LISBOA, 25 de abr de 2018 às 14:00
O Cardeal-Patriarca de Lisboa, Dom Manuel Clemente defendeu que, frente aos recentes debates acerca da eutanásia em Portugal, a sociedade deve ser capaz de “acompanhar cada um dos seus membros” em “fases mais complexas” da vida e que há muito o que ser feito no “campo dos cuidados paliativos”.
O Prelado participou na segunda-feira, 24 de abril da conferência ‘A Eutanásia e a Cultura do Cuidado’, que acontece na Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa, promovida pela instituição de ensino e pelo movimento ‘Toda a Vida tem dignidade’, com o apoio da Agência Ecclesia do episcopado português, e da Rádio Renascença.
Conforme assinala a Agência Ecclesia, a Assembleia da República de Portugal deverá debater a legalização da eutanásia no país, a partir de projetos legislativos dos partidos PAN, Bloco de Esquerda, Verdes e PS.
Nesse sentido, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) defendeu que a sociedade e os parlamentares devem estar bem informados para saber decidir sobre a questão, pois “o que está em causa é a vida, a promoção e defesa da vida”.
Por isso, ressaltou à Agência Ecclesia a importância de habilitar “respostas capazes que passam sobretudo por uma sociedade que seja capaz de acompanhar cada um dos seus membros, especialmente nas alturas difíceis, prevenir desesperos, estarmos lá”.
“Que essa fase mais complexa da vida de cada um de nós, que mais tarde ou mais cedo pode chegar, seja devidamente acompanhada, que é o que a palavra paliativo quer dizer, é preciso ir para a frente”, acrescentou Dom Clemente.
A conferência contou também com a participação do professor Theo A. Boer, que integrou a Comissão de Supervisão da Lei sobre a Eutanásia na Holanda.
O especialista alertou, em declarações à Agência Ecclesia, para o fato de que uma “ambiguidade” tem marcado a aplicação da lei na Holanda, onde tem aumentado significativamente os pedidos de eutanásia e por razões muito mais diversas do que estava estabelecido.
“Chegou-se a um ponto em que a eutanásia é vista como solução para todos os problemas”, lamentou sobre o primeiro país a legalizar esta prática, em 2002.
Segundo ele, para além de situações de doenças terminais, a eutanásia passou a ser utilizada também em casos de pessoas com “distúrbios psiquiátricos, demência, doenças cardiovasculares” e até mesmo para pacientes com doenças associadas à solidão.
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Boer advertiu, então, que, sem uma legislação bem cuidada, a aplicação da eutanásia pode se tornar um “terreno pantanoso”.
Por isso, o especialista disse à Agência Ecclesia que “recomendaria a Portugal não legalizar a eutanásia e apostar, isso sim, na implementação de cuidados paliativos mais adequados e acessíveis a todos”.
Por sua vez, o Cardeal-Patriarca de Lisboa salientou à Rádio Renascença acreditar “que informações deste gênero, que tivemos sobre a situação da Holanda e de outros países” os “façam pensar”.
“Eu acredito que as pessoas que estão na Assembleia da República e na sociedade são pessoas com consciência e por isso mesmo esta informação fará que decidam da melhor maneira”, acrescentou.
Para o Purpurado, a melhor maneira de decidir “só pode ser resolver um problema que realmente existe, que afeta tantas pessoas que estão doentes e desacompanhadas, no sentido de as acompanhar mais, com os cuidados paliativos, com certeza, e com uma sociedade que se torna toda ela paliativa.”
“Porque nesta situação em que as pessoas são abandonadas tantas vezes à sua dor, e não têm quer da parte do Estado quer da parte da sociedade o acompanhamento devido, poderia agravar-se com uma legislação deste gênero”, advertiu.
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— ACI Digital (@acidigital) 5 de fevereiro de 2018