O Papa Francisco explicou, na coletiva de imprensa do voo de volta a Roma, por que não foi explícito ao referir-se ao povo "rohingya" durante sua visita a Mianmar.

Vários meios de comunicação questionaram e elaboraram teorias sobre porque o Papa Francisco não se referiu diretamente aos "rohingyas" durante a sua viagem a Mianmar na semana passada.

Os rohingyas são um grupo heterogêneo de pessoas que compartilham uma religião maioritária, a muçulmana; e a mesma língua, o rohingya, resultado da fusão de diferentes idiomas, como árabe, urdu ou birmanês escrito principalmente com caracteres árabes.

A presença deste povo em Myanmar está registrada desde o século VIII.

No dia 25 de agosto de 2017, o grupo guerrilheiro Exército de Salvação Rohingya de Arakán (ESRA) lançou um ataque terrorista contra locais do exército e da polícia em Mianmar, mais de 600 mil rohingyas tiveram que buscar refúgio no país vizinho, Bangladesh, para fugir da repressão do governo.

O governo de Mianmar não reconhece os rohingyas como uma etnia, e alguns meios divulgaram o rumor de que as autoridades pediram ao Papa que evitasse mencionar o nome deles.

Durante a sua viagem a Mianmar, o Santo Padre não se referiu diretamente aos "rohingya", mas sim o fez na sua visita a Bangladesh, onde encontrou 18 refugiados membros deste grupo e lhes pediu perdão pela indiferença do mundo.

Na coletiva de imprensa a bordo do avião que o levou de Bangladesh a Roma neste sábado, o Papa Francisco indicou que, na verdade, não foi a primeira vez que se referiu aos rohingya. Várias vezes em público, na Praça São Pedro, no Ângelus ou em audiências o Papa falou de sua situação usando o termo rohingya.

Entretanto, durante a sua viagem a Mianmar, não mencionou a palavra porque “a coisa mais importante é que a mensagem chegue, e por isto procurar dizer as coisas passo a passo e ouvir as respostas, para que chegue a mensagem”.  

“Para mim interessa que esta mensagem chegue. Por isto, vi que se no discurso oficial tivesse pronunciado a palavra, teria batido a porta na cara. Mas descrevi a situação, os direitos, ninguém excluído, cidadania para permitir-se nos colóquios privados, ir além”.

O Pontífice assegurou: “Fiquei muito, muito satisfeito pelos colóquios que pude ter, porque é verdade – digamos assim –, eu não tive o prazer de bater a porta na cara, publicamente, (fazer) uma denúncia: não, mas tive a satisfação de dialogar, de fazer o outro falar, de dar a minha mensagem e assim ela chegou”.

Em seguida, o Papa destacou os esforços do governo de Bangladesh para acolher os refugiados rohingyas.

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“O que faz Bangladesh por eles é algo grande, é um exemplo de acolhida. Um país pequeno, pobre, que recebeu 700 mil”.

O Santo Padre disse: “Penso em países que fecham as portas”, e assinalou que “devemos ser agradecidos pelo exemplo que nos deram” em Bangladesh.

A respeito do seu encontro com os 18 refugiados rohingya, o Santo Padre lamentou que “estivessem em fila indiana” e que “logo queriam mandá-los embora do lugar”.

“E ali eu me irritei e gritei um pouco – sou pecador”, disse.

“Eu disse tantas vezes a palavra ‘respeito, respeito, parem’, e eles ficaram ali”, assinalou.

O Papa disse que “depois de ouvi-los um a um com a intérprete que falava a sua língua, eu comecei a sentir coisas dentro: “Mas, eu não posso deixá-los ir sem dizer uma palavra”.

“Pedi o microfone e comecei a falar. Não recordo o que disse. Sei que em determinado momento pedi perdão. Acredito que duas vezes, não me recordo”, contou.

“Nesse momento, eu chorava. Procurava que não vissem. Eles também choravam. E depois, pensei que estávamos em um encontro inter-religioso, e [enquanto] os líderes das outras tradições religiosas, os religiosos estavam distantes disse: ‘não, venham vocês também: eles são os rohingyas de todos nós’”, recordou.

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