Roma, 28 de abr de 2017 às 11:00
O Pe. Samir Khalil Samir, sacerdote especialista na religião islâmica, indicou que o Papa Francisco viaja ao Egito com o objetivo de “estreitar os laços com o Islã” e, nesse sentido, destacou sua decisão de estar “em meio ao povo” e não desistir da viagem, apesar dos perigos.
“Acho que, como ele é, é necessário que vá. O Papa não é uma pessoa que tem medo”, afirmou o sacerdote egípcio.
Além disso, “se considerarmos a possibilidade de um atentado, acredito que o Egito, embora seja somente por uma questão de honra, fará tudo o que for possível para protegê-lo e para garantir que não haja nenhum elemento perigoso em torno dele. Deste ponto de vista, acredito que tudo acontecerá normalmente”, acrescentou.
O também professor do Pontifício Instituto Oriental de Roma afirmou que “esta é a característica do Papa Francisco, que poderia dizer: ‘Eu não temo nada e eu estou em meio ao povo. E se devo morrer, está bem, sou como qualquer outra pessoa, pode ocorrer simplesmente porque estou nesse local (onde ocorreu um atentado)’. Então, isso poderia explicar por que não desistiu da sua viagem”.
Em uma entrevista à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), o Pe. Samir assinalou que “há muito tempo (Francisco) quer estreitar novamente os laços entre o Vaticano e o Islã”.
“Isto ele me disse pessoalmente em uma entrevista de meia hora, há alguns meses. Concretamente, me disse: ‘Por que eu insisto no fato de que o Islamismo é uma religião de paz? Porque, primeiramente, devemos renovar os laços de amizade com os muçulmanos e com (Universidade de) Al-Azhar’”, recordou o sacerdote, autor de 60 livros, entre eles “Cem perguntas sobre o Islã”.
Para explicar por que é necessário “estreitar novamente os laços”, o sacerdote egípcio recordou que alguns dias depois do atentado em uma igreja copta no Natal de 2010, o então Papa Bento XVI pediu ao presidente do Egito – em seu discurso aos diplomatas – que protegesse os cristãos.
“Nesse momento, o Imã Ahmed el-Tayeb, reitor da Universidade de Al-Azhar, disse que era inaceitável que o Papa se intrometesse na política egípcia e cortou relações com Roma”, assinalou.
O Pe. Samir disse que, “depois de várias tentativas sem sucesso, retomaram as relações. E este era o principal objetivo do Papa Francisco: reestabelecer as relações com o Islã e, principalmente, com Al-Azhar”, instituição que representa a maioria dos muçulmanos e, portanto, é “uma autoridade moral e intelectual inevitável” no mundo islâmico.
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Os cristãos do Oriente Médio
Durante a entrevista, o sacerdote assinalou que a maioria dos muçulmanos reconhece que o Oriente Médio precisa dos cristãos. Inclusive, indicou, uma emissão de rádio mencionou recentemente “o tema das escolas cristãs, que formaram a elite intelectual do Egito nos séculos XIX e XX”.
No caso do Egito, o Pe. Samir afirmou que se pode dizer que os cristãos são autóctones, portanto, “sabe que se querem preservar a consciência nacional, não se pode eliminar os cristãos”.
“Infelizmente e por motivos político-econômico-religiosos, cada vez mais cristãos vão embora. E o que acontece nesse momento é o que o quer ISIS (Estado Islâmico / Daesh). Mas estes são fanáticos, enquanto, mundialmente, os muçulmanos não são assim. Mas, falta-lhes coragem para dizer: é necessário detê-los. Em vez de dizer isso, dizem: isso não tem nada a ver com o Islã, com isso não resolvem nada. Mas, dentro dos seus corações, a maioria dos muçulmanos diz: Isto é uma vergonha”, explicou.
O sacerdote disse que é necessário ajudar os cristãos a fim de que permaneçam em seus países do Oriente Médio. Entretanto, enquanto o Egito não é um grande problema, pois são quase 10 milhões, recordou que no Iraque e na Síria o Estado Islâmico destruiu suas casas. Portanto, “é preciso ser muito corajosos” para permanecer em seus lugares de origem.
“Devemos ajudá-los a ficar nos seus países. Ajudá-los financeiramente se possível, mas também moralmente, apoiá-los e tentar impedir este crime que é o ISIS”, expressou.
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— ACI Digital (@acidigital) 28 de abril de 2017