MADRI, 27 de fev de 2018 às 18:00
Jokin de Irala é um médico que presidente a Associação Espanhola de Professores de Planejamento Familiar Natural e, em um recente artigo, explica a importância da encíclica do Beato Paulo VI, Humanae Vitae, para a saúde pública.
Irala também é membro da Pontifícia Academia para a Vida e Doutor em saúde pública pelas Universidades de Navarra e Massachusetts. Seu artigo é intitulado “Humanae Vitae: Dom do Espírito Santo; encíclica profética, atual, ecológica e saudável”.
Na Humanae Vitae, publicada em 1968, alertou-se que entre as consequências de usar métodos anticoncepcionais estava o aumento da infertilidade conjugal, a degradação moral, a perda do respeito pela mulher e o uso desses métodos como políticas de Estado.
Irala estava no olho do furacão em fevereiro de 2017, quando sofreu a censura da Universidade de Cádiz (Espanha), pelas pressões do lobby gay que pediu que sua conferência sobre a educação dos filhos fosse bloqueada. Uma campanha para coletar assinaturas reuniu mais de 18 mil a favor do catedrático.
Em seu artigo, recorda que este ano de 2018 se completa 50 anos da publicação da encíclica, escrita por um corajoso Paulo VI, que superou as “múltiplas recomendações contra por parte da Comissão Pontifícia para o Estudo dos Problemas da População, da Família e da Natalidade”.
Além disso, naquela época “já existiam fortes pressões da indústria farmacêutica e de grupos ativistas que tinham deslumbrado um bom número de juristas e membros das organizações norte-americanas mais importantes como as médicas, de associações de mulheres, da própria FDA (Food and Drug Administration) e da Organização Mundial da Saúde”.
Entretanto, afirmou o especialista, se tivesse seguido a encíclica do Beato Paulo VI, se teria evitado vários problemas de saúde pública, como em relação às mulheres ocasionados pela ingestão de anticoncepcionais.
Irala afirma que “a contracepção artificial não é uma alternativa aceitável nem necessária”, pois tem entre seus efeitos “a eliminação precoce se embriões ao impedir sua implantação no útero”.
“Um estudo científico mostrava que as mulheres, para as quais é importante quando começa a vida humana, não desejariam utilizar um método se soubessem que este mecanismo de ação, muitas vezes escondido e não informado pelos médicos e farmacêuticos, é real”.
Além disso, indica o especialista, “a maioria afirmava que, em qualquer caso, deveriam ser informadas sobre este mecanismo de ação”.
Luta contra o câncer
Outro problema que a Humanae Vitae ajudaria a combater devido ao seu apoio à regulação natural da fertilidade é o câncer de mama, que a cada ano afeta milhões de mulheres.
“O melhor estudo epidemiológico existente até hoje sobre a relação pílula-câncer de mama, publicado em dezembro de 2017 em The New England Journal of Medicine, avaliou prospectivamente quase 1,8 milhões de mulheres de toda a Dinamarca. Sem nenhuma dúvida, os contraceptivos mais recentes, como os antigos, elevam o risco de câncer de mama de uma forma epidêmica”.
Certamente, prossegue, “os anticoncepcionais reduzem alguns tipos de cânceres, mas este possível benefício não é compatível com o risco de produzir câncer de mama, de fígado e de colo do útero. Por outra parte, os contraceptivos atuais elevam em 60% o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral”.
“Levando em consideração as melhores e mais atuais evidências científicas, ao considerar conjuntamente o câncer de mama, o de colo do útero e a doença cardiovascular, pode-se afirmar a partir da saúde pública, sem nenhuma conotação moral” que o Planejamento Familiar Natural, que a Igreja promove, “é preferível aos contraceptivos”.
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“Somente seguindo os conselhos da Humanae Vitae, se poderia ter evitado inúmeros falecimentos por estas causas nos últimos 50 anos”.
Junto a esses efeitos graves para a saúde, “encontram-se outros, não menos importantes. Nos últimos dois anos, foram publicados dois estudos com qualidade científica nas revistas científicas ‘JAMA Psychiatry (11)’ e ‘American Journal of Psychiatry (12)’ (este último realizado em quase meio milhão de mulheres, acompanhadas durante 8 anos), que constatam um aumento do risco de depressão e de suicídio e tentativas de suicídio em relação ao uso de contraceptivos”.
Por tudo isso, “a encíclica Humanae Vitae também é uma encíclica saudável e promotora da saúde pública, assim como o exercício físico ou uma dieta saudável são mais saudáveis do que tomar uma pílula para emagrecer”.
Entretanto, lamentou, “à indústria farmacêutica interessa mais as pílulas por seu negócio multimilionário. Não parece o mais acertado favorecer esse interesse comercial”.
É impossível de aplicar a Humanae Vitae?
Jokin de Irala considera que não, que é muito possível aplicar a encíclica na atualidade, embora reconheça que “podem existir circunstâncias mais difíceis que outras e que merecem uma consideração especial”.
Em sua experiência, compartilha o especialista, “quando os casais não compreenderam ou não puderam seguir, a princípio, as propostas” da Humanae Vitae, “são guiados, avançando gradualmente para que compreendam a encíclica e possam com o tempo desfrutar de seus benefícios e suas bondades”.
Esta gradualidade educativa e pastoral, indica o doutor em saúde pública, “não tem nada a ver com as abordagens que, de maneira pessimista e condescendente, afirmam mais ou menos explicitamente que a Humanae Vitae ‘não é aplicável para algumas pessoas’”.
O Papa Francisco, ressalta Irala, “nos orienta nesta linha remarcando com força a importância que têm o acompanhamento e o discernimento misericordioso dos esposos quando afirma, por exemplo, em Amoris Latetitia: ‘É preciso enfrentar todas estas situações de forma construtiva, procurando transformá-las em oportunidades de caminho para a plenitude do matrimônio e da família à luz do Evangelho. Trata-se de acolhê-las e acompanhá-las com paciência e delicadeza’”.
O doutor em saúde pública, com 50 anos de experiência no acompanhamento de casais, comenta que “ninguém escapa de que as riquezas inerentes a poder viver a Humanae Vitae não se alcançam sem certo esforço. Não é uma pílula que se compra movido por uma publicidade bem feita e se ingere com um gole de água. Desde o início, é preciso que o casal aprenda a reconhecer e interpretar sua fertilidade”.
“Também deverão aprender a compreender e viver a continência periódica. É um desafio não necessariamente simples, mas é educativo e significa capacitar seres humanos para serem autônomos na gestão de sua fertilidade. Também não é simples preparar os jovens para o amor conjugal, mas o fazemos porque queremos que sejam mais felizes”.
Irala compreende que não é simples o que propõe a Humanae Vitae, mas indica que vale a pena o esforço para que os esposos não se vejam privados do bem que faz o que apresenta “a encíclica para suas vidas matrimoniais”.
Confira também:
A incrível história por trás da Humanae Vitae e a paixão de Paulo VI http://t.co/uSyLb7hxbF
— ACI Digital (@acidigital) 20 de outubro de 2014