confirmou ter estudado com ele no seminário e quis encontrá-lo”.
Francisco explicou que São João Paulo II e o sacerdote, quando se encontraram, “se abraçaram depois de quarenta anos e no final de uma audiência o Papa pediu para ser confessado pelo sacerdote. Depois da confissão, o sacerdote disse ao Papa : ‘Agora é a tua vez’. E o companheiro de seminário foi confessado pelo Papa”.
“Graças ao gesto de um voluntário – continuou o Papa –, de uma comida quente, algumas palavras de conforto e um olhar de bondade, essa pessoa pode se reerguer e começar uma vida normal que o levou a se tornar um capelão de um hospital. O Papa o ajudou. Certamente, este é um ‘milagre’, mas é também um exemplo para dizer que os sem-teto têm uma grande dignidade”.
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Desculpas para não dar esmolas
“Mas como! Eu dou dinheiro e depois ele gasta para beber um copo de vinho?”. Este é um dos “diversos argumentos para justificar a si mesmo quando não damos esmolas”, lamentou o Santo Padre.
No entanto, ele rejeitou esse argumento porque “um copo de vinho é a única felicidade que ele tem na vida”. “Uma ajuda é sempre justa”, insistiu.
Além disso, assinalou que a verdadeira ajuda não é “dar aos pobres somente uns trocados”. “É importante o gesto, ajudar quem pede e olhá-lo nos olhos, tocar suas mãos. Lançar o dinheiro e não olhar nos olhos não é um gesto cristão”, afirmou.
“Educar para a caridade não é descarregar as próprias culpas, mas é tocar, olhar para uma miséria que tenho dentro e que o Senhor entende e salva, pois todos nós temos misérias dentro”.
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— ACI Digital (@acidigital) 16 de janeiro de 2017