ROMA, 13 de mar de 2017 às 20:00
O chamado do presidente do Sudão do Sul a uma jornada nacional de oração foi rechaçado por um dos bispos do país, que a qualificou como uma “oração política” e uma zombaria.
O presidente Salva Kiir se dirigiu ao Sudão do Sul através dos meios estatais para anunciar uma jornada de oração, realizada no dia 10 de março.
O país está envolvido por uma guerra civil desde dezembro de 2013, quando Kiir acusou seu ex-vice-presidente, Riek Machar, de tentar dar um golpe de Estado. Desde então, existe um forte conflito entre seus partidários, em grande parte por linhas étnicas, marcado por acordos de paz de curta duração.
“Tenho rezado pelo Sudão do Sul todos os dias. Nesta manhã, orei pelo Sudão do Sul. Nunca entenderei essa oração convocada por Salva Kiir. A menos que me levem como cadáver, nunca participarei dessa oração. É uma oração política. É uma zombaria”, disse o Bispos auxiliar de Juba, Dom Santo Loku Pio Doggale, segundo assinala o portal ‘Sudan Tribune’.
“Por que devo ir rezar onde não há santidade, onde não há perdão? É uma piada escutar o presidente do país convocando à oração quando, neste momento, os soldados estão caçando pessoas no Sudão do Sul”.
O Prelado se referiu ao deslocamento de lares de muitas pessoas pelas mãos do exército do governo e afirmou que “as pessoas estão sendo arrancadas de sua terra natal” e que “tem havido muitos roubos dos recursos das pessoas”.
Dom Doggale também criticou Kiir, que é católico, dizendo que ele “sequer vem à Igreja ultimamente”.
O dia nacional de oração proposto por Kiir precedeu o lançamento de um diálogo nacional de três dias, que começa no dia 15 de março.
“Nosso tempo... agora está maduro para se dirigir a Deus e pedir-lhe perdão e bênçãos. Não fomos perfeitos e temos que nos submetermos ao Todo-poderoso mediante as orações”, sustentou o presidente Kiir em sua convocação.
“Deve ser o dia em que todos rezemos a Deus e peçamos perdão para que iniciemos um novo capítulo em nossas relações como cidadãos desta nação”, declarou.
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O diálogo nacional será dirigido por Kiir. Um de seus porta-vozes disse que o ex-vice-presidente, Riek Machar, pode participar, quando tenha denunciado a violência. A direção do diálogo de Kiir é criticada devido ao seu papel na guerra civil do país.
Em janeiro de 2016, Dom Doggale disse à Catholic News Agency (CNA) – agência em inglês do Grupo ACI – que o governo do Sudão do Sul, assim como o do Sudão, coloca a agenda política sobre os interesses de seu povo.
“Temos uma encruzilhada de pessoas deslocadas em ambos os países que sofrem pela elite política que não leva seu povo no coração”, denunciou.
Os Bispos do Sudão do Sul, recentemente, pediram um diálogo entre as facções em disputa do país e acusaram as forças de ambos os lados de atacar os civis.
“Aqueles que têm a capacidade de fazer mudanças para o bem de nosso povo não prestaram atenção às nossas mensagens pastorais anteriores”, sustentaram os Bispos em uma declaração de 23 de fevereiro.
“Temos que ver ação, não apenas diálogo em prol de diálogo”, asseguraram.
Os Bispos afirmaram que a guerra “não tem justificativa moral alguma” e expressaram sua preocupação porque alguns funcionários do governo parecem suspeitar da Igreja.
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— ACI Digital (@acidigital) 22 de fevereiro de 2017