VATICANO, 22 de jan de 2018 às 15:00
Na coletiva de imprensa que concedeu no avião papal que o levou de Lima para Roma, o Papa Francisco se desculpou pela palavra “prova”, que usou em sua resposta sobre o Bispo chileno Juan Barros, que é acusado por algumas pessoas de encobrir os crimes do sacerdote Fernando Karadima, e que gerou uma série de críticas no país sul-americano.
No dia 18 de janeiro, antes de celebrar a Missa em Iquique, o Papa disse aos jornalistas: “No dia que me trouxerem uma prova contra Dom Juan Barros, eu vou falar a respeito. Não há nenhuma prova contra ele. Tudo é calúnia. Está claro?”.
Dom Barros lidera a Diocese de Osorno desde 2015 e sempre se disse inocente de encobrir os abusos do sacerdote Fernando Karadima, declarado culpado pela Congregação para a Doutrina da Fé em fevereiro de 2011.
No avião papal, uma jornalista chilena questionou o Santo Padre: “Por que acredita mais no testemunho de Dom Barros do que no das vítimas? Não se trai um pouco essa confiança que o senhor mesmo cultivou no Chile?
Francisco, que no dia 16 de janeiro se reuniu com um grupo de vítimas de abusos, disse que compreendia a pergunta da jornalista e pediu desculpas por ter usado a palavra “prova” em vez de “evidência”.
“O que sentem os abusados? E com isso devo pedir desculpas, porque a palavra ‘prova’ feriu, feriu muitos abusados: ‘Ah, eu tenho que ir buscar a evidência disso?’. Não. É uma palavra de tradução do princípio legal, é ferida... E lhes peço perdão se os feri sem perceber. É uma ferida sem querer”.
O Papa Francisco disse que em Iquique “a palavra ‘prova’ é a que me traiu e gerou confusão. Eu falaria de evidências. E claro, então eu sei que há muitas pessoas abusadas e que não podem trazer uma prova, não a têm. E que não podem, ou às vezes a têm mas têm vergonha, que cobrem e sofrem em silêncio. O drama dos abusados é tremendo, é tremendo”.
“Isso me causou tanta dor, porque os recebo (as vítimas)... no Chile eu os recebi... dois se sabe e houve outros mais escondidos”, indicou.
Francisco assinalou que “a palavra ‘prova’”, em sua resposta aos jornalistas em Iquique, “não era a melhor para aproximar-me de um coração dolorido. Eu diria ‘evidências’. O caso de Barros foi estudado, reestudado, e não há evidências. É o que quis dizer. Não tenho evidências para condenar. Então, se eu condenasse sem evidências ou sem certeza moral, eu cometeria um delito de mau juiz”.
Em seguida, passando às acusações contra Dom Barros, o Papa recordou que, no Chile, há quatro bispos aos quais Fernando Karadima enviou ao seminário e que uma pessoa na Conferência Episcopal sugeriu que “renunciassem, entregassem sua demissão, tomara um ano sabático e depois, passada a tormenta, para evitar acusações (voltaram) porque são bons bispos”.
Francisco explicou que, depois dessa sugestão, Dom Barros apresentou sua renúncia a Roma e lhe “disse ‘não’, assim não se joga porque isso é admitir a culpabilidade prévia”. Além disso, afirmou que se em uma investigação contra candidatos a bispos encontra-se que são culpados, “eu o freio”.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
Dom Barros, recordou, foi nomeado em 2015 como Bispo de Osorno “e seguiu adiante todo este movimento de protesto”. O Prelado “me deu a renúncia pela segunda vez e lhe disse ‘não, você vai’”, assinalou.
O Santo Padre disse que o caso de Dom Barros foi investigado mais uma vez e se viu que não há “as evidências. E isso é o que quis dizer: não pude condená-lo, porque não tenho as evidências, embora eu esteja convencido de que é inocente”.
Na coletiva de imprensa, também perguntaram ao Papa sobre uma declaração que o Cardeal Sean O’Malley, Arcebispo de Boston (Estados Unidos) e presidente Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, emitiu no sábado, 20 de janeiro, acerca das palavras do Santo Padre em Iquique.
O Purpurado norte-americano assinalou em sua declaração que “é compreensível que as declarações do Papa Francisco” no “Chile tenham sido motivo de grande dor para os sobreviventes de abusos sexuais cometidos pelo clero ou algum outro perpetrador”.
“As palavras que levam a mensagem ‘se não pode provar suas acusações então não vão acreditar em você’ abandonam aqueles que sofrem repreensíveis violações criminais de sua dignidade humana e relegam os sobreviventes a um exílio desacreditado”, prosseguiu o Arcebispo de Boston.
O Cardeal disse que não conhece pessoalmente os fatos sobre o quais o Santo Padre opinou, mas o que sabe é que “o Papa Francisco reconhece plenamente as grandes falhas da Igreja e o clero que abusou das crianças gerando um impacto devastador nos sobreviventes e seus entes queridos”.
“Pensei no Cardeal O’Malley”, indicou Francisco. “Agradeço ao Cardeal O’Malley por sua declaração, porque foi muito justa. Disse tudo o que eu fiz e faço e o que a Igreja faz e, em seguida, falou da dor das vítimas”, assinalou.
“Como disse no começo, há muitas vítimas que não são capazes, por vergonha ou pelo que seja, de levar um documento ou um testemunho disso”, acrescentou.
Confira também:
Papa no Chile fala sobre Dom Juan Barros: Não há nenhuma prova contra ele https://t.co/MVWNGN3Lpw
— ACI Digital (@acidigital) 18 de janeiro de 2018