“As famílias de hoje”, este é o tema da primeira catequese de preparação para o IX Encontro Mundial das Famílias, a qual traz a Família de Nazaré como modelo a ser seguido frente às diversas situações do dia a dia.

O texto e o vídeo foram lançados no dia 3 de fevereiro e apresentam uma reflexão a partir do Evangelho de São Lucas que narra quando José e Maria encontraram Jesus no templo pregando para os doutores, após se perderem dele ao retornar de Jerusalém para casa.

“Nós certamente esperamos a narração de uma página idílica da Sagrada Família, um pouco como a dos comerciais, em que todos os membros da família são lindos, sempre sorridentes e brilhantes, em total e absoluto entendimento mútuo, no entanto, com a nossa grande maravilha, o Evangelho nos dá outra história. Para usar um termo muito na moda hoje, a Família de Nazaré ‘entra em crise’”, assinala o texto.

Nesse sentido, ressalta que “o ponto fundamental, então, não é a ausência de crise nas famílias (não há uma única família, nem mesma a Sagrada Família, que esteja isenta), mas como reagir diante de qualquer crise”.

“A história de Lucas em sua previsão e concretude oferece a todas as famílias as coordenadas fundamentais que tornam uma verdadeira escola de vida para todos”, pontua.

Ao destrinchar este trecho do Evangelho de São Lucas, a catequese ressalta alguns pontos que devem ser considerados por pais em suas relações com os filhos, entre os quais está o chamado “desafio educacional”.

Sobre este tema, recorda a indicação dada pelo Papa Francisco na exortação apostólica Amoris Laetitia, na qual o Pontífice afirma que “a obsessão, porém, não é educativa; e também não é possível ter o controle de todas as situações onde um filho poderá chegar a encontrar-se”.

Assim, segundo o numeral 261 da exortação, “a grande questão não é onde está fisicamente o filho, com quem está neste momento, mas onde se encontra em sentido existencial, onde está posicionado do ponto de vista das suas convicções, dos seus objetivos, dos seus desejos, do seu projeto de vida”.

A catequese recorda que muitos pais cuidam para que os filhos possam aprender muitas atividades ou mesmo empurram os filhos para realizar aquilo que eles mesmos desejavam na juventude, porém sem ouvir “o mundo interior do seu coração”.

“José e Maria correram esse risco – recorda o texto –, com toda a angústia que isso implica, e somente após três dias, três dias muito longos e intermináveis, encontram Jesus no templo”.

E neste ponto, “sua primeira reação é o espanto”, porque, como recorda Amoris Laetitia, “é inevitável que cada filho nos surpreenda com os projetos que brotam desta liberdade”, cabendo à educação “a tarefa de promover liberdades responsáveis, que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência”.

Por isso, assegura a catequese, “diante do mistério do filho, a atitude mais verdadeira nunca pode ser a de julgamento, da desilusão, da acusação, da condenação”. Pelo contrário, “a atitude mais sagrada é a abertura para as surpresas de Deus”.

E frente a estas situações, “o Evangelho não desumaniza o coração do homem, mas respeita e dá voz aos sentimentos, que não são nem bons nem maus, e, ao mesmo tempo, ensina-nos como nos relacionar com nossos sentimentos: sempre devemos questionar-nos e perguntar”.

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Foi o que Maria fez diante de Jesus, falando também em nome de José, quando o questiona: “Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura”. Esta interrogação, conforme explica a catequese, “em poucas linhas nos abre ao verdadeiro mistério da parentalidade”.

“O filho sempre continua sendo um filho e, como tal, sempre deve ser chamado, reconhecido e amado”. Além disso, a este “precisa sempre perguntar, questionar, nunca para ser acusado e condenado, e um pai nunca deve ter medo de se colocar no relacionamento com seu filho”.

“Maria vai ainda mais além. Ela evidencia não apenas a relação entre pais e filho, mas a relação entre pai e mãe e filho em sua completude e integridade”, indica, ao ressaltar que a Virgem fala “primeiro” em nome de José e depois em seu nome, expressando, assim, “uma ordem extraordinária da paternidade e da maternidade em relação à prole”.

“Não se trata do amor do pai e da mãe separadamente, mas também do amor entre eles, captados como fonte da própria existência, como ninho acolhedor e como fundamento da família”.

Além disso, assinala a catequese, é Maria quem fala a Jesus, e não José, porque “porque ela tem um relacionamento de maior proximidade e intimidade com seu filho, mas ao mesmo tempo (uma coisa que deveriam aprender a fazer sempre todas as mães de hoje) ela atua como intermediária de José e afirma a antecedência da paternidade em relação a maternidade”.

Nesse sentido, trata-se de algo “longe de um discurso cultural, social ou moral” de prioridade do pai sobre a mãe. Ao contrário, “a história do Evangelho projeta nosso olhar muito mais longe, mais profundo e mais alto: o pai é como um sinal da Paternidade de Deus”.

Além disso, acrescenta, “se Maria e José podem interagir como mãe e pai em relação a Jesus, é porque sua cumplicidade conjugal está viva”.

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“Com que frequência esquecemos que o fundamento da parentalidade não é a prole (não nos tornamos pais unicamente com o nascimento natural do filho, e José é um testemunho concreto), mas com a conjugalidade do casal”, sublinha.

Por isso, ao concluir, a catequese questiona: “Queremos aprender a ser uma família? Vamos jogar fora o modelo idealista que temos em nossa cabeça e olhemos para a Sagrada Família, que mostra a todos como os eventos críticos da vida são uma fonte inesgotável de graça e de santificação para o mundo inteiro”.

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