O Arcebispo de Guadalajara (México), Cardeal Francisco Robles Ortega, se pronunciou a respeito da obra “Sincretismo”, uma escultura inaugurada em meados deste mês e que provocou desconforto nos fiéis católicos por mesclar a Virgem de Guadalupe com a deusa pré-hispânica Coatlicue.

“Sincretismo” é uma escultura metálica feita por Ismael Vargas e que funde Nossa Senhora de Guadalupe com a Coatlicue, a “mãe de Huitzilopochtli, o deus padroeiro dos mexicas”.

A divindade tem entre as suas características uma saia de serpente, um colar de mãos e corações humanos arrancados de vítimas sacrificadas, assim como duas cabeças de serpentes encontradas que substituem a cabeça e que simulam dois jatos de sangue que brotam do seu pescoço cortado.

Esta obra provocou desconforto entre os fiéis. Então, um grupo de aproximadamente mil pessoas marchou pacificamente no último sábado como um “ato de desagravo”,e a fim de manifestar a sua inconformidade contra esta obra financiada com fundos municipais e de compensação e que faz parte da iniciativa Arte Pública em Guadalajara do conselho municipal da cidade.

No final da Missa de domingo, 27 de agosto, o Purpurado manifestou o seu apoio a essa manifestação de rechaço. “Esta é a expressão de um bom número de pessoas que foram, que puderam ir, mas haverá outras que não puderam estar presentes, mas também os apoiam nessa visão. Cabe às autoridades ler e interpretar essa inquietude legítima destas pessoas de discordar e se expressar”, assinalou.

O Cardeal indicou que ante a polêmica gerada, o autor enviou uma carta há alguns dias para explicar as suas intenções ao criar esta obra.

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Na carta, lida pelo Arcebispo, Vargas disse que pretendia apresentar “um relato claro e respeitoso do processo histórico que permitiu a espiritualidade das culturas ameríndias se encaixar com a fé cristã”.

O Cardeal Robles Ortega advertiu que esse tipo de obra perturba a fé das pessoas simples, que estão acostumadas a ver a imagem única da Virgem de Guadalupe.

“Somente a obra em si mesma, sem que ninguém dê uma explicação, perturba, inquieta as pessoas mais simples; ou seja, aqueles que não têm a capacidade de transcender a obra de arte e o seu significado. Acho que isso foi o que aconteceu. Os devotos mais simples e humildes da devoção da Santíssima Virgem, acostumados a ver a sua imagem única e clássica, se sentem perturbados, confusos, por essa interpretação que pretende ser artística”, expressou.

O Arcebispo disse que a Arquidiocese não está disposta a pedir que a escultura seja deslocada, mas indicou que “talvez (as autoridades) não mediram o que poderia significar para a sensibilidade dos outros católicos, que temos uma devoção profundamente enraizada à Santíssima Virgem de Guadalupe”.

Lançam campanha para a retirada da escultura

Por sua parte, através da plataforma CitizenGo, foi lançada um abaixo-assinado para exigir a Enrique Alfaro, prefeito de Guadalajara, que “retire do bairro do Refugio a obra ‘Sincretismo’, localizada na Av. Federalismo e na RUA Hospital, pois parece ofensiva a relação que o seu autor faz entre Coatlicue, a deusa da morte, e a Virgem de Guadalupe”.

“Os católicos consideramos uma ofensa grave que em nome da arte, seja profanada a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe e que apaguem a mensagem que em si mesma deu origem a uma nova cultura mestiça do próprio Povo Mexicano”, afirma a campanha, iniciada por Emmanuel Torres Rentería e que já tem mais de 25 mil assinaturas.

Recordou que “a tilma da Virgem de Guadalupe é em si mesma uma obra de arte divina que deve ser representada como já foi feito por São Juan Diego há aproximadamente 500 anos. Acreditamos que esta obra de sincretismo que une a deusa da morte asteca e a Virgem de Guadalupe é uma provocação aos católicos, além do alto custo de mais de 5 milhões de pesos, e não podemos permitir isso”.

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