Ficou sequestrado durante 18 meses e finalmente libertado. Trata-se do sacerdote salesiano Tom Uzhunnalil, sequestrado em 4 de março de 2016 por terroristas jihadistas no Iêmen, depois que quatro irmãs e doze idosos que estavam no centro das Missionárias da Caridade foram assassinados.

Atualmente está em Roma, onde foi recebido na quarta-feira, 13 de setembro, pelo Papa Francisco no Vaticano e onde realizou uma coletiva de imprensa no último sábado.

O sacerdote começou recordando as religiosas assassinadas e não pôde deixar de chorar durante alguns instantes depois de ver algumas das Irmãs da Congregação entre os presentes. “Estou feliz em vê-las. Minhas condolências a todas”, disse chorando. “Agradeço a Deus por este dia, porque me manteve bem, saudável, com uma consciência clara”, acrescentou.

O sacerdote explicou que nos 18 meses de sequestro “esteve muito bem, nunca me apontaram nenhuma arma”. “Fui levado de carro a vários lugares. Não tive medo, nunca chorei. Eu não fui maltratado. Deus e Jesus estiveram comigo”.

Pe. Tom disse que uma vez teve acesso à Eucaristia, pois os jihadistas levaram alguns dos objetos da capela, entre eles o tabernáculo onde estava o Corpo de Cristo.

“Desde o principio, pensei que nada poderia acontecer comigo se Deus não permitisse. Nem um cabelo da cabeça cai sem a sua permissão. Essas palavras vieram a minha mente e me fortaleceram”.

O salesiano quis deixar claro em diferentes ocasiões que em nenhum momento foi torturado nem sofreu “nenhuma injúria” dos sequestradores. “Não sabia onde estava e nem quem eram os meus sequestradores e qual o grupo que havia me sequestrado. Quando me levaram a uma das casas – estive pelo menos em três lugares diferentes – inclusive me disseram que tinham médicos e que iriam cuidar de mim”. “Eu tinha um quarto, uma cama, me davam almoço e podia ir ao banheiro”, contou aos jornalistas.

Os sequestradores lhe pediram os números de telefone e contatos para advertir sobre o seu sequestro e “parece que eles queriam dinheiro”. “Eles me perguntaram: ‘Quem pode ajudá-lo? O teu país pode te ajudar sair daqui? O Papa pode fazer alguma coisa por você?’”.

No dia seguinte, afirma que “enviaram o primeiro vídeo no qual se confirma que fui sequestrado”. “Um deles disse: ‘Nós pensamos que o teu país (Índia) não reagiria, mas regiram’”.

Outro lugar onde permaneceu preso foi em uma região montanhosa e mais tarde em outro local que não conhece. “Em um dos vídeos que filmaram, parecia que me maltratavam, mas não era verdade. Eles me disseram que seria um fingimento e enviaram-no para aumentar o interesse”.

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Aniversário em cativeiro

O sacerdote repetiu várias vezes: “Deus esteve comigo, muitas pessoas rezaram e o fruto disso é que eu permaneci bem e fiquei tranquilo durante esse tempo”.

A relação com os seus sequestradores não era ruim e revela até mesmo que um dia lhe perguntaram a sua idade. “‘Quantos anos você tem?’. Eu tinha 58 anos. Disseram-me: ‘Não se preocupe, você viverá até os 85’”.

“Em 18 de agosto comemorei o meu aniversário, o segundo em cativeiro. Agora tenho 59 anos. Se me perguntam o que eu fazia todos os dias, posso dizer que permaneci no quarto, podia fazer o que eu queria”.

“Deus inspirou para me dessem o necessário, sou o que sou porque Deus cuidou de mim. Dormia bem e durante o dia rezava pelo Papa, pelos bispos, pelo meu superior, pelas pessoas que morreram e pelas que estavam vivas. Celebrava a Missa espiritualmente. Rezava por tantas pessoas que havia conhecido. Também pelos sequestradores e, claro, pelas irmãs que morreram”.

Além disso, contou que todos os dias antes de dormir “agradecia por ter vivido mais um dia e não ter outras preocupações”. “Nunca chorei, inclusive quando filmavam os vídeos e me pediram para chorar, eu não conseguia. Queriam mostrar algo trágico”.

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O sacerdote acrescentou que não sabe muito bem quem ajudou na sua libertação, nem exatamente o que os jihadistas queriam que ele fizesse, mas sabe que o governo indiano, o Vaticano e o sultanato de Omã estiveram envolvidos na sua libertação.

Encontro com o Papa

Sobre o seu encontro com o Pontífice, explicou que “nunca tinha estado com o Papa Francisco”. “Rezava todos os dias por ele. Fiquei muito emocionado com a reunião. Ele é o Vigário de Cristo. O Papa beijou minhas mãos e me sinto indigno. Disse que tinha rezado por mim. Os sequestradores às vezes me diziam: ‘O Papa diz que em breve você será libertado’, mas em seguida não acontecia nada, embora eu soubesse que a Igreja e o mundo estavam preocupados comigo”.

Em relação ao seu futuro, garante: “Estou a serviço de Deus e disponível para o que Ele quiser”. Depois de realizar mais exames médicos e conseguir o passaporte indiano, voltará para a sua casa com a sua família e continuará a sua vida como salesiano, longe do cativeiro infligido pelos jihadistas.

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