Vilnius, 22 de set de 2018 às 13:15
O Papa Francisco teve um encontro com jovens lituanos na praça da Catedral de Vilnius, diante dos quais incentivou a seguir Cristo.
“Vale a pena seguir Cristo!”, exclamou. “Seguir Jesus é uma aventura apaixonante que enche de significado a nossa vida, faz-nos sentir parte duma comunidade que nos encoraja e acompanha, compromete-nos no serviço”.
A seguir, o texto completo do discurso do Papa Francisco aos jovens:
Obrigado, Mónica e Jonas, pelo vosso testemunho! Recebi-o como vindo de um amigo, como se estivéssemos juntos sentados nalgum bar, contando as coisas da vida, tomando uma cerveja ou uma ghira, depois de ter estado no Jaunimo Teatras.
Mas a vossa vida não é uma obra teatral; é real, concreta, como a de cada um de nós que estamos aqui, nesta bela praça situada entre estes dois rios. E tudo isto talvez nos possa servir para reler as vossas histórias e, nelas, descobrir a passagem de Deus... Porque Deus passa sempre na nossa vida.
Como esta catedral, atravessastes situações que vos levavam ao colapso, incêndios dos quais parecia não poderdes mais recuperar. Várias vezes este templo foi devorado pelas chamas, ruiu, mas sempre houve aqueles que decidiram reconstruí-lo, não se deixaram vencer pelas dificuldades, não deixaram cair os braços. A própria liberdade da vossa pátria está construída sobre aqueles que não se deixaram abater pelo terror e a desgraça. A vida, a condição e a morte do teu pai, Mónica, e a tua doença, Jonas, poderiam ter-vos destroçado; e todavia estais aqui a partilhar a vossa experiência com um olhar de fé, fazendo-nos descobrir que Deus vos deu a graça para suportar, levantar-vos, continuar a caminhar na vida.
Como se derramou em vós esta graça de Deus?
Através de pessoas que cruzaram a vossa vida, pessoas boas que vos nutriram com a sua experiência de fé. Mónica, a tua avó e a tua mãe, a paróquia franciscana foram para ti como a confluência destes dois rios: tal como o rio Vilna se junta ao Neris, assim tu te agregaste, te deixaste conduzir por esta corrente de graça. Porque o Senhor salva, fazendo-nos parte dum povo. Ninguém pode dizer: «Eu salvo-me sozinho»; mas estamos todos interligados, «em rede». Deus quis entrar nesta dinâmica de relações e atrai-nos a Si em comunidade, dando à nossa vida um sentido pleno de identidade e pertença (cf. Exort. ap. Gaudete et exsultate, 6). Também tu, Jonas, encontraste nos outros, na tua esposa e na promessa feita no dia do matrimónio, motivo para prosseguir, lutar, viver. Não permitais que o mundo vos faça crer que é melhor caminhar sozinhos. Não cedais à tentação de vos concentrar em vós próprios, de vos tornar egoístas ou superficiais perante a dor, as dificuldades ou o sucesso passageiro. Reafirmemos que, «aquilo que acontece ao outro, acontece a mim»; andemos contracorrente relativamente a este individualismo que isola, que nos torna egocêntricos e vaidosos, preocupados apenas com a imagem e o próprio bem-estar.
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Apostai na santidade a partir do encontro e comunhão com os outros, atentos às suas necessidades (cf. ibid., 146). A nossa verdadeira identidade pressupõe a pertença a um povo. Não existem identidades «de laboratório», nem identidades «destiladas». Cada um de nós conhece a beleza mas também a fadiga e, muitas vezes, a tribulação de pertencer a um povo. Aqui está enraizada a nossa identidade; não somos pessoas sem raízes.
Ambos lembrastes também a vossa presença no coro, a oração em família, a Missa, a catequese e a ajuda aos mais necessitados; são armas poderosas que o Senhor nos dá. A oração e o canto, para não nos fecharmos na imanência deste mundo: anelando por Deus, saístes de vós mesmos e pudestes contemplar com os olhos de Deus aquilo que acontecia no vosso coração (cf. ibid., 147); praticando a música, abristes-vos à escuta e à interioridade, deixastes-vos assim tocar na sensibilidade e isto é sempre uma boa oportunidade para o discernimento (cf. Sínodo dedicado aos jovens, Instrumentum laboris, 162). Certamente a oração pode ser uma experiência de «combate espiritual», mas é nela que aprendemos a escutar o Espírito, discernir os sinais dos tempos e recuperar as forças para continuar a anunciar hoje o Evangelho. De que outra forma poderíamos lutar contra o desânimo à vista das dificuldades próprias e alheias, face aos horrores do mundo? Sem a oração, como faríamos para não pensar que tudo depende de nós, que estamos sozinhos numa luta corpo a corpo com a adversidade? «Jesus e eu, maioria absoluta»: dizia Santo Alberto Hurtado. E o encontro com Ele, com a sua palavra, com a Eucaristia lembra-nos que não importa a força do adversário; não importa se fica em primeiro lugar o Žalgiris Kaunas ou o Vilnius Rytas; não é o resultado que importa, mas que esteja conosco o Senhor.
Serviu-vos de apoio na vida também a experiência de ajudar os outros, descobrir que há pessoas ao nosso redor que estão mal, até muito pior do que nós. Mónica, falaste-nos do teu compromisso com as crianças deficientes. Ver a fragilidade dos outros situa-nos na realidade, impede-nos de viver debruçados sobre as nossas feridas. Quantos jovens deixam o próprio país por falta de oportunidades! Quantos são vítimas da depressão, do álcool e das drogas! Quantos idosos sozinhos, sem alguém para partilhar o presente e com medo que retorne o passado. Vós podeis responder a estes desafios com a vossa presença e com o encontro entre vós e os outros. Jesus convida-nos a sair de nós mesmos, a arriscar «cara a cara» com os outros. É verdade que acreditar em Jesus implica muitas vezes dar um salto de fé no vazio, e isto causa medo. Outras vezes, leva-nos a questionar-nos a nós mesmos, a sair dos nossos esquemas, e isto pode fazer-nos sofrer e deixar-nos tentar pelo desânimo. Porém, sede corajosos! Seguir Jesus é uma aventura apaixonante que enche de significado a nossa vida, faz-nos sentir parte duma comunidade que nos encoraja e acompanha, compromete-nos no serviço. Queridos jovens, vale a pena seguir Cristo, não tenhamos medo de participar na revolução a que Ele nos convida: a revolução da ternura (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 88).
Se a vida fosse uma ópera de teatro ou um videojogo, apareceria circunscrita num tempo preciso, com um começo e um fim quando se corre a cortina do teatro ou alguém ganha o jogo. Mas a vida mede outros tempos, a vida joga-se em tempos referidos ao coração de Deus; umas vezes avança-se, outras recua-se, provam-se e tentam-se novas estradas, alteram-se. A indecisão parece nascer do medo que feche a cortina do teatro, ou que o cronómetro nos deixe fora do jogo, impedindo-nos de subir uma fase no mesmo. Pelo contrário, a vida é sempre um caminhar procurando a direção certa, sem medo de voltar para trás se se tiver errado. O perigo maior é confundir o caminho com um labirinto: girar sem sentido pela vida, girar sobre si mesmo, sem tomar a estrada que faz avançar. Não sejais jovens do labirinto, donde é difícil sair, mas jovens a caminho.
Não tenhais medo de optar por Jesus, abraçar a sua causa, a causa do Evangelho. Porque Ele nunca descerá do barco da vossa vida, estará sempre na encruzilhada das nossas estradas, não cessará jamais de nos reconstituir, mesmo que às vezes nos empenhemos a demolir-nos. Jesus presenteia-nos com tempos amplos e generosos, onde há espaço para os fracassos, onde ninguém precisa de emigrar, porque há lugar para todos. Muitos quererão ocupar os vossos corações, infestar os campos das vossas aspirações com as ervas daninhas, mas no final, se dermos a vida ao Senhor, vencerá sempre o trigo bom.
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— ACI Digital (@acidigital) 22 de setembro de 2018