VATICANO, 31 de jan de 2018 às 05:00
O Papa Francisco encarregou Dom Charles J. Scicluna, Arcebispo de Malta e Presidente do Colégio para o exame de recursos em matéria de delitos graves da Sessão Ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, de viajar ao Chile para ouvir algumas pessoas que manifestaram ter provas do suposto encobrimento de abusos por parte do Bispo de Osorno, Dom Juan Barros.
A Santa Sé anunciou na terça-feira, 30 de janeiro, a decisão do Pontífice de enviar Dom Scicluna para “ouvir as pessoas que manifestaram o desejo de submeter elementos em seu processo” em relação a Dom Barros.
Nas últimas semanas e depois da visita do Papa ao Chile, algumas pessoas se manifestaram contra a chegada do Pontífice em protesto pela gestão que a Igreja teve no país sul-americano diante de alguns casos de abusos sexuais de menores perpetrados pelo sacerdote Fernando Karadima, declarado culpado pelo Vaticano em 2011.
No dia 18 de janeiro, antes de celebrar a Missa no Campus Lobito, em Iquique, no norte do Chile, o Papa Francisco respondeu à imprensa sobre as acusações de encobrimento de abusos sexuais contra Dom Juan Barros.
“No dia que me trouxerem uma prova contra Dom Juan Barros, eu vou falar a respeito. Não há nenhuma prova contra ele. Tudo é calúnia. Está claro?”, disse o Santo Padre naquela ocasião.
Em outubro de 2015, o Papa Francisco reiterou o seu apoio à nomeação de Dom Juan Barros e encorajou os fiéis de Osorno a “não se deixarem levar por aqueles que querem provocar confusão, que buscam calúnia”.
Logo depois das declarações do Papa, o Cardeal Sean O'Malley, Prefeito da Comissão do Vaticano para a Tutela dos Menores e membro do Conselho que aconselha o Papa sobre a reforma da Cúria e outros assuntos, expressou seu desacordo com as palavras de Francisco.
Em um comunicado, o Arcebispo de Boston também assinalou que “é compreensível que as declarações do Papa Francisco” no “Chile tenham sido motivo de grande dor para os sobreviventes de abusos sexuais cometidos pelo clero ou algum outro perpetrador”.
O Purpurado acrescentou que “as palavras que levam a mensagem ‘se não pode provar suas acusações então não vão acreditar em você’ abandonam aqueles que sofrem repreensíveis violações criminais de sua dignidade humana e relegam os sobreviventes a um exílio desacreditado”.
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Após a declaração do Cardeal O’Malley, o Santo Padre pediu desculpas pelas suas palavras durante a coletiva de imprensa no voo de volta a Roma, dizendo que estava errado na maneira como se expressou.
“O caso de Barros foi estudado, reestudado, e não há evidências. É o que quis dizer. Não tenho evidências para condenar”, disse o Santo Padre no voo papal em relação a Dom Barros.
“Com base nesse ‘não há evidências’, espero alguma evidência para mudar de posição, se não eu não aplico o princípio legal básico em todos os tribunais ‘nemo malus ni si probeto’, ninguém é culpado até que seja comprovado”.
“O que sentem os abusados? E com isso devo pedir desculpas, porque a palavra ‘prova’ feriu, feriu muitos abusados: ‘Ah, eu tenho que ir buscar a evidência disso?’. Não. É uma palavra de tradução do princípio legal, é ferida... E lhes peço perdão se os feri sem perceber. É uma ferida sem querer”, disse Francisco na coletiva de imprensa.
O Santo Padre disse que em Iquique “a palavra ‘prova’ foi a que me traiu e gerou confusão. Eu falaria de evidências. E claro, então eu sei que há muitas pessoas abusadas e que não podem trazer uma prova, não a têm. E que não podem, ou às vezes a têm mas têm vergonha, que cobrem e sofrem em silêncio”.
“Barros vai ficar lá se não encontro o modo de condená-lo. Não posso condená-lo se não tenho evidências. E há muitos modos de obter uma evidência”, concluiu sobre o assunto.
Confira também:
Papa se desculpa com vítimas de abuso por palavra que usou sobre Dom Barros https://t.co/YoMGowF78I
— ACI Digital (@acidigital) 22 de janeiro de 2018