Vaticano, 24 de out de 2018 às 15:30
O Papa Francisco conversou com jovens e idosos na terça-feira, 23 de outubro, em um encontro intergeracional realizado no Instituto Augustinianum, em Roma, organizado pela editora italiana Marsilio. A escuta entre as gerações, a transmissão da fé aos jovens ou a ajuda aos migrantes foram alguns temas mencionados.
O objetivo do evento foi promover a venda do livro ‘La saggezza del tempo' (A Sabedoria do Tempo'), escrito por Pe. Antonio Spadaro, diretor da revista jesuíta ‘La Civiltà Cattolica’, que recolhe testemunhos de idosos em diferentes países do mundo e o comentário do Santo Padre em resposta a cada um deles.
Como viver em uma sociedade que se move pela violência
No encontro, o Papa respondeu a algumas perguntas do público, entre eles o cineasta americano Martin Scorsese, que perguntou como se pode viver uma vida boa e justa em uma sociedade que parece se mover pela ganância e pela violência.
"Diante da violência, da crueldade, da destruição da dignidade humana, o choro é cristão", respondeu o Papa.
E incentivou "a pedir o dom das lágrimas, porque chorar abre o coração é uma fonte de inspiração. Chorem. Jesus chorou nos momentos mais difíceis da sua vida. No momento que ele viu o fracasso do seu povo, chorou diante de Jerusalém".
Em seguida, a italiana Federica Ancona, de 26 anos, perguntou como pode ter uma vida feliz. O Papa respondeu-lhe: “Com o gesto de estender e abrir a mão”.
Frente a uma cultura da hipocrisia e do fechamento, o Papa propôs “a cultura da convivência”, da fraternidade e do serviço, porque implica “abrir e sujar as mãos”. “Você quer ser feliz? Então estenda, abra e suje a sua mão”.
Como transmitir a fé aos filhos
Além disso, o casal maltês Tony e Grace Naudi, de 71 e 65 anos, perguntou como eles, como pais e avós, podem transmitir a fé aos seus filhos e netos e evitar que renunciem ao caminho da fé.
O Pontífice respondeu recordando que "a fé sempre é transmitida na linguagem. A linguagem da família, a linguagem da amizade, a linguagem da proximidade".
Também sublinhou que "a fé sempre é transmitida em casa. São precisamente os avós que, nos momentos mais difíceis da história, transmitiram a fé. Pensemos nas perseguições da fé que ocorreram no século passado. Durante as ditaduras e genocídios que todos conhecemos... Os avós ensinavam escondidos aos netos a rezar e os levavam para serem batizados. Eles tiveram uma grande responsabilidade nestes momentos de perseguição".
Destacou ainda que para transmitir a fé "não é suficiente ler o catecismo, porque a fé não é só o conteúdo, é a maneira de viver, avaliar, de alegrar-se, de entristecer-se, de chorar... há um ensinamento de vida".
Além disso, rejeitou a tentação de proselitismo, "não se trata de convencer, porque a fé e a Igreja não crescem por proselitismo, mas por atração, ou seja, através do testemunho". Nesse sentido, destacou a importância do silêncio, “mas um silêncio que acompanha, não um silêncio que acusa”.
Pelo contrário, existe o "testemunho ruim, a maioria por parte de pessoas da Igreja como sacerdotes neuróticos ou pessoas que se dizem católicas, mas levam uma vida ruim". Esse testemunho ruim é aquele que afasta as pessoas da fé, assegurou o Pontífice.
Como conselho aos pais que viram como seus filhos se afastavam da fé, propôs que eles agissem “com muito amor, muita ternura, testemunho, paciência e oração. E nunca discutam”.
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Como incentivar os jovens a confiar na vida
Rosemary Lane, uma americana de 30 anos, perguntou ao Santo Padre o que ele diria aos jovens que querem confiar na vida, que querem construir um futuro à altura dos seus sonhos.
"Eu diria que eles comecem a sonhar e sonhar descaradamente e sem sentir nenhuma vergonha", respondeu o Pontífice.
E acrescentou: “Defender os sonhos como se defende os filhos”. “Quando você tem um sonho, guarda-o e o defende dentro de si para que a cotidianidade não o leve embora”. Também incentivou a “levar os sonhos dos idosos. Não basta ouvi-los, escrevê-los e ir embora para se divertir. É necessário levar os sonhos dos idosos conosco. É uma responsabilidade que muda o seu coração, isso fará você crescer, amadurecer”.
O problema dos populismos
Fiorella Bacherini, uma italiana de 83 anos, mencionou ao Papa o problema dos populismos e como aqueles que querem semear o ódio usam o drama dos refugiados para alcançar os seus objetivos.
O Pontífice foi muito claro e afirmou que os jovens "precisam saber como cresce o populismo" e encorajou a estudar a ascensão ao poder de ditadores como Hitler na Alemanha na década de 1930. "Para que entendam como começou o populismo", destacou.
"Não se pode viver semeando ódio. Pensemos na história das religiões, na reforma protestante, como semeamos ódio de ambos os lados. E no decorrer do tempo percebemos que esse não era o caminho e agora estamos semeando gestos de amizade e não de ódio".
O Papa insistiu: "Semear o ódio é fácil, e não precisamos olhar para o cenário internacional, aqui mesmo, nos bairros, no nosso dia a dia. O ódio é semeado com comentários ruins, com a fofoca... Isso é matar. É matar a fama do outro, matar a paz e a concórdia na família, no bairro, no lugar de trabalho".
Sobre o drama da migração, perguntou: "O que se pode fazer quando vejo que o Mediterrâneo é um cemitério? De verdade: sofro, rezo, falo. Não podemos aceitar este sofrimento".
Recordou que “ajudar o migrante é um mandato bíblico, porque ‘você mesmo foi migrante no Egito’. E pensamos: a Europa foi feita de migrantes. E ser conscientes de que em alguns momentos ruins do passado, outros países receberam migrantes europeus".
Nesse sentido, recordou: "Eu sou filho de migrantes que foram para a Argentina. Na América, há muitas pessoas com nome italiano. Migrantes recebidos com o coração e os braços abertos".
Finalmente, insistiu que os imigrantes não deveriam ser somente acolhidos, mas também integrados.
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Os avós são um tesouro na família, recorda Papa Francisco https://t.co/w8bVfItmrj
— ACI Digital (@acidigital) 26 de julho de 2018