Condenado na Operação Lava-jato, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, diz não ter a quem mais apelar senão ao Papa Francisco para obter um julgamento célere, apesar de afirmar em sua carta-protesto que não é católico e não acredita que o Pontífice seja o representante de Cristo na Terra.

Para a perplexidade de católicos e não católicos, Cunha afirma: “Apesar de ser evangélico e não acreditar que o papa é o representante de Deus na Terra, tenho de me render ao ditado popular e, quando não se tem mais a quem recorrer, recorra ao bispo ou ao papa”. O ex-deputado ainda acrescenta que, “como o papa é mais graduado, ficarei com ele”, fazendo uma referência à hierarquia da Igreja Católica.

A carta intitulada “Recurso ao papa” foi escrita pelo político na carceragem do Complexo Médico Penal, em Curitiba (PR), onde está preso. Em sua carta-protesto, Cunha critica o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, por não pautar o seu pedido de liberdade.

Nela, afirma que o ministro Fachin, responsável pelos casos da Lava Jato, se recusa a pautar pedidos de habeas corpus da operação desde que foi concedida a liberdade de José Dirceu pela 2ª turma do STF, contra a sua vontade.

O ex-deputado está preso desde outubro de 2016 e já foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro. Ele começou a negociar acordos de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, mas tem tido dificuldades, pois os procuradores afirmam haver falta de consistência nos relatos do ex-congressista.

Na carta, Cunha diz que além de demorar a pautar seus pedidos de habeas corpus, o relator o “impôs nova prisão, em decorrência de delação da JBS”. Porém, o ex-deputado afirma que, em 2015, havia sido procurado por Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, para pedir ajuda para aprovação de Edson Fachin para o STF, pois teriam “relação de amizade” com o ministro.

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Declara também que os demais envolvidos no caso da JBS foram soltos e apenas ele segue na prisão e acrescenta que o que se vê atualmente é “a assistência célere e eficiente” para “JBS e seus donos”.

“O que eu gostaria, assim como os demais presos preventivos de forma alongada, é ter o direito ao julgamento e não ser vítima de uma obstrução da Justiça a que todos os brasileiros têm direito”, diz.

Por fim, ironiza, afirmando que, “para além de uma dúvida razoável e em cognição sumária, recorro ao papa para ser julgado”.

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