Ameaçam processar mulher de 85 anos por pintar a Virgem de Guadalupe

FLORIDA, 10 de dez de 2018 às 13:50

Um parque de casas móveis na Flórida, Estados Unidos, está ameaçando processar Millie Francis, uma mulher de 85 anos que pintou uma imagem da Virgem de Guadalupe em frente o seu trailer.

Os advogados do Bradenton Tropical Palms enviaram a Francis um aviso em 9 de novembro de que ela tinha 30 dias para retirar a pintura ou enfrentaria um processo, informou o ‘Bradenton Herald’.

"Eles teriam que me matar primeiro. Não podem dizer a esta mulher idosa o que deve fazer. Isso é a América. Enquanto tiver os dois braços e as duas pernas, eu farei isso", respondeu Francis alguns dias antes de receber a notificação da administração do parque.

A mulher disse que se sente abençoada por estar viva, depois de quase ter morrido durante uma cirurgia há 16 anos, na qual afirma ter sido declarada clinicamente morta por 15 minutos.

A sua devoção à Igreja e à Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América, permaneceu forte e disse que irá ao tribunal, se for necessário, pois não pretende retirar a sua pintura.

A imagem foi feita em um pedaço de compensado que substituiu uma janela que Francis havia retirado da sua casa. A senhora disse que queria substituir a janela por compensado por causa de um vizinho intrometido e porque a luz das lanternas dos seguranças a incomodava à noite.

Além disso, indicou que teve permissão para retirar a janela de Vanguard Property Management, que administra Bradenton Tropical Palms, parque de trailers para pessoas com mais de 55 anos, onde ela mora.

A inspiração de fazer a pintura foi durante uma Missa, quando estava rezando sobre o que fazer com o pedaço de madeira compensada que cobriria o espaço vazio, explicou Francis.

"Não quero dizer que tive uma visão ou algo assim, mas me senti iluminada e recebi a inspiração de Nossa Senhora de Guadalupe para pintar a sua imagem. Então prometi que faria isso", disse ao ‘Bradenton Herald’.

Janet Nowakowski, uma administradora de propriedades de Vanguard com sede em Tampa, exigiu que Francis retirasse o compensado pintado, supostamente porque Francis não havia completado o "projeto de remoção das janelas" antes de 31 de outubro, segundo o seu acordo com a administração da propriedade.

Os representantes de Vanguard também disseram aos repórteres que Francis não preencheu um formulário de requerimento arquitetônico nem solicitou permissão do comitê de revisão arquitetônica do parque de caravanas antes de pintar a Virgem Maria.

Por sua parte, Francis disse que a retirada da janela terminou a tempo e acredita que a ordem para remover a imagem de madeira compensada é um ato de discriminação contra sua fé católica.

Outros vizinhos decoraram o gramado e reboque com várias coisas diferentes e a sua pintura "não está causando danos a ninguém", assegurou.

"Há muitas coisas por aí, mas isso é porque eu sou católica e está errado. Com todas as coisas que acontecem no mundo, acho que haveria coisas mais importantes do que se preocupar com isso", acrescentou Francis.

De acordo com os relatórios do jornalista Mark Young no ‘Bradenton Herald’, “os documentos indicam que Francis tinha permissão do comitê para substituir a janela" e "que não só concluiu o projeto dentro do prazo, mas que não há nada nas regras do parque com relação à decoração” que a prejudique.

CNA – agência em inglês do Grupo ACI – entrou em contato com o parque de trailers a fim de ter uma cópia das suas regras de propriedade, mas não recebeu uma resposta até o momento da publicação.

Mais de 22 milhões de americanos vivem em casas pré-fabricadas, informou o Instituto de Habitação Manufaturada. Os residentes de casas pré-fabricadas têm uma renda anual média de menos de 30 mil dólares.

Francis acredita que seguiu as regras do parque de casas móveis onde ela vive. Enquanto o "estresse de ir ao tribunal" está afetando a sua saúde, a mulher idosa assegura que pretende decorar para o Natal e iluminar a imagem.

Por outro lado, indicou que não pretende pedir novamente permissão para o projeto e pediu ajuda aos Cavaleiros de Colombo através da sua paróquia, Igreja Católica do Sagrado Coração.

"Eu simplesmente não entendo nada sobre estes temas legais. Eles dizem que terei que pagar os honorários de seus advogados se vencerem no tribunal. Eu não posso permitir isso. Eu preciso de ajuda e não sei o que acontecerá comigo, mas sei que não vou retirá-la (a imagem)", disse ao ‘Bradenton Herald’.

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— ACI Digital (@acidigital) 20 de agosto de 2018