BUENOS AIRES, 18 de abr de 2018 às 18:00
Durante o debate parlamentar sobre o aborto na Argentina, Mariana Kappelmayer, psicóloga que se dedica ao acompanhamento pós-aborto, denunciou alguns traumas que homens e mulheres vivem depois de escolher acabar com a vida do seu filho.
“Quando eu me aproximei desta tarefa não podia imaginar o que significaria acompanhar a dor de uma mãe ou de um pai que decidiu abortar, é contemplar a fragilidade do ser humano”, assinalou Kappelmayer em uma coluna de opinião no jornal ‘El Clarín’.
Em seu trabalho de acompanhamento pós-aborto no Projeto Esperança, Kappelmayer disse que é “testemunha de histórias cheias de dor, solidão e silêncio. É comprovar o fracasso de uma sociedade que não consegue suportar as realidades mais difíceis”.
Afirmou que investigação a nível mundial confirmam que o aborto provoca “perturbações graves” no desenvolvimento pessoal e afetivo, e advertiu a respeito da grande desinformação sobre os efeitos nestas “segundas vítimas” porque o aborto “não tem apenas uma vítima, mas duas ou mais, considerando a mãe e o pai, que também ficam feridos”.
Kappelmayer assegurou que “no mais profundo de si, nenhuma mulher quer abortar”, entretanto, ao estar submetidas a grandes pressões “ignoraram esta voz interior e acabam com a vida do seu filho, machucando a si próprias”.
“O aborto é sempre uma experiência traumática que provoca a morte intencional do outro; neste caso, a morte de um filho, e transgrede os normas naturais de funcionamento humano”, disse ele.
Em relação ao trauma pós-aborto, a psicóloga explicou que se manifesta como um “conjunto de sintomas físicos, psicológicos e espirituais, que compõem um quadro de estresse pós-traumático com características específicas”.
Consequentemente pode causar “enxaquecas, alterações do biorritmo, irritabilidade, déficit de energia, instabilidade mental, obsessões, disfunções sexuais, depressão, baixa autoestima, abuso de substâncias, culpabilidade, tristeza, e em muitos casos as pessoas perdem a vontade de viver”.
O que acontece depois do aborto é um trauma, porque “para poder acabar com a vida de um filho, primeiro é necessário desumanizá-lo, reduzi-lo a um monte de células”.
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“Negar a sua existência e a sua natureza, dificulta a elaboração do luto e causa o aparecimento de mecanismos de defesa que tentam impedir o sofrimento. O dano se intensifica, quando estes mecanismos se transladam a outros vínculos, prejudicando o casal, as relações com os outros filhos e com o meio ambiente”, explicou Kappelmayer.
Nesse sentido, no Projeto ‘Esperanza’, a tarefa dos acompanhantes é “ajudar os afetados a refazer este caminho de desumanização, através de um processo de cura e restauração de todas as relações”.
“Para isso será necessário libertar a raiva e a dor que estão reprimidas, e passar pelo luto desta ‘pessoa’, não desta ‘coisa’”, sublinhou.
No processo de cura, o primeiro passo será reconhecer que com o aborto “não se perdeu a gravidez”, mas se perdeu “um filho, um neto, um sobrinho... uma pessoa que estava se desenvolvendo, que por meio da sua existência, estabeleceu uma ligação biológica e afetiva com essa mãe”.
"Somente restabelecendo esta relação, 'reumanizando este bebê', os pais podem conseguirão recuperar a esperança, e renovar o seu projeto de vida”, assegurou a psicóloga do Projeto Esperança.
Kappelmayer advertiu que a nível legal, as pessoas que ignorarem esta realidade “estarão colaborando na instituição da desumanização, como um modo de resolver os problemas, enfraquecendo o papel da família, e adormecendo o mais próprio do ser humano”.
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— ACI Digital (@acidigital) 11 de setembro de 2014