PARIS, 7 de nov de 2017 às 17:00
Em meio da polêmica causada na França, depois da ordem do Conselho Estadual de retirar a cruz de uma estátua dedicada a São João Paulo II, a Primeira Ministra da Polônia, Beata Szydlo, ofereceu acolher o monumento em seu país para salvá-lo da “ditadura do politicamente correto” e da “secularização do Estado”.
Em 25 de outubro, o Conselho de Estado da França, a última instância da jurisdição administrativa do país, ordenou ao município de Ploërmel, no departamento de Morhiban, retirar a cruz da estátua dedicada ao Pontífice polonês em um prazo de seis meses, porque contradiz a lei promulgada em 1905 sobre a separação entre a Igreja e o Estado.
Esta norma proíbe a instalação de símbolos religiosos como emblema nos monumentos ou em qualquer lugar público. Os únicos espaços permitidos são os lugares de culto, cemitérios ou museus.
Szydlo anunciou em 28 de outubro, através da Agência de Imprensa da Polônia, que “nós fizemos a proposta de transferi-lo (o monumento) à Polônia, caso as autoridades francesas e a comunidade local concordem”.
A Primeira Ministra destacou que São João Paulo II, “nosso grande compatriota, um grande europeu, é um símbolo da Europa cristã unida” e afirmou que “a ditadura do politicamente correto – da secularização do Estado – abre um espaço aos valores que são culturalmente alheios a nós e que levam a aterrorizar a vida diária dos europeus”.
O monumento de bronze, elaborado pelo artista russo Zourab Tsereteli, tem oito metros de altura e tem um arco sobre o qual está uma cruz. Foi instalado em 2006, em Ploërmel, a pedido do então prefeito, Paul Anselin.
Quatro anos depois, começou a polêmica da cruz, a partir de uma reclamação da Federação Morbihanesa de Livre Pensamento e, após uma longa batalha legal, em 2015 um tribunal francês ordenou ao prefeito da cidade que retirasse o sinal em um período de seis meses.
Essa decisão foi revertida por um tribunal administrativo de Nantes em dezembro daquele mesmo ano e agora foi anulada pela decisão do Conselho de Estado da França.
Dom Raymond Centène, Bispo de Vannes, Diocese onde o monumento foi colocado, disse ao jornal ‘Famille Chrétienne’ que este caso mostra “a grande preocupação sobre a identidade e filiação religiosa” da França.
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“Muitos franceses se sentem ameaçados em sua identidade, é por isso que esse tema se tornou um símbolo que agita as redes sociais. O mais doloroso é que a missão da cruz é reunir os homens, como dizem as escrituras, e não dividi-los”.
“Jesus entregou a sua vida para reunir os filhos de Deus dispersos. A cruz é um sinal de identidade cultural tanto quanto um sinal de unidade”, disse Dom Centène.
“Mesmo que os pensadores livres queiram ou não, o cristianismo faz parte da nossa identidade europeia. O cristianismo é mais do que uma religião, é constitutivo do nosso ser, do nosso modo de viver e da nossa forma de entender os problemas de convivência”, acrescentou.
Por sua vez, o atual prefeito de Ploërmel, Patrick Le Diffon, disse à Agência France-Presse que poderia levar o caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
“Há doze anos a estátua faz parte da paisagem de Ploërmel, não prejudica os habitantes. Muito pelo contrário, é algo turístico para a comunidade”, afirmou o prefeito.
Também indicou que planeja vender o terreno onde o monumento foi erguido a um proprietário privado, a fim de que já não possa ser aplicada a lei da separação entre a Igreja e o Estado.
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— ACI Digital (@acidigital) 20 de maio de 2015
“Não toquem o meu Papa”: Franceses defendem estátua de bronze de João Paulo II. pic.twitter.com/FAXRnG0OZ4