CARACAS, 28 de ago de 2018 às 18:00
Juan Pablo Hernández é um seminarista da Arquidiocese de Maracaibo (Venezuela,) que atualmente estuda na Espanha e no próximo ano regressará ao seu país, onde assegura que, apesar das graves dificuldades, "a confiança em Deus e na Igreja cresceram".
"No ano que vem, voltarei para a Venezuela e estou feliz por voltar para a minha casa e por poder ajudar as pessoas. Dar-lhes esperança é fundamental. Quero levar a alegria e a esperança de Jesus Cristo para que sigam em frente", assegura o seminarista Juan Pablo Hernandez, de 32 anos.
Segundo explica, em Maracaibo, de onde é originário, temperatura média é de aproximadamente 30 ou 35 graus, por isso, os cortes de luz que duram até 70 horas fazem com que a comida estrague e as pessoas, especialmente os idosos, sofram.
"A Igreja sofre toda essa precariedade junto com o povo da Venezuela. O governo está asfixiando pouco a pouco, quer que as pessoas percam a esperança e se conformem com a miséria que recebem. Eles pressionam para que as pessoas fiquem resignadas. Muitos optaram por fugir do país", assegura.
Entretanto, assinala que, apesar de todas as dificuldades que a Venezuela enfrenta, "a confiança em Deus e na Igreja cresceu".
"Na minha paróquia, muitas famílias jovens foram embora, mas eu também encontrei muitas pessoas que não vinham à igreja, que buscam a Deus em meio à precariedade e a Igreja sempre lhes estende uma mão".
De fato, sublinha como, apesar da falta de todo o material, "destaca-se a generosidade das pessoas, são criados grupos para ajudar as crianças e os doentes".
Segundo explica, algo muito comum é "a panela da misericórdia", organizada nas paróquias, onde "as pessoas levam o que elas têm, não o que lhes sobra, porque não sobra comida para ninguém, e cozinham com tudo o que têm e distribuem cerca de 300 pratos de comida".
Responder à vocação
Precisamente, foi "estar muito perto de Deus para ajudar as pessoas" o que o cativou para responder à vocação de sacerdote. Embora o caminho não tenha sido simples.
Recebeu "o primeiro chamado" ao sacerdócio na ordenação de um amigo, tinha 19 anos, estudava engenharia eletrônica na universidade e saía com "uma jovem muito boa".
"Durante a celebração da ordenação, senti que algo me queimava por dentro e que aquilo mexia comigo. Fiquei profundamente emocionado como atualmente algumas pessoas são capazes de deixar tudo para se entregar a Deus", explica em uma conversa com o Grupo ACI.
Segundo recordou, "não entendia o que havia no coração dessas pessoas que deixavam tudo e respondiam: 'Aqui estou Senhor, faça-se a tua vontade'".
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Depois deste momento tão forte, Juan Pablo seguiu "o plano que pensava que poderia fazê-lo feliz", porque "não queria deixar tudo por algo que eu não podia controlar".
Dois ou três anos depois, Juan Pablo continuava sentindo "que havia algo mais que estava perdendo, algo maior".
Até que um dia, durante a Missa em sua paróquia, o sacerdote pediu que alguém o ajudasse como coroinha.
"Eu já tinha certa idade, mas me ofereci, porque vi que era a minha oportunidade de estar perto de tudo aquilo que havia me chamado tanto a atenção há alguns anos", assegura.
"Eu não posso explicar o que era, mas ainda me lembro daquela primeira Missa que eu ajudei. Estava muito perto do altar, da consagração, do Senhor... Tudo isso resolveu em mim o que havia vivido na ordenação do meu amigo. Desde então, comecei a me envolver cada vez mais na paróquia, dando catequese, organizando encontros... Não era um compromisso ou um peso, era algo que saía de mim e me fazia muito feliz", sublinha.
Até que chegou um momento no qual, segundo explica com humor, "já não saía da paróquia", mas "continuava sentindo que algo estava faltando".
O pároco começou a convidá-lo para os retiros espirituais e pediu que o acompanhasse para visitar os doentes... "Eu fiquei apaixonado pela vida sacerdotal, de ficar muito perto de Deus para ajudar as pessoas. Não era uma vida de renúncia e de obrigações, mas era uma grande alegria. Era algo que me fazia muito feliz".
Desde que Juan Pablo decidiu se tornar sacerdote, já se passou 7 anos, atualmente está no último ano de Estudos Eclesiásticos na Universidade de Navarra (Espanha), graças a uma bolsa da CARF (Fundação Centro Acadêmico Romano) e assegura que, desde que respondeu a sua vocação, "cada ano é melhor".
"Eu não sei como o Senhor faz isso, mas todo ano me surpreende mais e sempre com algo melhor. Se não tivesse respondido ao seu chamado, não seria tão feliz como sou agora", sublinha.
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— ACI Digital (@acidigital) 24 de agosto de 2018