Roma, 5 de out de 2018 às 18:00
O Arcebispo de Agrigento (Itália), Cardeal Francesco Montenegro, presidiu a cerimônia que encerrou a fase diocesana do processo de beatificação e canonização do juiz Rosario Angelo Livatino, assassinado pela máfia em 1990, aos 38 anos.
A cerimônia aconteceu no dia 3 de outubro, na igreja de Santo Afonso, onde foi apresentado o dossiê de mais de quatro mil páginas que será enviado à Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano, onde seguirá o processo.
Entre os mais de 45 testemunhos recolhidos está o de um dos quatro assassinos, Gaetano Puzzangaro, que foi entrevistado na prisão.
“Acredito que a presença do juiz Livatino é como a de um sol que brilha nesta terra, onde estamos habituados a ressaltar a escuridão. Nosso esforço deve ser para chegar à essa luz”, disse o Cardeal Montenegro na cerimônia, segundo informa o jornal Avvenire, dos bispos italianos.
Agora, “confiamos todo este trabalho ao amor misericordioso de Deus. Querendo recordar uma das frases típicas do juiz Livatino, nós o colocamos “sob a tutela de Deus”, sob seu olhar de Pai que segue nos indicando na justiça o caminho seguro para encontrar a salvação”, ressaltou o Cardeal.
“Sob a tutela de Deus” é uma frase escrita em latim n caderno que foi encontrado junto ao corpo do juiz, assassinado pela Stidda, a máfia que ordenou sua morte.
Livatino costumava se referir a esta frase em alguns documentos com as iniciais “STD” (Sub Tutela Dei, em latim).
Para compreender por que Livatino deve chegar aos altares, continuou o Cardeal, é necessário olhar a “bússola” nas palavras de São João Paulo II, que o definiu como “mártir da justiça e, por isso, indiretamente, da fé”.
O Cardeal ressaltou que o Papa peregrino “orientava a buscar o motor que havia motivado Livatino não só na causa da justiça humana, mas na fé cristã, o líder de sua vida como um operador de justiça. Impulsionado por ela, pôde consumar toda a sua vida”.
O Purpurado disse que Livatino deixa para o mundo de hoje duas mensagens muito atuais. “Se durante décadas fomos contaminados pela máfia e pela mentalidade mafiosa – e em parte continuamos sendo –, a figura de Livatino nos recorda que é possível vencer a máfia apenas se contarmos com o esforço e a coragem de todos”.
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A segunda mensagem é que, para “chegar a ser santos, não devemos nos afastar de nossos compromissos, mas devemos sujar as mãos em nossos trabalhos diários, tentando manter limpo a veste batismal. Livatino, para nós, é uma expressão de um cristão baseado na união com Deus e o serviço ao homem, de oração e ação, de silêncio contemplativo e de coragem heroica”.
Rosario Angelo Livatino nasceu em 3 de outubro de 1952, em Canicatti, na província italiana de Agrigento. Decidiu seguir a mesma carreira que seu pai e ingressou na faculdade de Direito de Palermo. Terminou seus estudos de advocacia aos 22 anos com as melhores qualificações.
“Hoje, fiz o juramento. A partir de hoje, estou na magistratura. Que Deus me acompanhe e me ajude a respeitar o juramento e a me comportar no modo que exige a educação que meus pais me deram”, escreveu em seu diário quando começou a trabalhar como juiz.
Em 21 de agosto de 1989, foi nomeado juiz da seção de prevenção do Tribunal de Agrigento. Nesse posto, teve sob sua responsabilidade vários processos contra membros da máfia condenados à prisão perpétua.
Em 21 de setembro de 1990, foi interceptado por quatro sujeitos enquanto conduzia sozinho o seu carro. Livatino conseguiu sair do carro e tentou correr enquanto os indivíduos o seguiam atirando. Ferido, aproximou-se da margem da estrada e um dos assassinos se aproximou para mata-lo. O homem que finalmente acabou com a vida do juiz foi Gaetano Puzzangaro, que pronunciou um dos testemunhos para a causa de beatificação do magistrado.
Segundo indica a mídia local, a causa já conta com dois possíveis milagres que poderiam ser investigados. O primeiro é o de uma mulher de Puglia que estava com leucemia e disse que se curou após uma suposta aparição do juiz.
O segundo caso é o de Elena Valdetara Canale, também com leucemia. Após ver uma foto de Livatino, encomendou-se à intercessão do juiz em 1993 e afirma que ficou completamente curada.
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— ACI Digital (@acidigital) 15 de setembro de 2018