O Presidente do Senado italiano, Marcello Pêra, assinalou que a aprovação na Espanha do "matrimônio" homossexual e do divórcio express não são "conquistas civis" mas sim o triunfo do laicismo e a crise de identidade pela que atravessa a Europa.

Na sua intervenção no Campus FAES, na localidade madrilense de Navacerrada, o senador italiano considerou que na Espanha "o ataque foi levado a cabo contra a idéia mesma do matrimônio com uma manobra de pinças: por uma parte o divórcio rápido, por outra o matrimônio entre homossexuais". Desta maneira, disse o político, "uma bonita porção de nossa identidade voou".

Segundo Pêra, "é falso que se trate de "conquistas civis" ou de medidas "contra as discriminações" ou de "ampliações da igualdade". Trata-se, mas bem, do triunfo do laicismo que pretende transformar os desejos, e às vezes inclusive os caprichos, em direitos humanos fundamentais".

Depois de indicar que o laicismo, longe do ideal de respeito, leva a cabo experimentos de engenharia social, procurando trocar a sociedade a sua maneira, Pêra opinou que na Espanha, o laicismo tomou como alvo o matrimônio homossexual.

 

Crise de identidade e relativismo cultural

Segundo Pêra, o velho continente experimenta uma "perda progressiva" de sua identidade devido ao "relativismo cultural" imperante cuja linguagem é o do “politicamente correto” e que hoje em dia se converteu em uma “neo-língua”.

O Presidente da Câmara Alta italiana opinou que Ocidente, "pensa que se afirmasse seus próprios princípios e valores e mostrasse a força de sua própria identidade, então seria um Ocidente arrogante, desprezível". "E como Ocidente pretende pelo contrário ser aberto e dialogante com todos, antes que defender-se a si mesmo, debilita-se e esconde sua própria identidade", acrescentou.

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Deste modo, o senador italiano disse que "convertemo-nos em objetivo, enquanto ocidentais não pelo que fazemos, mas sim pelo que somos". "Nossa culpa não é atuar, mas ser. Em outros termos, para os terroristas, nossa culpa é nossa identidade", acrescentou Pêra, lamentando que "diante do fundamentalismo e o terrorismo islâmico, difundiu-se no Ocidente um sentido de resignação e inclusive de rendição".

Leigo e laicista

Para o legislador italiano, Europa não entende a diferença entre leigo e laicista. "Leigo é aquele que não se adere a uma religião ou confissão específica, laicista é aquele que, no nome do laicismo do Estado e da política, impõe uma religião própria de Estado e uma religião própria política”.

Europa é "especialmente vítima" deste laicismo "anti-histórico e perigoso", e ressaltou que "esconder nossa tradição é, além de uma comemoração ao laicismo, também um passo em falso. Aqueles que o têm feito já estão pagando o preço", advertiu.

Por isso, insistiu Pêra na necessidade de que a Europa recupere sua identidade. "Somos cristãos pelos valores que professamos e os princípios nos que acreditam. Somos cristãos também quando proclamamos a separação entre Estado e Igreja e entre política e religião. Somos cristãos e mais precisamente judaico-cristãos por história embora não o sejamos pela fé", apontou o senador.

Recuperar a própria identidade

Depois de lamentar que Ocidente está “doente” de relativismo e imerso em uma grave crise de identidade, Pêra pediu, especialmente a Europa, voltar a começar desde a base recuperando seus princípios. “Só quem tem uma identidade definida é um sujeito com objetivos”, acrescentou.