Em 17 de janeiro de 1918, há exatos cem anos, o Papa Bento XV publicou a bula “Quo vehementius”, por meio do qual determinou a restauração da Diocese de Leiria, em Portugal, a qual tinha sido extinta em 1882 por motivos políticos.

Para celebrar esta data, a Diocese de Leiria-Fátima vive, após o centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima no ano passado, o centenário de sua restauração neste ano.

“Queremos que seja um tempo de graça e de renovação espiritual e pastoral desta diocese particularmente abençoada pelo carisma de Fátima, das aparições e da mensagem da Senhora e do Santuário popularmente reconhecido como ‘altar do mundo’”, declarou o Bispo diocesano, Dom António Marto durante Missa de 31 de dezembro, no Santuário da Cova da Iria.

No marco desta comemoração, a Diocese de Leiria-Fátima promoverá algumas atividades ao longo do ano, com destaque para um concerto comemorativo que acontecerá no próximo sábado, 20 de janeiro, às 21h, na Sé de Leiria, com a Banda Sinfônica da Associação de Bandas do Concelho de Leiria, que interpretará músicas do Cónego Carlos da Silva.

Haverá ainda a celebração de uma Missa solene de ação de graças no domingo, 21 de janeiro, às 16 horas, também na Sé de Leiria, com a presença de Bispos de outras Dioceses, de Presidentes das Câmaras representantes das autarquias municipais e de outras autoridades.

Para estes eventos, Dom António Marto lançou um convite a todos os fiéis a participarem “como sinal de comunhão afetiva com a nossa Igreja diocesana”.

O Prelado recordou que com a bula de restauração da Diocese do Papa Bento XV “serviu, ontem como hoje, para corresponder às novas exigências pastorais da Igreja, a saber: incremento da fé cristã, anúncio do Evangelho, maior proximidade ao povo, à sua vida e à sua história”.

“As grandes datas da vida das pessoas, das famílias e dos povos merecem e devem ser evocadas e festejadas, enquanto celebração da nossa vida e da nossa história. Por isso, estamos a celebrar um Ano Jubilar do centenário da restauração da Diocese”, completou.

Cem anos de restauração

A Diocese de Leiria foi erigida por meio da Bula “Pro excellenti apostolicae sedis”, do Papa Paulo III, datada de 22 de maio de 1545, após pedido dirigido por Dom João III.

No artigo “Nota histórica resumida sobre a diocese de Leiria-Fátima” publicado em seu site, a Diocese portuguesa recorda que ao fazer o pedido ao Pontífice, Dom João ressaltava que Leiria “é uma das notáveis vilas deste reino e de muita clerezia e povo”.

A primeira Sé foi a Igreja de Nossa Senhora da Pena; mais tarde foi construída a de São Pedro. “Posteriormente, ainda no século XVI, foi construída a atual e ampla sé, em local de mais fácil acesso do que as anteriores”, conta o artigo.

Entretanto, o desenvolvimento desta Diocese foi interrompido logo no começo do século XIX, com as “nefastas invasões francesas, que dizimaram cerca de um terço da população”, conforme recordou Luís Miguel Ferraz no artigo “Diocese de Leiria-Fátima: resenha histórica”, publicado em 12 de janeiro no site diocesano.

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Segundo a “Nota histórica” da Diocese, “as invasões francesas, entre 1807 e 1811, atingiram duramente a região de Leiria”. “A sua população ficou reduzida a umas 150 pessoas, sendo antes cerca de 3000”.

Tais invasões francesas ocorreram em 1807-1808, 1809 e 1810-1811, devido à recusa portuguesa em aderir ao Bloqueio Continental decretado por Napoleão Bonaparte em relação à Inglaterra. Tais invasões acarretaram inclusive na retirada da família real e da corte de Portugal, que decidiram embarcar e instalar-se no Brasil, então sua colônia.

Após esses fatos, Leiria e a região se viu em meio à desolação. “Quando o bispo Dom Manuel de Aguiar, que estivera refugiado em Lisboa” regressou, viu que “o paço episcopal, o convento de Sant'Ana e o recolhimento de Santo Estêvão tinham sido incendiados, o Seminário estava arruinado, a Sé fora saqueada e o hospital tinha vários estragos e perdera os seus títulos de renda”.

“Nas freguesias – recorda o relato diocesano – não era menor a desolação: havia órfãos e viúvas a cuidar, doentes e feridos a tratar, muita miséria e desgraça a remediar”.

Foi nessa época que, segundo Luís Miguel Ferraz, “apesar de se ter revelado uma diocese extremamente estável administrativa e pastoralmente, Leiria não resistiria à política do Estado liberal português, acabando por ser extinta em 30 de setembro de 1881, sendo a bula de Leão XIII executada um ano depois”.

Leiria teve que enfrentar ainda a “Lei de Separação do Estado e das Igrejas, com a instauração da República, em 1910, vendo uma “espoliação dos bens da Igreja e a perseguição aos seus membros. Algumas igrejas e o paço episcopal são transformados em quartéis militares ou ocupados por entidades estatais”, lembra a nota histórica da Diocese.

Entretanto, em 17 de janeiro de 1918, com a bula “Quo vehementius” do Papa Bento XV, os leirienses conseguiram restaurar sua Diocese.

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“Com tanta veemência foi doloroso à Sé Apostólica, quando as circunstâncias a induziram a suprimir, no dia trinta de Setembro do ano do Senhor de mil oitocentos e oitenta e um, a Diocese de Leiria, em Portugal, a qual Paulo III erigira em vinte e dois de Maio do ano do Senhor de mil quinhentos e quarenta e cinco, quanto agora rejubila porque a feição dos tempos Lhe permite restabelecer aquela antiga Igreja Catedral”, assinalou o Pontífice na bula.

Vale recordar que, um ano antes da restauração da Diocese, em 1917, aconteceram as aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos em Portugal, dando “início a uma nova fase para esta diocese. Fátima começa a atrair milhares e, posteriormente, milhões de peregrinos”.

Anos mais tarde, em 1963, Nossa Senhora de Fátima passou a ser a padroeira desta Diocese, ao lado de Santo Agostinho. Posteriormente, pela bula pontifícia “Qua pietate”, de 13 de maio de 1984, a Diocese passou a se chamar Leiria-Fátima.

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