Sobre um muro em Lima, Peru, existe uma pintura de Jesus que sobreviveu a vários fortes terremotos, uma das razões pelas quais é considerada milagrosa e, até hoje, é muito venerada pelos católicos. Esta é sua história.

Por volta de 1650, um escravo de origem angolana, que segundo a tradição se chamava Bento, pintou uma imagem de Jesus crucificado na parede de uma casa no povoado de Pachacamilla, nos arredores de Lima.

Pintura original do Senhor dos Milagres / Foto: Domínio público

Cinco anos depois, aconteceu um terremoto de 7 graus que destruiu muitas construções da cidade. Entretanto, os habitantes descobriram que o muro no qual estava pintada a imagem não tinha caído e isso foi considerado um milagre.

As pessoas começaram a venerar a imagem e as autoridades civis e religiosas decidiram proibir o seu culto, ordenando apagar a pintura por medo de que fossem realizados atos pagãos.

Segundo a tradição, a primeira pessoa que tentou apagá-la fugiu porque sentiu calafrios ao tentar fazê-lo. A segunda ficou com o braço paralisado quando ia realizar o trabalho e a terceira, que era um soldado, desistiu quando se aproximou da imagem e viu que se tornava mais bela e a coroa de espinhos de Cristo adquiria uma cor verde.

Em 1661, um homem chamado Antonio de León mandou reforçar o muro onde a imagem estava como um gesto de agradecimento a Cristo pela cura de um tumor maligno.

O vice-rei Pedro Antonio Fernández de Castro chegou a um acordo com as autoridades eclesiásticas para que a imagem fosse venerada em seu local original e para que uma ermida provisória fosse erguida.

Quando foi concluída, em 14 de setembro de 1671, celebrou-se a primeira Missa da qual participaram autoridades civis e religiosas e um grande número de fiéis. Desde então, centenas de pessoas começaram a visitar o lugar para rezar e passaram a chamar a imagem de “Santo Cristo dos Milagres”.

Em 20 de outubro de 1687, aconteceu em Lima um segundo terremoto, desta vez de 8 graus, que, segundo contam os cronistas da época, durou 15 minutos. No dia seguinte, 21 de outubro, ocorreu outro terremoto de 8,4 graus, que provocou um tsunami que arrasou o porto de Callao e deixou cerca de 500 mortos.

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Os sismos derrubaram a ermida, mas o muro onde estava a pintura ficou intacto. Então, um homem chamado Sebastián Antuñano organizou a primeira procissão com uma réplica da pintura para pedir a Deus que protegesse a cidade. O percurso foi até a Praça Maior.

A Arquidiocese de Lima afirmou que “tem a certeza de que aquela réplica é a mesma que hoje em dia continua nos acompanhando nos meses de outubro em seu percurso pela grande Lima”. Esta tela foi restaurada em 1991 por um grupo de especialistas do Museu Pedro de Osma.

No dia 21 de setembro de 1715, o Cabildo de Lima declarou o Senhor dos Milagres como “Patrono Juiz pela Cidade dos Reis contra os temores que assolam a terra”.

A Arquidiocese de Lima indicou que em 1720 o rei Felipe V autorizou a construção do Mosteiro das Nazarenas, ao lado da capela que Sebastián Antuñano mandou edificar sobre a imagem original e, sete anos depois, o Papa Bento XIII emitiu uma bula na qual aprovava o projeto.

No dia 28 de outubro de 1746, um sismo de 8,6 graus sacudiu a cidade de Lima e destruiu o porto de Callao. A imagem do Senhor dos Milagres ficou intacta novamente e, em 1771, foi inaugurado o novo templo que permanece de pé até a atualidade e que foi restaurado.

A devoção ao Senhor dos Milagres permanece até os dias de hoje e sua festa é celebrada em 28 de outubro. Durante todo esse mês, são realizadas procissões em Lima e em vários países do mundo.

Em 2001, São João Paulo II enviou uma carta ao Cardeal Juan Luis Cipriani, Arcebispo de Lima, pelos 350 anos da venerada imagem.

Em janeiro de 2018, o Papa Francisco se reuniu com 550 religiosas contemplativas de todo o Peru no Santuário das Nazarenas. Além disso, para a Missa final, presidida pelo Pontífice na Base Aérea Las Palmas, a imagem original do Senhor dos Milagres foi entronizada no altar principal.

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