BOGOTÁ, 8 de set de 2017 às 10:55
Depois das atividades da manhã na quinta-feira, 7 de setembro, em Bogotá, Colômbia, o Papa Francisco descansou na Nunciatura Apostólica e, em seguida, teve um encontro com o Comitê Diretivo do CELAM, recordou-lhes que a Igreja é sacramento de esperança, encorajando-os a evangelizar com paixão superando o desânimo.
Em um discurso criticou à burocratização e ao aburguesamento das estruturas da igreja na América Latina, o Papa disse aos bispos: “Se queremos servir, como CELAM, a nossa América Latina, temos de o fazer com paixão. Hoje faz falta paixão”.
“Pôr o coração em tudo o que fazemos, paixão do jovem enamorado e do idoso sábio, paixão que transforma as ideias em utopias viáveis, paixão no trabalho das nossas mãos, paixão que nos transforma em incessantes peregrinos pelas nossas Igrejas”, disse o Pontífice.
Na sua mensagem, deu um exemplo de São Toríbio de Mogrovejo, “que não se instalou na sua sede: de 24 anos de episcopado, 18 passou-os nas localidades da sua diocese. Por favor, irmãos, peço-vos paixão, paixão evangelizadora”.
Diante do aburguesamento da Igreja na América Latina, o Santo Padre disse que “deve continuar humildemente a prestar o seu serviço ao verdadeiro bem do homem latino-americano”.
“Deve trabalhar incansavelmente por construir pontes, abater muros, integrar a diversidade, promover a cultura do encontro e do diálogo, educar para o perdão e a reconciliação, para o sentido de justiça, a rejeição da violência e a coragem da paz”, acrescentou.
“Não podemos perder o contato com este substrato moral, com este húmus vital que habita no coração do nosso povo; nele se percebe a mistura quase indistinta, mas ao mesmo tempo eloquente do seu rosto mestiço: não apenas indígena, nem hispânico, nem lusitano nem afro-americano, mas mestiço, latino-americano!”, sublinhou.
Do mesmo modo, pediu que a Igreja seja um “sacramento da esperança”, porque “a nós, não é permitido ser lamurientos, porque a esperança que temos vem do Alto”.
“Além disso, sabemos que o coração latino-americano foi treinado para a esperança”, mas, “é necessário vigiar sobre a concretização desta esperança. Quanto mais transcendente, tanto mais deve transformar o rosto imanente daqueles que a possuem”.
“Peço-vos que vigieis sobre a concretização da esperança”, o Santo Padre insistiu aos bispos presentes e lhes recordou que alguns dos seus rostos já visíveis são dos jovens, da mulher e dos leigos.
O Papa Francisco recordou que o encontro com o Cristo vivo “exige que os discípulos cultivem a familiaridade com Ele; caso contrário, ofusca-se o rosto do Senhor, a missão perde força, retrocede a conversão pastoral”.
“Rezar e cultivar o relacionamento com Ele é a atividade mais improrrogável da nossa missão pastoral”. “Se em missão não sairmos com Ele, rapidamente perderemos o caminho, arriscando-nos a confundir as nossas vãs necessidades com a sua causa”, acrescentou.
“Se a razão do nosso caminhar não é Ele, será fácil desanimar no meio da fadiga do caminho, perante a resistência dos destinatários da missão, face aos cenários mutáveis das circunstâncias que marcam a história, ou pelo cansaço dos pés devido ao desgaste insidioso causado pelo inimigo”.
“Não faz parte da missão ceder ao desânimo, quando porventura, passado o entusiasmo do início, chega o momento em que tocar a carne de Cristo se torna muito duro”.
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“O que torna permanente a missão não é o entusiasmo que inflama o coração generoso do missionário, embora sempre necessário; mas sim a companhia de Jesus por meio do seu Espírito”, afirmou o Santo Padre.
“Em uma situação como esta, Jesus não acalenta os nossos medos. E, como sabemos muito bem que não há mais ninguém para quem possamos ir porque só Ele tem palavras de vida eterna, consequentemente é necessário aprofundar a nossa vocação”.
“Muito se falou sobre a Igreja em estado permanente de missão. Sair, partir com Jesus é a condição desta realidade. O Evangelho fala de Jesus que, saído do Pai, percorre, com os seus, os campos e as povoações da Galileia”.
“Não é inútil este percurso do Senhor. Enquanto caminha, encontra; quando encontra, aproxima-Se; quando Se aproxima, fala; quando fala, toca com o seu poder; quando toca, cura e salva”.
“Levar ao Pai aqueles que encontra é o objetivo do seu permanente sair, sobre o qual devemos refletir continuamente. A Igreja deve reapropriar-se dos verbos que o Verbo de Deus conjuga na sua missão divina. Sair para encontrar, sem passar ao largo; reclinar-se sem desleixo; tocar sem medo”.
O Santo Padre enfatizou que “a esperança na América Latina tem um rosto feminino” e recordou “as mães indígenas ou morenas, penso nas mulheres das cidades com o seu triplo turno de trabalho, penso nas avós catequistas, penso nas consagradas e nas artesãs tão discretas do bem. Sem as mulheres, a Igreja do Continente perderia a força de renascer continuamente”.
“São as mulheres que, com meticulosa paciência, acendem e reacendem a chama da fé”.
“É uma séria obrigação compreender, respeitar, valorizar e promover a força eclesial e social do que elas fazem. Acompanharam Jesus missionário; não se retiraram do pé da cruz; na solidão, esperaram que a noite da morte devolvesse o Senhor da vida; inundaram o mundo com a sua presença ressuscitada. Se quisermos uma fase nova e vital da fé neste Continente, não a obteremos sem as mulheres”.
“Aparecida é um tesouro, cuja descoberta ainda está incompleta. Tenho certeza de que cada um de vós descobre quanto a sua riqueza se enraizou nas Igrejas que trazeis no coração”.
No final do encontro com os 62 membros do organismo eclesial formado pelos representantes das diversas comissões e conferências episcopais da América Latina, o Santo Padre saudou os presentes e tirou a fotografia oficial.
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— ACI Digital (@acidigital) 7 de setembro de 2017