Quem passa pela região central de São Paulo pode ser surpreendido por um delicado projeto de engenharia que mantém suspensa a 31 metros de altura uma igreja de 1.200 toneladas, a fim de preservar sua estrutura em meio a um grande canteiro de obras.

A operação foi realizada no contexto das obras do futuro complexo Cidade Matarazzo, no meio do qual está situada a Igreja de Santa Luzia, inaugurada em 1922 pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi e tombada pelo Condephaat (Conselho Estadual do Patrimônio Histórico).

A capela está na área de 27 mil m² do complexo do antigo “Hospital Umberto I” ou “Sociedade de Beneficência em São Paulo – Hospital Nossa Senhora Aparecida e Casas de Saúde Matarazzo”.

Este complexo foi adquirido pelo Grupo Allard, cujo proprietário é Alexandre Allard, e que realiza as obras atuais. Ao redor do templo, será construído um conjunto com hotel, shopping e uma torre de 22 andares.

De acordo com o projeto, abaixo da capela haverá oito subsolos, cinco dos quais com estacionamentos e os demais com áreas de apoio para o hotel e um espaço chamado “creativy center”, destinado a conferências e eventos. A previsão de entrega é para o final de 2019.

O projeto da obra incluiu a sustentação a 31 metros de altura da capela de Santa Luzia, devido à necessidade de preservá-la, por se tratar de um patrimônio tombado. Assim, o engenheiro responsável pela obra, Maurício Bianchi, explicou ao portal G1 que a operação foi pensada de acordo com a restrição de não danificar o templo.

“Não podíamos trincar a capela ou fazer esforço. A gente fez uma super sondagem e depois começamos a fazer oito pilares grandes de fundação”, os quais possuem 31 metros de altura e mais 23 metros sob o solo, sendo que originalmente a igreja possuía apenas 1,5 metros de fundação.

Além disso, explicou, “viemos fazendo uma laje para poder transferir o peso da capela para laje”.

Para medir se havia vibrações interferindo na estrutura da construção, Bianchi contou que foi usado um copo com água. Segundo ele, o “trabalho mais delicado” que fizeram foi “um hidrojateamento para remover a terra embaixo da laje e transferir o esforço de uma maneira tranquila”.

“A gente mantinha um copo d'água no peitoril da capela para ver se tinha alguma vibração, porque o primeiro elemento em que iria aparecer era na água”, contou ao ressaltar que se tratou de um “simples processo” adotado no monitoramento das vibrações desde o primeiro dia.

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De acordo com o engenheiro, há “16 pontos com técnicos de acompanhamento feitos por empresas especializadas”. Além disso, garantiu que “a capela está integra”.

Em recente entrevista ao jornal ‘O São Paulo’, da Arquidiocese de São Paulo, o arquiteto Júlio Roberto Katinsky assinalou que o projeto de engenharia feito para que a estrutura da capela não seja ameaçada é pioneiro no Brasil.

“À medida que se fosse escavando, poderia haver modificações na estrutura. Acredito ser a primeira vez que esse trabalho de engenharia esteja sendo realizado no Brasil, ao menos com essa intensidade”, afirmou, ressaltando que “estão dando à capela grande importância”.

A reportagem da Arquidiocese assinalou ainda o projeto de restauro da capela de Santa Luzia, a qual, conforme destacou o arquiteto Katinsky, “tem sinais da presença católica; e esses sinais, ao nosso ver, devem ser preservados”.

Segundo o site do empreendimento ‘Cidade Matarazzo’, a capel será totalmente restaurada, incluindo seu mobiliário e objetos originais como imagens sacras, altar de mármore, bancos e genuflexórios, assim como a pintura da parede. A fachada neoclássica em tom de amarelo Sienna, que imita mármore, seguindo a antiga técnica de scagliola (amplamente usada na Itália desde o Renascimento), também será recuperada.

Conforme explicou o arquiteto Katinsky, sempre que se restaura “um edifício tombado, precisamos dar uma atualização de uso e, por isso, a restauração da capela é essencial”. “O mentor do projeto, Alexandre Allard, quer ressacralizá-la, para que continuem acontecendo nela as funções religiosas como missas, casamentos e batizados”, assinalou.

Por sua vez, Alexandre Allard contou ao jornal arquidiocesano que irão “restaurar a capela, construir uma casa paroquial e salas para Catequese”. “Vou fazer uma doação para a Igreja, porque gostaria que aqui houvesse uma comunidade. Somos humanos, temos uma vida e a vida é essa mistura de encontros. Aqui a vida vai ser valorizada”, declarou.

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Para Allard, o projeto não se trata simplesmente de uma construção, mas de um espaço em que os visitantes poderão fazer uma viagem pela cultura brasileira, da qual a religião faz parte.

“É importante que haja uma paróquia, um pároco, pois, uma capela não vive sem organização. E na capela, teremos cem, duzentas, quinhentas ou até mil pessoas por dia, que virão com um objetivo e se misturarão às outras pessoas que visitam o lugar. Essa troca fará da ‘Cidade Matarazzo’ um lugar verdadeiro, fiel às suas raízes”, completou.

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