PANAMÁ, 25 de jan de 2019 às 13:48
O Papa Francisco presidiu uma liturgia penitencial no Centro Correcional de Menores Las Garças de Pacora, localizado a cerca de 400 quilômetros da Cidade do Panamá.
O diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti, explicou em 18 de janeiro que “é a primeira vez em uma Jornada Mundial da Juventude que acontece uma liturgia penitencial em uma prisão", e que "o Papa quis dar uma atenção especial para estes jovens que não podem sair para participar".
A seguir, a homilia completa do Santo Padre:
«Este acolhe os pecadores e come com eles» (Lc 15, 2), acabamos de ouvir no início do trecho evangélico. Assim murmuravam alguns fariseus e escribas, muito escandalizados e incomodados com o comportamento de Jesus.
Pretendiam, com esta afirmação, desqualificá-Lo e desacreditá-Lo à vista de todos, mas tudo o que conseguiram fazer foi destacar um dos seus procedimentos mais comuns e caraterísticos: «Este acolhe os pecadores e come com eles».
Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos se enriqueciam roubando o seu próprio povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15, 7).
Enquanto aqueles se limitavam a murmurar ou indignar-se, bloqueando e fechando assim qualquer possibilidade de mudança, conversão e inclusão, Jesus aproxima-Se, compromete-Se (coloca em risco a sua reputação) e sempre convida a fixar um horizonte capaz de renovar a vida e a história. Dois olhares muito diferentes, que se contrapõem: um olhar estéril e infecundo – o da murmuração e bisbilhotice – e o outro que convida à transformação e conversão – o do Senhor.
O olhar da murmuração e bisbilhotice
Muitos não suportam nem gostam desta opção de Jesus; antes, manifestam o seu descontentamento, inicialmente por entre dentes mas no final aos gritos, procurando desacreditar o seu comportamento e o de quantos estão com Ele. Não aceitam e rejeitam esta opção de estar próximo e oferecer novas oportunidades. Sobre a vida do povo, parece-lhes mais fácil colocar etiquetas e rótulos que congelam e estigmatizam não só o passado, mas também o presente e o futuro das pessoas. Rótulos que, em última análise, nada mais produzem senão divisão: daqui os bons, além os maus; daqui os justos, além os pecadores.
Este procedimento contamina tudo, porque levanta um muro invisível que faz pensar que marginalizando, separando e isolando resolver-se-ão, magicamente, todos os problemas. E, quando uma sociedade ou comunidade se decide por isso, limitando-se a criticar e murmurar, entra num círculo vicioso de divisões, censuras e condenações; entra numa conduta social de marginalização, exclusão e oposição tal que leva a dizer irresponsavelmente como Caifás: «Convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira» (Jo 11, 50). E, normalmente, a corda quebra pelo ponto mais fraco: o dos mais frágeis e indefesos.
Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação!
O olhar da conversão
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Ao invés, todo o Evangelho está marcado pelo outro olhar que nasce precisamente do coração de Deus. O Senhor quer fazer festa quando vê os seus filhos que regressam a casa (Lc 15, 11-32). Assim o testemunhou Jesus, levando até ao extremo a manifestação do amor misericordioso do Pai. Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação. Comendo com publicanos e pecadores, Jesus quebra a lógica que separa, exclui, isola e divide falsamente entre «bons e maus». E fá-lo, não por decreto ou com boas intenções, nem com voluntarismos ou sentimentalismo, mas criando vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível.
Deste modo quebra também com outra murmuração difícil de detectar, que «fura os sonhos» pois repete como sussurro contínuo: tu não consegues, não consegues… É o murmúrio interior que brota em quem, tendo chorado o seu pecado e consciente do próprio erro, não crê que possa mudar. É quando se está intimamente convencido que aquele que nasceu «publicano» tem que morrer «publicano»; e isto não é verdade!
Amigos, cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão. Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar. O seu olhar desafia-nos a pedir e procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação. Por vezes a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que impelem a olhar para diante e não aquelas que vos desencorajam.
A alegria e a esperança do cristão – de todos nós, também do Papa – nasce de ter experimentado alguma vez este olhar de Deus que nos diz: tu fazes parte da minha família e não posso abandonar-te às intempéries, não posso perder-te pelo caminho, estou contigo aqui. Aqui? Sim, aqui. Nasce de ter sentido – como partilhaste tu, Luís – que, naqueles momentos em que tudo parecia ter acabado, algo te disse: Não! Não está tudo acabado, porque tens uma finalidade grande que te permite entender que Deus Pai estava e está com todos nós e nos dá pessoas para caminhar conosco e ajudar-nos a alcançar novas metas.
E, assim, Jesus transforma a murmuração em festa e diz-nos: «Alegrai-vos comigo!» (Lc 15, 6).
Irmãos, vós fazeis parte da família, tendes muito para partilhar. Ajudai-nos a saber qual é a melhor maneira para viver e acompanhar o processo de transformação de que todos, como família, temos necessidade.
Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de novo. Todos nos devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar estes caminhos. É uma aliança que temos de nos animar a realizar: vós, rapazes, os responsáveis pela custódia e as autoridades do Centro e do Ministério, e as vossas famílias, bem como os agentes pastorais. Todos juntos, lutai sem cessar por encontrar caminhos de inserção e transformação. Isto, o Senhor o abençoa, sustenta e acompanha.
Em breve, continuaremos a Celebração Penitencial, na qual todos poderemos experimentar o olhar do Senhor, que vê, não um rótulo ou uma condenação, mas filhos. Olhar de Deus que desmente as desqualificações e nos dá a força para criar as alianças necessárias que nos ajudem a desmentir as murmurações, alianças fraternas que permitam à nossa vida ser sempre um convite à alegria da salvação.
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