VATICANO, 16 de jun de 2017 às 06:00
Conhecer e fazer amizade com um monge moribundo foi o que inspirou o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, a escrever o seu último livro sobre o poder do silêncio na vida cristã.
O livro “A força do silêncio: Contra a ditadura do barulho”, publicado em outubro de 2016, descreve a natureza do catolicismo através da sua experiência pessoal.
O Papa Emérito Bento XVI, que escreveu o prefácio do livro na Páscoa de 2017, afirmou que com o Cardeal Sarah “a liturgia está em boas mãos” e ressaltou que ele “nos ensina o silêncio, ser silenciosos com Jesus, nos ensina o verdadeiro silêncio interior e, deste modo, nos ajuda a compreender a palavra do Senhor novamente”.
Na introdução do livro, escrita pelo jornalista francês Nicolas Diat, descreve-se o momento que explica a decisão do Purpurado de “dedicar um livro ao silêncio”.
Este momento aconteceu quando conheceu em 25 de outubro de 2014 um jovem monge, Irmão Vicente Maria da Ressurreição, na Abadia de Lagrasse (França), que lentamente estava morrendo de esclerose múltipla e já não conseguia falar.
O Cardeal reconheceu ali “uma alma ardente, um santo escondido, um grande amigo de Deus, que só podia olhar para o Cardeal e contemplá-lo com firmeza, ternura e amor”.
Quando o Purpurado voltou para Roma, às vezes ligava para o irmão Vicente e, enquanto falava com ele, o monge moribundo o escutava em silêncio.
Antes de falecer, no dia 10 de abril do ano passado, o irmão Vincent passou seus últimos meses rezando constantemente pelo Cardeal Sarah.
Diat acrescentou no livro as enigmáticas frases: “Os monges que cuidaram do Irmão tem certeza de que ele permaneceu vivo durante mais alguns meses para proteger melhor Robert Sarah. O irmão Vicente sabia que os lobos estavam à espreita, que o seu amigo necessitava dele, que contava com ele”.
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“O encontro com o irmão Vicente foi um fragmento da eternidade. Nunca duvidamos da importância de cada minuto que permanecemos com ele. O silêncio tornou possível elevar cada sentimento ao estado mais perfeito. Quando era necessário deixar a abadia, sabíamos que o silêncio de Vincent nos tornaria mais fortes para enfrentar os ruídos do mundo”, continuou o jornalista.
Finalmente, Diat comentou que “esta amizade nasceu em silêncio e cresceu em silêncio” e que o livro “nunca poderia ter existido sem o Irmão Vicente, ele nos mostrou que o silêncio, no momento em que estava muito doente, o permitiu entrar mais profundamente na verdade das coisas”.
Seus últimos dias
Os irmãos da comunidade na abadia de Lagrasse recordam que o Irmão Vicente Maria “se tornou um exemplo de oração perpétua e alegre abandono nas mãos do Senhor”.
“Acolhendo todas as pessoas com o seu belo sorriso, nunca deixou de rezar até o final e de oferecer os seus sofrimentos pelas numerosas intenções que as pessoas – às vezes de longe – lhe pediam. Nós nunca o escutamos reclamar”.
Depois de vários anos, recordam, “ele repetia: Não posso fazer nada além de rezar e sorrir”.
Nos últimos meses, contaram, “já não conseguia falar e sempre estava com o rosário na sua mão”.
“Recebeu os últimos sacramentos do padre abade, a sua mãe e a sua irmã estiveram presentes neste momento e, alguns minutos depois que os irmãos da comunidade se reuniram, entregou a sua alma a Deus”, em 10 de abril de 2016.
Confira também:
Cardeal Sarah fala sobre a "força do silêncio" na liturgia durante palestra na Espanha https://t.co/D5oEY2kCOo
— ACI Digital (@acidigital) 15 de maio de 2017