WASHINGTON DC, 9 de ago de 2017 às 18:00
Um proeminente ensaio da publicação jesuíta La Civiltà Cattolica sobre a religião e a política norte-americana continua provocando respostas dos críticos, preocupados porque os seus dois autores interpretaram mal fundamentalmente a situação dos católicos nos Estados Unidos.
“Seu ensaio é ruim, mas importante”, disse o colunista do New York Times, Ross Douthat, em 2 de agosto, ao assinalar que a sua intenção aparentemente é alertar sobre o apoio católico às “tendências mais escuras do Trumpismo”, como a xenofobia, a estigmatização dos inimigos e uma “visão dura do Islã”.
Para Douthat, entretanto, a compreensão da religião norte-americana pelos autores do ensaio da Civiltà Cattolica “parece começar e terminar com pesquisas do Google e tratados antievangélicos”. Em sua opinião, a secularização e a polarização política fizeram com que o lugar dos católicos nos Estados Unidos seja “mais difícil e intrigante”.
Tanto o apoio católico a Trump como as críticas católicas mais radicais “não são a culminação da aliança católica-evangélica, mas sim uma reação aos seus fracassos políticos e culturais, assim como aos fracassos da política religiosa liberal”.
Em 13 de julho, a revista jesuíta La Civiltà Cattolica publicou uma análise assinada pelo seu editor, Pe. Antonio Spadaro, e por Marcelo Figueroa, pastor protestante e chefe da edição argentina de L’Osservatore Romano, o jornal da Cidade do Vaticano.
O ensaio é intitulado “Fundamentalismo Evangélico e Integrismo Católico nos Estados Unidos: um ecumenismo surpreendente” e argumenta que muitos cristãos conservadores se uniram para promover um “ecumenismo de ódio” nas políticas que contradizem a mensagem de misericórdia do Papa Francisco.
Além disso, os autores afirmaram que “os fundamentalistas evangélicos” e os “integristas católicos” estão reunidos em um “surpreendente ecumenismo” por um desejo compartilhado de influência religiosa na política.
Douthat disse que os autores do ensaio pareciam estar motivados pelo “medo e pela ignorância”.
Seu ataque às posições amigas de ??Trump expande e confunde “tendências políticas e religiosas muito diferentes, entregando-se a paranoia sobre escuros protestantes teocráticos e as páginas católicas e, finalmente, criticando todo tipo de conservadorismo religioso norte-americano”.
A sua crítica inclui “a largamento antipolítica Opção Bento e o ativismo pró-vida excessivamente apoiado pelos predecessores do Papa Francisco”.
“Nada disso tem sentido”, disse Douthat. “A aliança evangélico-católica depois de 1970 teve as suas falhas em vários aspectos, mas não é teocrática nem liberal”.
Disse que tanto católicos como protestantes norte-americanos sentem que “seus líderes e pensadores passaram décadas se reunindo para a república, tentando alcançar a sua renovação moral e política... só para ver as virtudes republicanas em decadência, o liberalismo se tornando hostil à fé religiosa e o capitalismo democrático provocando decepção e distanciamento”.
Douthat viu um aumento na “desilusão e falta de lar” entre os pensadores católicos. As abordagens católicas mais antigas da política parecem estar fora de energia e influência. O liberalismo ocidental parece “novamente hostil à religião tradicional e perseguido por contradições internas”, o que parece tornar o momento “maduro para um novo pensamento católico sério”.
Tanto a retórica do Papa Francisco como entre os agitados católicos norte-americanos são indícios de que a política dos Estados Unidos está em um ponto de transição. Douthat argumentou que o Pe. Spadaro e o reverendo Figueroa se perderam nisto.
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“Em sua evidente paranoia acerca do que os norte-americanos estão fazendo, vocês veem um espírito diferente: o medo da novidade e da ruptura, e o desejo de uma igreja que é principalmente uma administradora da paz social, uma presença suave e ecumênica, um pilar moderado do establishment em uma era estável e permanentemente liberal”, afirmou Douthat, dizendo que aqueles que desejarem uma igreja assim, precisam fazê-lo melhor para entender, “por que muitos dos seus rebanhos, na Europa e nos Estados Unidos, acham esta visão insuficiente para os tempos”.
O comentarista católico George Weigel, pesquisador do Centro de Ética e Políticas Públicas e autor das biografias mais conhecidas de São João Paulo II, questionou a decisão de publicar o ensaio.
Escrevendo em First Things, no dia 2 de agosto, Weigel assinalou que leem La Civiltà Cattolica, muitas vezes, porque é examinada pela Secretária de Estado. Assumem que os seus ensaios têm um status de “quase-oficial” e normalmente creem que “refletem a forma de pensar do pontificado atual”.
“Que tipo de escrutínio teve este ensaio? Foi consultado algum especialista conhecedor do catolicismo nos Estados Unidos ou do protestantismo evangélico norte-americano sobre o que os supervisores deveriam saber seria uma peça incendiária?”.
Se o ensaio realmente representa as opiniões da Secretária de Estado, assinalou Weigel, perguntou-se como interpretar o discurso do núncio apostólico nos Estados Unidos, o Arcebispo Christophe Pierre, cujo discurso aos bispos americanos “não têm semelhança com o deserto de selvagem pseudoteologia e ódio”.
Weigel resumiu com a aprovação de outros críticos do artigo por uma “má representação mal informada da história religiosa norte-americana”; por “descrições surrealistas” do catolicismo do século XXI e do protestantismo evangélico; suas “obsessões com figuras marginais na vida religiosa norte-americana contemporânea”; e a sua “má interpretação” de como a religião informa o debate público nos Estados Unidos.
Ele sugeriu que a revista e a credibilidade da Secretária de Estado poderiam estar melhor servidas cortando a conexão, advertindo que as interpretações do artigo “levantam profundamente perguntas inquietantes sobre a competência de ambas as partes”.
O New York Times descreveu o ensaio de La Civiltà Cattolica como “um disparo vaticano sobre a proa para os católicos de linha dura dos Estados Unidos”. O ensaio levantou defensores em publicações como Commonweal Magazine e National Catholic Reporter.
Entretanto, os editores da Commonweal Magazine, que não se dão com o conservadorismo dos Estados Unidos, também estão entre os críticos.
Em uma edição do dia 25 de julho, descreveram o artigo como “uma mistura de afirmações selvagens e errôneas, feitas em um estilo desconexo, quase impenetrável”, cujos autores “parecem ignorantes da história religiosa norte-americana”.
Disseram que o artigo foi uma “oportunidade perdida” para criticar o uso político da religião de uma forma que poderia envolver “aqueles que ainda não têm ouvidos para escutar”.
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— ACI Digital (@acidigital) 24 de maio de 2017