A Via Sacra que o Papa Francisco presidirá no Coliseu romano na próxima Sexta-feira Santa, 14 de abril, apresentará meditações preparadas por uma biblista francesa, que decidiu não utilizar as estações tradicionais, mas inovou em relação ao que normalmente se segue nesta oração.

Anne-Marie Pelletier foi escolhida pelo Santo Padre e as meditações já foram publicadas em diferentes idiomas na segunda-feira, 10 de abril.

Entre as estações mais “inovadoras” estão a segunda, “Jesus é renegado por Pedro”, a terceira “Jesus e Pilatos”, a sétima “Jesus e as filhas de Jerusalém” e a décima quarta “Jesus no sepulcro e as mulheres”.

Em entrevista concedida à Rádio Vaticano, publicada em italiano, a biblista explicou que decidiu não usar as estações tradicionais, porque “a Via Sacra têm diferentes referências e não tem uma estrutura obrigatória. Eu escolhi esses momentos que pareciam especialmente significativos”.

Então, “decidi inserir a negação de Pedro e a cena em que Pilatos, consultado pelas autoridades judaicas, declara também ele que Cristo deveria ser crucificado. Para mim era muito importante querer recordar, nesta circunstância, judeus e pagãos unidos na cumplicidade da condenação à morte de Jesus”.

A respeito das fontes de inspiração para escrever as suas meditações, Pelletier explicou que se baseou “fundamentalmente em minha experiência de crente, a experiência da luta da fé. Porque quando nos encontramos lá – como no caso da paixão de Jesus – diante deste extremo do pensamento de Deus, cada um de nós se sente perdido e tem dificuldades em entrar nesta lógica das Escrituras, do ‘devia ser assim’”.

Em relação à mensagem que queria transmitir, a biblista sublinhou que “estamos diante de um grande paradoxo, porque aquilo que temos sob os olhos é a realidade de um fracasso, do sofrimento triunfante, do reino da morte”.

“É muito importante tomar consciência do fato de que ser cristãos é o oposto desta chantagem da violência, da morte, e que o amor é mais forte. O amor que vem de Deus tem a vitória sobre tudo. Penso que seja tarefa dos cristãos de hoje ser testemunhas disto”.

Sobre da última estação, “Jesus no sepulcro e as mulheres”, Pelletier explicou que quis dedicá-lo ao Sábado Santo, que é “um momento de recolhimento, de silêncio; nos prepara para reconhecer a ressurreição”.

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“E é também um momento feminino, que nos mostra as mulheres colocadas à prova pela morte de Jesus, mas que ao mesmo tempo continuam a ter uma postura de vida: preparam os panos com os quais irão honrar o corpo de Cristo e têm um comportamento muito diferente daquele dos discípulos de Emaús”.

Estes discípulos, concluiu, “estão desiludidos e desorientados, enquanto as mulheres não se mostram assim; simplesmente, sobriamente, preparam os panos e se dispõe assim a receber a grande surpresa do anúncio da Ressurreição”.

Anne-Marie Pelletier não é a primeira mulher a escrever as meditações da Sexta-feira Santa, pois em 2012, um casal que ia completar 60 anos de casamento, Danilo e Ana Maria Zanzucchi, foi escolhido por Bento XVI para esta missão.

A biblista francesa ganhou o Prêmio Joseph Ratzinger em 2014. Nascida em 1946, Pelletier – que com seus trabalhos investigou também o papel da mulher no cristianismo e na Igreja –, ensinou linguística geral e literatura comparada na Universidade de Paris X, teologia do matrimônio no Institut Catholique de Paris.

Desde 1993, ensina Sagrada Escritura e Hermenêutica bíblica no “Studio” da Faculdade Notre Dame do seminário de Paris.

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