O Administrador Apostólico de Caracas, Cardeal Baltazar Porras, descartou a possibilidade de uma nova mediação da Santa Sé para solucionar a crise na Venezuela, depois que o presidente Nicolás Maduro divulgou uma carta enviada ao Papa Francisco com este pedido.

"Acredito que as circunstâncias dizem que não. Por quê? Porque é um chamado com uma página em branco para conversar, mas para conversar sobre o quê, não há agenda prévia", disse o Cardeal Porras à Rádio Continental da Argentina na quarta-feira, 6 de fevereiro.

O Cardeal lembrou que em ocasiões anteriores, quando o Vaticano participou como facilitador do diálogo, o que conseguiu do governo de Maduro foi "um deboche. Realmente temos que chamar assim as vezes em que o Vaticano foi convocado. O Papa quis de boa vontade enviar alguém, e não se alncaçou nada”.

Além disso, a intenção do regime de buscar "uma saída de fachada" torna a mediação vaticana "inviável", indicou.

Na coletiva de imprensa que concedeu no voo de regresso a Roma, depois de visitar os Emirados Árabes Unidos, o Papa Francisco disse que, para que a mediação ocorra, "é necessária a vontade de ambas as partes, ambas as partes pedindo. Esse foi o caso da Argentina e do Chile" que evitaram uma guerra em 1978.

Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, não solicitou a mediação do Vaticano. Enquanto isso, a cada dia mais países o reconhecem como mandatário legítimo.

Na entrevista à Rádio Continental, o Cardeal Porras também afirmou que "já é tradicional deste governo, quando se sente apertado, com água no pescoço, chamar seus amigos", entre os quais "países que não são totalmente confiáveis na causa da democracia". "Esse não é o caminho", acrescentou.

Quando perguntado se há alguma diferença ou distanciamento entre os bispos venezuelanos e a Santa Sé, o Cardeal explicou que "há uma unidade de critério e atuação plena e total, e uma relação permanente entre o Vaticano e nós". "Temos o apoio total e completo do Santo Padre", destacou.

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"O que acontece é o seguinte, cada um tem que cumprir o seu papel. Os primeiros que temos que dar a cara somos nós. Nós dissemos ao governo através do porta-voz da conferência episcopal que está bem que queiram se dirigir ao Santo Padre, mas primeiro deveriam passar por nós, porque há uma total sintonia e não há nada que farão lá que seja diferente”.

"Os que temos a primeira opção (de diálogo) somos os que estamos vivendo a situação que sofremos”, assinalou o Arcebispo.

O Cardeal disse que, com sua carta ao Papa, Maduro só procura "ganhar tempo", especialmente quando o povo da Venezuela sai às ruas em busca de "uma saída pacífica" para a grave crise do país.

"A situação piora a cada dia no nível social, porque estamos em um processo como um tobogã, em queda, pelos preços não só dos alimentos e medicamentos, como também pela falta de respeito aos direitos humanos", lamentou o Administrador Apostólico de Caracas.

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