Roma, 20 de jul de 2018 às 17:00
Vários especialistas questionaram a validade científica de um estudo sobre o Santo Sudário de Turim que concluiria que cerca da metade das manchas de sangue foram "pintadas" a partir de simulações e fotografias sem que os seus autores tivessem acesso à tela original.
Há alguns dias, o antropólogo forense Matteo Borrini e o químico Luigi Garlarschelli publicaram na Revista ‘Journal of Forensic Sciences’ um estudo sobre o Santo Sudário baseado na análise dos padrões de manchas de sangue utilizados para investigar as cenas do crime.
Os autores italianos não tiveram acesso à tela original que está na Catedral de Turim, mas basearam seus experimentos em fotografias e modelos – incluindo manequins – que, para seus detratores, não equivalem a um cadáver como o que o Sudário teria coberto.
Borrini, médico forense, sublinhou que as manchas "não são realistas" e acredita que "as manchas foram feitas artificialmente", porque, de acordo com as suas simulações, o sangue deveria ter fluído em outras direções.
Emmanuella Marinelli, cientista que estudou o Santo Sudário desde 1977 e escreveu mais de 300 artigos e vários livros sobre o tema, questionou em declarações ao Grupo ACI os métodos de tal estudo.
Embora para os autores – devido às características de sua análise – não fosse necessário estudar o Santo Sudário original, "claramente não é a mesma coisa" basear-se em uma fotografia e não procurar a relíquia, advertiu Marinelli.
"Estes dois pesquisadores nunca fizeram parte dos cientistas que estudaram diretamente o Sudário e nunca o viram de perto. Talvez nunca o viram nem de longe", expressou a também especialista em ‘La Nuova Bussola Quotodiana’.
Apesar destas objeções e ignorando os mais de mil estudos científicos que até agora foram realizados a respeito do Sudário, vários meios apresentaram o trabalho como prova de que a relíquia teria sido adulterada.
Os autores asseguram que fizeram seus testes com sangue verdadeiro e sintético, aplicado tanto em voluntários como em manequins. As manchas que consideram falsas estariam nos antebraços e na região lombar.
Em um comunicado de imprensa recolhido por vários meios, negam a autenticidade da relíquia e se referem a ela como "uma representação artística ou didática da Paixão de Cristo realizada por volta do século XIV".
"Nenhum dos pesquisadores têm qualificação científica para opinar", pois um é antropólogo e o outro químico, "não têm experiência em manchas de sangue humana", explicou Alfonso Sánchez Hermosilla, médico e antropólogo forense diretor da equipe de pesquisa do Centro Espanhol de Sindonologia (CES).
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
"Em seu estudo, afirmam que as manchas de sangue que observam não correspondem às que conseguiram no seu experimento, mas eles não possuem os conhecimentos necessários e, por isso, não desenharam o experimento da maneira correta, de modo que as suas conclusões não têm valor científico", acrescentou em declarações ao Grupo ACI.
Para Sánchez Hermosilla, ao não ter “nenhum valor cientificamente, (o estudo) não deveria ter sido publicado em uma revista séria".
Por sua parte, o professor Paolo Di Lazzaro, vice-reitor do Centro Internacional de Sindonologia de Turim, esclareceu em uma carta divulgada pela sua diocese que as condições nas quais foram produzidas estas manchas de sangue de um homem torturado e submetido a condições extremas, são muito diferentes às de um voluntário com boa saúde ou de um manequim, como as aplicadas por Borrini e Garlarschelli.
"Não é possível pensar que podem ser reproduzidas condições realistas de percurso do sangue no corpo de um crucificado sem considerar todos os fatores que teriam influenciado de maneira importante neste processo", indicou.
O que deve saber sobre o Santo Sudário
O Santo Sudário ou Sudário de Turim é uma tela que mede 4,11 metros de comprimento por 1,13 metros de largura, mostra a imagem de um homem torturado e crucificado. Segundo uma antiga tradição é assinalado como o manto que envolveu o corpo de Jesus depois de morrer na cruz.
Encontra-se em Turim (Itália) desde 1578, foi objeto de mais de mil pesquisas científicas das mais diversas especialidades e foram tiradas mais de 32.000 fotografias. Por isso, considera-se que o Santo Sudário é a relíquia mais estudada da história.
A última vez que foi exibido publicamente foi em 2015 e será exibido excepcionalmente em agosto deste ano durante alguns dias, em uma numerosa peregrinação de jovens italianos.
Confira também:
Novo estudo revela que o Santo Sudário tem o sangue de uma vítima de tortura https://t.co/tq6xtFI8ij
— ACI Digital (@acidigital) 18 de julho de 2017