Roma, 5 de jul de 2018 às 15:00
O Bispo de Hong Kong, Dom Michael Yeung Ming-cheung, afirmou que na aproximação entre o Vaticano e o governo chinês, a Igreja deve ter uma boa atitude de diálogo acompanhada pela verdade, pronunciando-se onde haja injustiças.
Em uma entrevista à ACI Stampa – agência em italiano do Grupo ACI –, o Prelado assinalou que “a Igreja não deve competir com o Partido (Comunista Chinês) pelo poder e pela autoridade neste mundo (...) A Igreja tem um papel e acredito que deve ter uma boa atitude de diálogo, mas ao mesmo tempo é chamada a dizer a verdade. Deve falar contra as injustiças sociais quando estas ocorrem”.
O Prelado está em Roma para participar da visita ad limina dos bispos de Hong Kong e Macau. Na entrevista, Dom Yeung Ming-cheung indicou que sempre diz “aos funcionários do governo que devemos trabalhar juntos para fazer as coisas”.
Do mesmo modo, o Bispo afirmou que “não há nada que queira dizer contra o governo e não falo em nome do governo. A Igreja tem um papel muito claro, não compete com ele, mas denuncia quando há injustiças”.
“Sabemos que a Santa Sé tem um diálogo com o governo de Pequim e é normal que haja pessoas contra isso. Mas nós confiamos no Senhor”, acrescentou.
“Há 50 anos, a porta entre o Vaticano e Pequim estava fechada, agora estamos lutando para encontrar uma abertura muito pequena, mas realmente não sei onde os acordos levarão. Acredito que Deus nos levará pelo caminho certo”.
O Bispo de Hong Kong também explicou que as autoridades costumam dar como mensagem que “não querem interferências no governo da Igreja na China continental. Essa é a direção na qual se orienta a lei sobre ONGs estrangeiras que acaba de ser aprovada: tudo deve ser aprovado pelo governo e o governo tem direito de saber de onde vem o dinheiro. Isso nos afeta”.
Como exemplo desta regra, disse que, “se um grupo de católicos em uma cidade afastada da China precisa de fundos para uma casa de idosos e pede a Cáritas de Hong Kong, devemos estar muito atentos ao modo como enviamos o dinheiro na China”.
“Ninguém tem a certeza de que este dinheiro chega ao seu destino. E, por outro lado, o envio de dinheiro também é considerado um problema”, lamentou.
O contexto do diálogo entre a China e o Vaticano
Atualmente, a China e o Vaticano não têm relações diplomáticas oficiais. Estas relações se romperam em 1951, dois anos depois da chegada ao poder dos comunistas, os quais expulsaram os clérigos estrangeiros.
Há algum tempo, ambos os Estados têm um diálogo que deveria levar a um acordo para a nomeação de bispos na China. No começo deste ano, alguns meios especularam sobre a possível assinatura de um tratado, algo que foi negado no final de março pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
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Um dos principais opositores do acordo entre a China e o Vaticano é o Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, Bispo Emérito de Hong Kong, que no final de janeiro publicou uma carta na qual informou que o Vaticano havia solicitado a dois bispos suas renúncias para permitir que prelados relacionados ao governo assumissem seus cargos.
Em sua carta, o Purpurado também afirmou que “o problema não é a renúncia dos bispos legítimos, mas o pedido de abrir espaço para aqueles ilegítimos e inclusive excomungados”.
“Eu acredito que o Vaticano está vendendo a Igreja Católica na China? Sim, definitivamente, estão indo na direção em que estão, de acordo com o que têm feito nos últimos anos e meses”, afirmou o Cardeal de 86 anos.
Em uma recente entrevista concedida pelo Papa Francisco à Reuters, também se referiu ao Cardeal Zen, sobre quem disse que “está um pouco assustado”.
Entretanto, declarou que “o diálogo é um risco, mas prefiro o risco à derrota certa de não dialogar. No que se refere ao tempo, alguns dizem que são os tempos chineses. Eu digo que são os tempos de Deus, avante, tranquilos”.
Desde que as relações diplomáticas entre a China e o Vaticano se romperam, o país asiático só permite o culto católico por meio da Associação Patriótica Católica Chinesa, fiel ao Partido Comunista da China, e rejeita a autoridade do Vaticano na nomeação de Bispos e no governo da Igreja.
Os bispos legítimos que permanecem fiéis ao Papa, vivem em uma situação próxima à clandestinidade, permanentemente assediados pelas autoridades comunistas.
Atualmente, todo bispo reconhecido pelo governo chinês deve ser membro da associação patriótica e muitos bispos nomeados pelo Vaticano, que não são reconhecidos ou aprovados pelo governo chinês, são perseguidos.
Vários bispos aprovados pelo Vaticano na China estão completando 75 anos, idade na qual devem apresentar a sua renúncia, e muitos outros morreram, enquanto poucos sucessores foram nomeados.
Confira também:
Papa Francisco explica como é o diálogo entre China e Vaticano https://t.co/E5ny8aPSyK
— ACI Digital (@acidigital) 21 de junho de 2018