ROMA, 28 de ago de 2017 às 15:30
O vaticanista italiano Andrea Tornielli compartilhou no sábado, 26 de agosto, um artigo no qual conta que o Beato Papa Paulo VI escreveu à mão duas cartas de renúncia ao pontificado, que só deveriam ser publicadas caso perdesse a capacidade de liderar a Igreja por um longo período de tempo.
Tornielli, vaticanista do jornal italiano ‘La Stampa’ e diretor do ‘Vatican Insider’, diz que apesar de Paulo VI nunca ter chegado a apresentar as cartas, elas existem. Isto foi confirmado pelo Cardeal Giovanni Battista Re, Prefeito Emérito da Congregação para os Bispos.
O Cardeal fez essa revelação à revista italiana ‘Araberara’, onde comentou que “João Paulo II me mostrou” as duas missivas.
Em declarações à ‘La Stampa’, o Cardeal italiano explicou que “eram duas cartas escritas à mão, não lembro exatamente a data, mas não se tratava do último período de vida do Papa Montini. Parece que eram do final dos anos 1960 ou 1970”.
Paulo VI, continuou o Cardeal, “estava preocupado com uma possível incapacidade no futuro, de um grave impedimento que não lhe permitisse realizar o seu ministério, e por isso quis ser cuidadoso”.
Paulo VI, cujo nome de nascimento era Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, foi Papa de 1963 a 1978, ano da sua morte.
Tornielli recorda que Paulo VI queria se prevenir diante da possibilidade de perder o uso das suas capacidades mentais, considerando também que em novembro de 1967 o Papa sofreu uma cirurgia de próstata com anestesia total em uma sala de cirurgia improvisada no quarto papal.
“O que aconteceria se, por exemplo, ele não tivesse acordado e tivesse permanecido em estado de coma por um longo período? Para tentar resolver o dilema, diante da maior longevidade das pessoas devido às descobertas da medicina, o Papa decidiu advertir com duas declarações assinadas”, explicou Tornielli.
Essas cartas, continuou, “somente deveriam ser publicadas caso não tivesse sido capaz de manifestar a sua vontade (o que Bento XVI fez claramente em 2013, com total domínio das suas faculdades e da sua liberdade para decidir, por isso que ambos os casos não podem ser comparáveis)”.
“Estamos diante de um caso histórico muito diferente do caso da renúncia por idade ou falta de força, como aconteceu pela primeira vez na história da Igreja, em fevereiro de 2013, com o gesto de Bento XVI”, escreveu Tornielli.
A renúncia do Pontífice Romano entrou no Código de Direito Canônico em 1917 e continua no atual Código vigente, promulgado em 1983.
Uma das cartas de Paulo VI tinha a finalidade de apresentar a renúncia, enquanto a segunda pedia ao Cardeal secretário de Estado “pro tempore” – seu principal colaborador – que insistisse para que os cardeais aceitassem a primeira.
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As cartas deveriam estar nos arquivos da Secretária de Estado, mas o secretário particular de Paulo VI, Pe. Pasquale Macchi, que faleceu em 2006, guardou uma cópia.
Mons. Ettore Malnati, amigo do Pe. Macchi, também confirmou a existência dos documentos e disse que o Cardeal Joseph Ratzinger sabia da existência dessas cartas.
Mons. Malnati relatou que isso aconteceu em outubro de 2003 e compartilhou a reação de quem, em 2005, se tornaria o Papa Bento XVI.
“Recordo que o Cardeal Ratzinger disse algo assim: ‘Esta é uma coisa muito sábia, que cada Papa deveria fazer’”.
A reflexão de outros Papas
Antes do Papa Paulo VI, outros Papas tinham considerado a possibilidade de renunciar: “Pio XI falou sobre a possibilidade de abandonar o seu ministério em caso de doença, enquanto Pio XII predispôs algo semelhante em caso de deportação pelos nazistas: ‘Se me sequestrarem, terão o Cardeal Pacelli, mas não o Papa’”, escreveu Tornielli.
Também é significativo, destacou o vaticanista, “que João Paulo II tenha ensinado esses documentos ao Cardeal Re, pois o Papa polonês sofria de Parkinson e, com a degeneração da sua saúde, também levou em consideração a possibilidade de renunciar”.
O Papa Francisco também se referiu em várias ocasiões a respeito da possibilidade de renunciar ao pontificado, agradecendo inclusive a Bento XVI por ter aberto a porta da existência dos Papas Eméritos.
Em junho deste ano, ao receber os bispos panamenhos e conversar com eles sobre vários temas, como a Jornada Mundial da Juventude programada para janeiro de 2019, Francisco disse sobre o evento que “o Papa participará. Não sei se serei eu ou o outro, mas o Papa irá”.
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VÍDEO: O Papa Francisco irá à JMJ Panamá 2019? Isso foi o que disse https://t.co/jecFDFZjsh
— ACI Digital (@acidigital) 9 de junho de 2017