VATICANO, 11 de mar de 2017 às 10:00
Alguns meios de comunicação afirmaram que em uma recente entrevista ao jornal alemão Die Zeit, o Papa Francisco teria dito que duvida da existência de Deus. O que o Papa realmente disse?
A pergunta do jornalista Giovanni di Lorenzo da revista alemã, que causou a má interpretação, ocorreu em um momento da entrevista no qual dialogavam sobre a crise de fé. O Papa disse que “as crises ocorrem para crescer na fé”. “Não é possível crescer sem crises”, disse e recordou que “o que hoje te completa, amanhã não. A vida nos coloca provações”.
Então, o jornalista fez a seguinte pergunta: “Mas na vida não há somente grandes desgraças onde as pessoas podem se desesperar. A crise de fé também pode ocorrer naquele momento, que não sei se o senhor já experimentou, no qual inclusive não sabe se é verdade que Deus existe, que Jesus existe, etc. São momentos que o senhor conhece?”.
Esta foi a resposta completa de Francisco: “Sim, sim. Momentos vazios. Falei de momentos escuros, de momentos nos quais..., e de momentos vazios. Eu também conheço os momentos vazios”.
Portanto, na sua resposta, o Santo Padre não diz em nenhum momento que duvidou de Deus, mas que experimentou “momentos vazios”.
Na entrevista, a primeira que o Pontífice concede a um meio de comunicação alemão desde que foi eleito Papa, o jornalista havia também perguntado se ele tinha experimentado momentos de escuridão.
Na resposta do Papa é onde se encontra a chave para compreender a resposta mal interpretada por diversos meios: “Sim, momentos espirituais escuros, escuros, nos quais disse: ‘Senhor, não entendo isso’. Quando ocorrem as situações não só de escuridão das quais mencionei, mas também situações feias ocorridas por minha culpa, me reconheço pecador: sou pecador, e fico com raiva... Agora já estou acostumado com isso”.
Assim, o Papa Francisco não disse em nenhum momento que duvidou da existência de Deus, mas que também experimentou momentos espirituais escuros.
A noite escura
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Esses momentos escuros não são exclusivos do Papa Francisco. Muitos santos, como São João da Cruz e Santa Teresa de Lisieux, experimentaram e meditaram sobre o significado dessa “noite escura”, como é conhecida esta experiência espiritual.
O próprio Jesus, primeiramente na agonia em Getsêmani e, em seguida, mais intensamente na cruz, experimentou a escuridão e expressou em suas palavras “Meu Deus, por que me abandonaste?”.
Nesse sentido, cabe recordar que Santa Teresa de Calcutá experimentou, durante anos, esta experiência de vazio e escuridão espiritual, como ela mesma reconheceu.
Em uma das suas cartas ao Pe. Picachy, seu conselheiro espiritual, escreveu: “Senhor Deus meu, quem sou eu para que Tu me abandones? Uma filha de Teu amor, e agora, convertida na mais odiada, não amada. Chamo, me agarro, eu quero, mas não há resposta, não há ninguém em quem possa me agarrar, nada, sozinha. A escuridão é tamanha e estou sozinha”.
Em outro fragmento da carta, ela perguntou: “Onde está minha fé? Inclusive no mais profundo, bem dentro, não há nada além de vazio e escuridão. Deus meu, como é dolorosa esta dor desconhecida. Dói sem cessar. Não tenho fé”.
Santa Teresa de Calcutá chegou a amar esta “noite escura”, porque compreendeu que a aproximava mais do sofrimento de Jesus abandonado na cruz e do sofrimento dos pobres. Em outra carta, deixou escrito: “Pela primeira vez nestes onze anos, cheguei a amar a escuridão. Pois agora creio que é uma parte, uma muito, muito pequena parte da escuridão e da dor de Jesus na terra”.
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— ACI Digital (@acidigital) 30 de agosto de 2016