WASHINGTON DC, 17 de jul de 2017 às 16:00
Melinda Gates, esposa do famoso Bill Gates, disse há alguns dias que estava “otimista” a respeito da possibilidade de que o Papa Francisco alterasse o ensinamento da Igreja sobre os anticoncepcionais. Entretanto, a possibilidade de que isso aconteça não se vê refletida na realidade.
As declarações de Gates foram feitas em uma entrevista recente à BBC, quando disse que “trabalhamos muito intensamente com a Igreja Católica e houve muitas discussões com eles, porque temos uma missão compartilhada em relação à justiça social e à luta contra a pobreza”.
“Acho que o que este Papa vê é que, se vai tirar as pessoas da pobreza, tem que fazer a coisa certa pelas mulheres”, embora “nós tenhamos concordado neste ponto para discordar” sobre a contracepção, acrescentou.
Os seus comentários foram feitos quando a sua organização, a Fundação Bill e Melinda Gates, patrocinou uma cúpula internacional em Londres sobre o acesso à contracepção no mundo em desenvolvimento.
Diante disso, o professor de teologia moral e ética na Universidade Católica da América, John Grabowski, respondeu: essa mudança é impossível.
“O ensinamento da Igreja de ir contra a contracepção não é novo, não é algo inventado pelo Papa Paulo VI em 1968”, disse Grabowski a CNA, agência em inglês do Grupo ACI.
Em 1968, o Papa Paulo VI escreveu a encíclica Humanae Vitae, “sobre o controle da natalidade”, que explica os ensinamentos da Igreja sobre este tema e a sua aplicação no mundo moderno. O documento pontifício é mais atual do que nunca.
Este ensinamento também se articula no Catecismo da Igreja Católica, que afirma no parágrafo 2370 que a contracepção “já não se trata de se darem totalmente um ao outro. Daí deriva, não somente a recusa positiva da abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interna do amor conjugal, chamado a ser um dom da pessoa toda”.
“Esta diferença antropológica e moral, entre a contracepção e o recurso aos ritmos periódicos, implica dois conceitos de pessoa e de sexualidade humana irredutíveis um ao outro”, sustenta o Catecismo.
Neste sentido, Grabowski esclareceu que na década de 1960 não foi a primeira nem a única vez que a igreja afirmou que o ato conjugal tem um significado de união e procriação inseparável.
“Este foi o ensinamento da Igreja, desde o início, por isso a Igreja (incluindo o Papa Francisco) não pode mudar o ensinamento constante, universal e autoritário”, afirmou.
Além disso, “o Papa Francisco não mostrou nenhum indício de querer mudar. Tem sido bastante enfático ao reafirmar a doutrina da Igreja com relação a este tema”.
Em sua exortação apostólica Amoris Laetitia, o Papa Francisco assinalou que: “Desde o início, o amor rejeita qualquer impulso para se fechar em si mesmo, e abre-se a uma fecundidade que o prolonga para além da sua própria existência”.
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“Assim nenhum ato sexual dos esposos pode negar este significado, embora, por várias razões, nem sempre possa efetivamente gerar uma nova vida”, assinala o Santo Padre.
Além disso, o seu predecessor, o Papa São João Paulo II, também ensinou incessantemente que a contracepção não é apenas uma violação da lei natural, mas da sexualidade e do matrimônio revelados à humanidade através das Escrituras.
“Portanto, se esta é uma verdade que foi confiada à Igreja na revelação, a Igreja não tem autoridade para mudá-la”, disse Grabowski.
Do ponto de vista científico, continuou o professor, os dados não favorecem a tese de Gates de que a contracepção é verdadeiramente “adequada para as mulheres”.
Na saúde, por exemplo, “inclusive os contraceptivos orais de pequena dose são um cancerígeno de categoria 1, o que aumenta significativamente as probabilidades de que as mulheres sofram de um ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, embolia pulmonar”.
“Existe vários tipos de riscos para a saúde associados com a maioria dos contraceptivos”, assinalou Grabowski. “Então, bom para as mulheres? Os dados não provam isso”.
Em vez de contracepção, a Igreja propõe vários métodos de conscientização da fertilidade para ajudar as famílias a espaçar o nascimento dos seus filhos de tal maneira que não separe os aspectos de união e procriação do sexo.
“A Igreja poderia fazer um trabalho melhor ao falar sobre esses métodos de conscientização da fertilidade e dos seus benefícios? Claro que sim”, sublinhou.
Vivemos em “uma cultura que está promovendo e fortalecendo a contracepção”, por isso, “a Igreja (necessita) articular uma alternativa suficientemente clara com uma visão e a maneira de como levar a cabo”, afirmou Grabowski.
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— ACI Digital (@acidigital) 9 de maio de 2017