WASHINGTON DC, 30 de ago de 2018 às 16:00
A National Review Board, comissão encarregada de assessorar os bispos dos Estados Unidos sobre a prevenção dos abusos sexuais a menores, condenou a "cultura de silêncio" na hierarquia da igreja e pediu uma investigação independente dirigida somente pelos leigos para cada acusação de má conduta sexual no clero.
Em um comunicado de imprensa distribuído pela Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) em 28 de agosto, a comissão, que é totalmente formada por especialistas leigos de diferentes áreas, disse que vem expressando a sua preocupação pela excessiva tolerância eclesiástica "durante vários anos" e pediu reformas específicas.
A comissão pediu uma "mudança genuína na cultura da Igreja" e assinalou os bispos como particularmente necessitados de mudança. Também pediu o fortalecimento da "Carta para a Proteção das Crianças e dos Jovens", estabelecida originalmente pela USCCB em 2002.
"Está na hora de os leigos assumirem uma liderança corajosa para ajudar a Igreja a responder e a curar, e para que os bispos escutem atentamente as nossas recomendações".
"As revelações de terríveis incidentes de abuso do Grande Júri da Pensilvânia, junto com o abuso perpetrado pelo Arcebispo McCarrick, apontam a um problema sistêmico dentro da Igreja que já não pode mais ser ignorado ou tolerado pelo episcopado nos Estados Unidos”, continua o comunicado.
A NRB foi formado em junho de 2002 como parte da resposta dos bispos à onda de escândalos de abusos sexuais em Boston. O grupo de 13 membros faz as suas recomendações ao Comitê para a Proteção das Crianças e dos Jovens da USCCB.
A comissão observou que, após os escândalos de abuso sexual que ocorreram a partir de 2000, estabeleceram novas políticas e procedimentos, incluindo a criação da NRB. Além disso, acrescentou que estas ações resultaram em uma "diminuição significativa" dos incidentes de abuso, mas os problemas subjacentes continuam sem ser abordados.
"A National Review Board expressou durante vários anos a sua preocupação de que os bispos não se tornem solícitos em sua resposta ao abuso sexual cometido pelo clero. As recentes revelações deixam claro que o problema é muito mais profundo. Estamos tristes, indignados e feridos pelo que aprendemos nas últimas semanas".
A declaração indica que "o mal dos crimes que foram cometidos" atinge os "níveis mais altos da hierarquia" e não pode ser abordado simplesmente com mudanças de procedimento e estruturais.
"Este mal foi o resultado de uma perda de liderança moral e um abuso de poder que levou a uma cultura de silêncio que permitiu que ocorressem estes incidentes. A intimidação, o medo e uso indevido da autoridade criaram um ambiente que foi aproveitado pelos sacerdotes, incluindo bispos, que causaram danos aos menores, aos seminaristas e aos mais vulneráveis", continua.
A necessidade de responsabilizar os bispos requer, de acordo com a declaração, uma "revisão independente" de seus atos "depois de qualquer acusação e isso só pode ser garantido se o confiamos aos leigos".
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"A NRB, formada exclusivamente por membros leigos, seria o grupo lógico para participar desta tarefa", acrescenta a declaração.
A comissão recomendou a criação de uma política anônima de denúncias, refletindo algumas estruturas corporativas e do setor público, o que proporcionaria um mecanismo claro e dirigido por leigos para informar sobre uma acusação ao bispo competente, às autoridades do Vaticano e às forças da ordem pública.
As políticas existentes também deveriam ser revisadas, disse a comissão, incluindo a Carta para a Proteção das Crianças e dos Jovens.
Ao classificar o documento como "útil", a NRB disse que era um "documento vivo" que precisava de uma revisão contínua à luz da experiência.
Atualmente, não existe nenhum mecanismo ou política clara da USCCB para lidar com o abuso além de um documento chamado "Compromisso Episcopal", que os bispos aceitaram cumprir. Entretanto, este documento não tem força vinculante.
As recomendações da comissão disseram que este documento é "ineficaz" e que deve haver "passos concretos" para a correção fraterna quando um bispo é acusado de abuso ou de não responder a uma acusação.
Ao mesmo tempo, explica que é necessário que haja uma formação clara de novos bispos sobre a sua responsabilidade como "líderes morais" para responder às acusações, acrescentando que atualmente esta liderança não existe.
A declaração terminou dizendo que a Nation Review Board consideraria fazer mais recomendações nas próximas semanas e continuaria a trabalhando com a USCCB.
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— ACI Digital (@acidigital) 30 de agosto de 2018