DENVER, 26 de ago de 2017 às 14:00
Uma das tradições mais fascinantes, e talvez uma das mais questionáveis ??na Igreja Católica, é a veneração das relíquias.
Para explicar a importância desta prática, a CNA – agência em inglês do Grupo ACI – entrevistou o Pe. Carlos Martins, custódio de relíquias e diretor do ministério Tesouros da Igreja, que translada os restos de vários santos nos Estados Unidos para a sua veneração.
Para começar, o sacerdote fez uma definição do que são relíquias: “objetos físicos que estão associados diretamente com os santos ou com nosso Senhor”.
O sacerdote esclareceu que a palavra relíquia significa “um fragmento” ou “o resíduo de uma coisa que foi, mas agora já não é”.
Pe. Martins explicou que as relíquias podem ser de três tipos:
1. As de “primeira classe”, ou também chamadas de primeiro grau, são “o corpo ou os fragmentos do corpo de um santo, como a carne ou um osso”.
Osso de Santa Rosa/ Foto: Martha Calderón (ACI Prensa)
Cabelo de São Maximiliano Kolbe/ Foto: Martha Calderón (ACI Prensa)
2. As relíquias de “segunda classe” são “algo que pertenceu ao santo, como uma camisa ou um livro (ou fragmentos desses objetos)”;
Roupa de São Francisco e de Santa Clara/ Foto: Martha Calderón (ACI Prensa)
Batina de São Maximiliano Kolbe/ Foto: Martha Calderón (ACI Prensa)
3. E as de “terceira classe” que são “os objetos que o santo tocou ou que foram tocados por uma relíquia de primeira, segunda ou outra de terceira classe de um santo”.
Relíquia de terceiro de terceiro grau sobre o osso de Santo Tomás de Aquino / Foto: Ximena Rondón (ACI Prensa)
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O presbítero esclareceu que “qualquer parte do corpo do santo é sagrada e pode ser colocada em um relicário”. Os ossos, a carne, os cabelos e o sangue também são considerados relíquias.
Em relação às origens da veneração das relíquias, Pe. Martins indicou que remonta ao século II, quando os cristãos recuperaram os restos dos mártires porque essas pessoas tinham sido discípulos fiéis de Cristo.
O sacerdote comentou que durante os primeiros séculos da Igreja também “era uma tradição construir um templo em cima do túmulo de um santo” e citou como exemplo a basílica de São Pedro e a de São Paulo Extramuros, onde o túmulo dos santos está embaixo do altar.
Nesse sentido, destacou que com essa evidência arquitetônica é possível confirmar a autenticidade de uma relíquia, o que é “criticamente importante”.
Sobre o valor das relíquias, indicou que a Bíblia “ensina que Deus age através delas, especialmente em termos de cura”. Indicou que alguns desses acontecimentos foram narrados em 2Re 13,20-21; Mt 9,20-22; At 5,15; e At 19,11-12.
Do mesmo modo, esclareceu que “as relíquias não são mágicas. Não contêm um poder próprio, um poder separado de Deus”, e disse que o Senhor as usa como um meio para realizar os seus milagres porque “quer chamar a nossa atenção para os santos como ‘modelos e intercessores’”.
Em relação ao modo como devem ser conservadas, o sacerdote manifestou que “a maior honra que a Igreja pode conceder a uma relíquia é colocá-la dentro de um altar onde possam celebrar a Missa”.
“Esta prática é realizada desde os primeiros séculos da Igreja. De fato, os túmulos dos mártires eram os altares mais valiosos para a liturgia. Outra alternativa é colocá-las em um nicho devocional onde as pessoas possam venerá-las. Esses santuários são importantes porque proporcionam às pessoas uma experiência mais profunda de intimidade com o santo”, acrescentou.
Por outro lado, indicou que “a Igreja não proíbe que os leigos possuam relíquias. Eles podem tê-las em suas casas”.
Entretanto, disse que, devido aos muitos abusos que foram perpetrados contra as relíquias – como a venda e a negligência – “a Igreja já não emitirá relíquias aos indivíduos, nem mesmo ao clero”.
Em relação à devoção às relíquias apresentadas nas cerimônias de beatificação e de canonização, Pe. Martins explicou que antes que a pessoa seja beatificada, “o túmulo é exumado e os restos mortais são recuperados”. Estes podem ser transladados para uma igreja, capela ou oratório.
Depois da beatificação, a Igreja Católica “só permite a devoção local. Ou seja, a devoção no país onde o indivíduo viveu e morreu”.
“Quando a Madre Teresa de Calcutá foi beatificada, apenas na Índia e na Albânia, onde ela nasceu, foi permitida a sua devoção. Por exemplo, não poderia celebrar uma Missa em sua honra nos Estados Unidos, nem colocar as suas relíquias nos altares deste país”, destacou.
Depois da canonização, a Igreja já permite “uma devoção universal”.
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— ACI Digital (@acidigital) 13 de abril de 2017