REDAÇÃO CENTRAL, 23 de fev de 2018 às 17:30
A notícia de que um grupo de cientistas desenvolveu embriões com células humanas e de ovelhas deu a volta ao mundo, mas também provocou perguntas éticas a respeito dessa prática.
As quimeras, como se denomina os projetos para obter um híbrido entre humanos e animais, por muito tempo foram um desejo de alguns cientistas. A expectativa é conseguir multiplicar o número de órgãos disponíveis para transplantes em seres humanos.
O nome ‘quimera’ é proveniente da mitologia grega e se refere a um animal com a cabeça de leão, ventre de cabra e rabo de dragão.
De acordo com a imprensa internacional, um grupo de cientistas da Universidade de Stanford (Estados Unidos), liderado por Dr. Hiro Nakuachi, desenvolveu um embrião com células humanas e de ovelha e o colocaram durante três semanas dentro de outra ovelha.
Nakuachi apresentou as suas descobertas durante o encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, realizada em Austin, Texas (Estados Unidos), entre os dias 15 e 19 de fevereiro.
Para os cientistas, o próximo passo será implantar células-tronco humanas dentro de um embrião de ovelha geneticamente modificado, de tal maneira que cresça um pâncreas humano dentro do animal.
“Poderia demorar cinco anos ou 10 anos, mas acho que eventualmente seremos capazes de fazer isso”, afirmou.
Entretanto, as implicações bioéticas podem ser grandes.
Em declarações ao Grupo ACI, o Dr. Lenin De Janon Quevedo, médico pesquisador do Instituto de Bioética da Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA), advertiu que as ‘quimeras’ “hoje em dia” são “eticamente censuráveis”.
“Por enquanto, as quimeras modernas parecem ser semelhantes às mitológicas e ameaçam devorar qualquer animal que estiver em seu caminho”, assinalou.
“Qual é o direito que temos de modificar – tão radicalmente – a estrutura genética do animal? O que garante que as quimeras não façam desaparecer as espécies originais? Quais serão os efeitos colaterais ao obrigar os órgãos e tecidos humanos a coexistir com os tecidos animais de outra espécie? Poderemos expressar todas as complicações que devem ser levadas em consideração a fim de que o receptor consinta voluntariamente o transplante ou outro procedimento terapêutico? Todas essas perguntas permanecem sem uma resposta”, advertiu.
“Compreendo que a criação de quimeras foi um sonho humano desde a antiguidade. Os transplantes de órgãos fizeram com que o sonho deixasse a mitologia e se convertesse em realidade”, explicou.
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O especialista em bioética indicou que “longe de ser fruto da imaginação, os transplantes são o resultado de decisões voluntárias de doadores, receptores e uma grande equipe de profissionais responsáveis ??pela aquisição, implantação e cuidado das pessoas transplantadas”.
“Tudo isso em torno do altruísmo: valor exclusivamente humano que faz dar ao outro sem esperar nenhuma retribuição dele”.
“Mas a substituição do altruísmo por outros valores sociais e o aumento da indicação médica para os transplantes de órgãos provocaram maior demanda e menos quantidade órgãos oferecidos”, disse.
Dr. De Janon Quevedo indicou que “a escassez de órgãos é um problema de saúde que Bento XVI catalogou como algo ‘dramaticamente prático’”.
Neste contexto, assinalou, “uma medida que aumenta a disponibilidade de órgãos é boa por sua intenção, mas não se deve desprezar a natureza da ação que se dirija a tal intenção”.
O especialista também falou a respeito das implicações éticas do uso de animais de laboratório nestas experiências.
“Usar animais de laboratório não é errado, desde que se respeite o fato de que esses animais também fazem parte do mundo natural que nós devemos cuidar e que eles são seres vivos, sensíveis e incapazes de manifestar a sua vontade e de defender-se por si só ante a depredação do homem”.
“Portanto, somos nós que devemos garantir a sua defesa”, sublinhou.
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— ACI Digital (@acidigital) 10 de abril de 2017