VATICANO, 7 de jun de 2005 às 13:18
O Papa Bento XVI pronunciou na segunda-feira à noite uma conferência decisiva na qual explicou os fundamentos da visão católica sobre o direito à vida desde a concepção e o matrimônio heterossexual e monógamo, ao mesmo tempo que assinalou os riscos do relativismo.
O Pontífice pronunciou a extensa e articulada conferência na Basílica de São João de Latrão, durante a inauguração de um Congresso eclesiástico promovido pela Diocese de Roma sobre o tema “Família e comunidade cristã: formação da pessoa e transmissão da fé”.
O Santo Padre começou suas reflexões explicando o fundamento natural da família, destacando que o ser humano foi criado a imagem de Deus e “Deus mesmo é amor”.
Por este motivo, explicou o Papa, “a vocação ao amor é o que faz do ser humano a autêntica imagem de Deus”. “Desta fundamental conexão entre Deus e o ser humano deriva outra: a conexão indissolúvel entre espírito e corpo”, adicionou.
“A totalidade do ser humano –continuou– inclui a dimensão do tempo, e o ‘sim’ do homem significa ‘sempre’; constitui o espaço da fidelidade. Só dentro de este pode crescer a fé”.
“A maior expressão da liberdade”, adicionou o Pontífice, “é a capacidade de decidir-se por um dom definitivo, no qual a liberdade, doando-se, realiza-se plenamente. Em concreto, o ‘sim’ pessoal e recíproco do homem e da mulher está destinado ao dom de uma nova vida” e “é um ‘sim’ publicamente responsável, com o qual os cônjuges assumem a responsabilidade pública da fidelidade”.
Não ao divórcio nem às uniões homossexuais
Bento XVI sublinhou que “as diferentes formas atuais de dissolução do matrimônio, assim como as uniões livres e o ‘matrimônio de prova’, até o pseudo-matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, são contudo, expressões de uma liberdade anárquica, que se faz passar por uma verdadeira liberação do ser humano”.
O Papa explicou que “tal pseudo-liberdade se funda em uma concepção banal do corpo, que leva inevitavelmente consigo uma concepção trivial do ser humano”.
“Seu pressuposto –explicou– é que o ser humano pode fazer de si o que queira: seu corpo se converte em algo secundário, manipulavel desde o ponto de vista humano, que se pode usar de qualquer jeito”.
O Matrimônio na história da salvação
O Papa recordou logo que “a revelação bíblica é sobre tudo expressão de uma história de amor, a história da aliança de Deus com os seres humanos: por isso, a história do amor e da união de um homem e uma mulher na aliança do matrimônio pôde ser assumida por Deus como símbolo da história da salvação”.
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“Do mesmo modo que a encarnação do Filho de Deus revela seu verdadeiro significado na cruz, o amor humano autêntico é doação de si e não pode existir se quer excluir a cruz”, explicou o Pontífice.
O Santo Padre destacou logo algumas tendências negativas que se opõem ao “vínculo profundo entre Deus e o ser humano, entre o amor de Deus e o amor humano”.
Nesse sentido, referiu-se ao “envilecimento do amor humano, a supressão da autêntica capacidade de amar, que se revela em nosso tempo a arma mais adequada e mais eficaz para expulsar a Deus do ser humano, para afastar a Deus do olhar e do coração do ser humano”.
O valor dos filhos
“Também na geração dos filhos –continuou o Papa–, o matrimônio reflete seu modelo divino, o amor de Deus pelo ser humano. No homem e a mulher a paternidade e a maternidade, como o corpo e o amor, não se deixam circunscrever somente ao biológico: a vida se dá inteiramente só quando com o nascimento se dão também o amor e o sentido que fazem possível dizer sim a esta vida”.
“A partir daqui –advertiu– fica claro o contrário que é ao amor humano, à vocação profunda do homem e da mulher, fechar sistematicamente sua união ao dom da vida e ainda mais, suprimir ou manipular a vida que nasce”.
A ameaça do relativismo
Bento XVI reservou uma parte importante de sua conferência ao desafio do relativismo.
“Em nossos dias –disse o Papa– um obstáculo particularmente insidioso da tarefa educativa é a presença maciça, na sociedade e na cultura, do relativismo, que ao não reconhecer nada como definitivo, deixa como medida última só o próprio eu e seus desejos e, sob a aparência da liberdade, converte-se em uma prisão”.
“Nesse horizonte relativista não é possível, portanto, uma educação verdadeira sem a luz da verdade; antes ou depois cada pessoa está condenada a duvidar da bondade de sua mesma vida e das relações que a constituem, da validez de seu compromisso para construir com outros algo em comum”, advertiu o Papa.
“Está claro, portanto, que não somente devemos tentar superar o relativismo em nosso trabalho de formação das pessoas, senão que estamos chamados a contrastar seu predomínio na sociedade e na cultura”, concluiu.