ALEPPO, 12 de jun de 2018 às 19:00
Através da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), Jad Abed, um menino cristão sírio, compartilhou como sua fé o ajudou a sobreviver ao conflito e assegurou que na cidade de Aleppo “muitos dias vivemos como em um filme”.
Jad contou que durante a batalha de Aleppo, ocorrido de 2012 a 2016, sua casa foi bombardeada.
“Lembro o ruído das bombas se aproximando e, quando uma caiu sobre o telhado, uma parte desmoronou. Meu pai nos tirou dali e nos levou para o lugar onde vivemos até hoje. Não podemos voltar para casa, pois grande parte está destruída”, indicou o menino de dez anos.
“Espero que meus brinquedos não estejam todos quebrados. Em nossa casa havia muitos quadros e recordações que não pudemos salvar, coisas que o fogo da guerra devorou”, disse.
Jad vive com seus pais e seus dois irmãos mais velhos emigraram, um foi para o Canadá e p outro está no Líbano, esperando receber os papéis necessários para ir para a Europa. “Minha mãe, meu pai e eu vivemos juntos e esperamos o retorno deles”, indicou.
“Sinceramente, comecei a pensar que a Europa tinha nos roubado amigos e pessoas queridas, tinha nos privado de sua presença. Porém, minha fé é grande e pressinto que todos voltarão, mesmo que passem muitos anos”.
O menino também perdeu “um grande amigo que morreu em um bombardeio quando estava esperando o ônibus escolar. Agora, temos um intercessor no céu que contará a Deus o que está acontecendo conosco”.
Como a escola foi destruída nos combates entre os rebeldes e o exército sírio, Jad e seus companheiros têm que participar das aulas em um espaço improvisado em um sótão que carece de calefação e eletricidade.
“Apesar disso, e com a ajuda dos que se preocupam conosco, deixamos para trás o frio e podemos sentir calor até certo ponto, e a eletricidade voltou para iluminar nossa escola e nossos lares”, disse à ACN.
Jad Abed em Aleppo (Síria) / Ajuda a Igreja que Sofre
Entretanto, em meio às dificuldades, Jad, que é sírio-ortodoxo, conserva suas distrações, como o basquete.
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“É meu esporte favorito e sou membro do clube esportivo Al Jalaa, onde sempre jogo e onde ganhei muitas medalhas. Gostaria de representar meu país em jogos internacionais e adoraria que a Síria participasse em jogos internacionais”, disse à Fundação Pontifícia.
“O bonito é que o esporte e a música não pararam durante a guerra. Também amo a música. Acredito que as pessoas más não cantam, e é por isso que a música foi importante durante a guerra”, assegurou o menino e comentou que, em Aleppo, “muitos dias vivemos como em um filme”.
Recordou que “houve um Natal em que estávamos assediados e os mercados estavam um pouco vazios. Lembro que não podíamos obter pão. Um dia, escutamos o som de um apito à noite em nossa rua: estavam chamando as pessoas para que saíssem de suas casas. Meus irmãos e eu estávamos aterrorizados”.
“Mas, logo percebemos que chegavam com carros cheios de pão, como uma ração para cada lar. Foi um dos Natais mais difíceis. Contudo, recordo claramente que a Igreja nos ajudou, que conseguiu roupas para e doces para as crianças. De fato, todas as crianças puderam escolher sete peças de roupa, segundo as preferências de cada um”, prosseguiu.
Jad destacou que, nos últimos anos, “nossa Igreja desempenhou um papel eficaz”, pois seu pai recebe a cada mês uma cesta básica e, os estudantes, um valor mensal para pagar os custos escolares.
Além disso, há “algumas atividades e jogos que nos introduzem na Palavra de Deus e que nos mostram o quanto Ele nos ama”.
“A Igreja sempre responde a nossas solicitações, especialmente quando as condições são difíceis. Eu comecei a levantar perguntas difíceis relacionadas a Deus. Pergunto se realmente existe, se está satisfeito com o que acontece conosco, por que nos escolheu para viver estes tempos difíceis. Pergunto qual é Sua mensagem, se realmente está conosco e se realmente nos ama”, manifestou à ACN.
“Peço a todos os que leiam este artigo que rezem por nós; que rezem pelas crianças sírias que não puderam viver sua infância. Rogamos ao Senhor para que nos dê paz e alegria e que encha nossos corações para que possamos curar nossas feridas e regressar o antes possível para uma vida normal”, indicou o pequeno.
Confira também:
O incansável trabalho da Igreja Católica em 7 anos de guerra na Síria https://t.co/X0W2k6vCH2
— ACI Digital (@acidigital) 15 de março de 2018